Durante um sábado gelado de janeiro, com temperatura negativa, beirando -15 graus Celsius, fizemos um passeio de carro até a pequena cidade de Sigulda, no noroeste da Letônia. Situada a 54km de Riga, Sigulda é o centro turístico da região, considerada a pequena Suíça dos bálticos. A neve que caia sem parar quando chegamos deixando a paisagem branquinha e congelante com certeza parecia ter saído de um cartão postal suíço. Os prédios soviéticos espalhados em cada canto da cidadezinha, no entanto, anunciavam logo na entrada que estávamos sim visitando um pedacinho de uma república da ex-União Soviética. No coração de Sigulda encontram-se dois castelos históricos e adorados pelos letões. Aliás, toda esta região em torno do parque nacional de Gauja é um baú de surpresas com construções medievais e grutas no meio das rochas.
No auge da história da Letônia, cercado por muralhas de pedra, durante séculos o castelo de Sigulda serviu como residência e fortaleza para a nobreza da Ordem da Livônia. Esta obra de arte medieval é o castelo de pedra mais antigo do distrito e remonta ao século XIII, quando a Ordem da Livônia ordenou a construção da gigante fortaleza. Localizado no alto do vale de Gauja sua edificação iniciou entre 1207 e 1209. Ao longo dos séculos o castelo viu suas paredes de três metros de espessura desmoronarem durante inúmeras batalhas e conflitos.
No início da guerra da Livônia durante os anos de 1500 o castelo foi danificado mas isso não impediu que parte do Ducado da Livônia se instalasse na fortaleza. Durante a guerra Polaco-Sueca, a construção foi seriamente danificada. Uma nova restauração aconteceu em 1622, voltando a ser habitado e tornando-se novamente residência da nobreza da época. No início do século XVIII, durante a Guerra do Norte, a imponente fortaleza foi mais uma vez arruinada, para nunca mais ser reconstruída. No entanto, parte do forte sobrevive até os dias atuais. Do alto das ruinas pode-se contemplar o vale Gauja, verdejante no verão mas durante nossa visita estava coberto de gelo. A torre e pórtico do Castelo foram reconstruídos e dali podemos apreciar uma vista impressionante do pátio do castelo imaginando a vida cotidiana durante a Idade Média.
Embora aberto ao público durante o inverno, são poucos os visitantes que enxergamos durante nosso passeio nesta tarde de frio glacial. Na Letônia tudo tem mais vida durante os meses de verão, quando os dias são longos e a temperatura agradável. Nas noites claras de junho e julho o castelo de Sigulda ecoa com o som da música clássica durante o festival de Ópera de Sigulda, atraindo visitantes de todo mundo. Em janeiro, o espetáculo é silencioso com os flocos de neve dançando no ar. A paisagem em torno do castelo é estonteante, muralhas de pedras debruçadas no penhasco do vale Gauja, floresta coberta de neve escondendo o rio congelado lá no fundo do abismo. `Para nós, acostumados ao frio congelante daqui, o cenário invernal é talvez tão lindo quanto as outras estações do ano.
Das ruínas do castelo medieval continuamos até o novo castelo de Sigulda, situado a alguns passos da antiga fortaleza. Construído no final do século XIX no estilo neogótico pela família Kropotkin, a residência tem mais forma de palácio aristocrata do que castelo. Durante este período, Sigulda desenvolveu-se como um centro de lazer e turismo de verão graças à influência do príncipe russo mas também devido à linha ferroviária construída nesta época, trazendo muitos visitantes à região. Após a Primeira Guerra Mundial, quando o palácio foi destruído, o local tornou-se um centro de criatividade e inovação para escritores e jornalistas da Letônia, sendo também conhecido como o Castelo dos Escritores. O interior do palácio conta a história da família Kropotkin, com mobília original e vários aposentos bem restaurados trazendo formas e cores do período de romantismo nacional da época.