O embaixador Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva, chefe da delegação brasileira na Conferência das Partes para o Controle do Tabaco (COP-10), recebeu na quinta-feira, 8, a representação dos trabalhadores rurais e da indústria. A agenda, realizada na sede da embaixada, no Centro da Cidade do Panamá, foi acompanhada também pelo presidente da Associação Internacional de Produtores de Tabaco (ITGA – sigla em inglês), José Aranda. No encontro, o diplomata reforçou sua condição de ouvinte e prometeu relatar ao governo federal os dados apresentados pelos trabalhadores do tabaco.
Para o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo) e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Alimentação de Santa Cruz do Sul e Região (Stifa), Gualter Baptista Júnior, a visita serve, mais uma vez, para reforçar a apreensão do setor com os 40 mil postos de trabalho diretos gerados pelas indústrias, nos três estados da Região Sul do Brasil. “Esta é uma grande preocupação, pois quando se vive em uma cidade grande, existem muitas opções profissionais. No entanto, nos municípios do interior do Brasil há uma realidade diferente. A indústria do tabaco é uma opção que oferece renda e oportunidade, especialmente para aqueles profissionais que o mercado de trabalho barra, seja pela qualificação ou pela idade”, defende.
Baptista Júnior fez a entrega de um documento com os dados da safra 2023, quando foram empregados, somente em Santa Cruz do Sul, 12 mil trabalhadores no segmento. “Quando se vê este movimento ao redor da possibilidade de uma redução de área plantada, que impacta na geração de empregos na indústria, nossa inquietação está relacionada com a manutenção desses empregos. A nossa expectativa é retornar ao Brasil com uma boa notícia para os trabalhadores”, frisa o presidente da Fentifumo e do Stifa.
O embaixador Abreu e Silva ressalta que a sua figura como chefe da delegação brasileira na COP-10 é apenas de liderança, sem a capacidade de interferência direta no secretariado que organiza o evento. “Nós não temos relação com o secretariado da COP-10, apenas recebo os senhores e suas defesas de ponto de vista, que na minha opinião ocorre de forma bem mais eficiente no Brasil, e junto à comissão que trata do tema. O secretariado da COP pode determinar quem entra e quem pode participar. Na realidade, é muito pouco o que podemos fazer aqui, o trabalho maior ocorre no próprio Brasil”, esclarece.
No entanto, com base nos relatos e no acompanhamento da situação da delegação que saiu do Rio Grande do Sul rumo ao Panamá – e teve a participação barrada durante o evento – o embaixador comprometeu a encaminhar, via relatório, os dados e anseios dos trabalhadores ao Palácio Itamaraty, sede das relações internacionais do Brasil. “Não criem tanta expectativa no que eu posso fazer. O papel do embaixador é ouvir toda a sociedade brasileira e isso é o que temos feito, iremos transmitir esta preocupação de vocês para o governo federal”, complementa.
Representatividade dos produtores de tabaco
Em nome das mais de 125 mil famílias que, no Sul do Brasil plantam tabaco, o vice-presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Romeu Schneider e o tesoureiro da entidade, Fabrício Murini participam da COP-10 e encontraram-se com o embaixador do Panamá, Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva. Schneider é também presidente da Câmara Setorial do Tabaco – órgão ligado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) – e assim como as demais entidades, manifesta temor com as decisões da COP-10. “Nossa responsabilidade aqui é grande, pois os produtores de tabaco dependem desta atividade econômica. Porque não há uma outra cultura que possa servir para a sustentabilidade destas famílias, geralmente proprietárias de pequenas áreas de terra. O tabaco representa mais de 50% de receita gerada na maioria das propriedades produtoras”, pontua.
O dirigente destacou ainda que, somente na safra 2023/24, a entidade já foi acionada por mais de 30 mil produtores, que tiveram perdas com granizo e temporais. “Este é mais um benefício que é exclusivo da produção de tabaco. Não é um seguro restituído por banco ou governo. É pago pela Afubra aos seus associados”, explica Schneider.
José Aranda, presidente da Associação Internacional de Produtores de Tabaco (ITGA), relatou que a maior dificuldade quando se fala em produção de tabaco é a substituição de culturas. “Assim como o governo do Brasil, o governo da Argentina, meu país de origem quer que haja a substituição, mas esta possibilidade não existe. Hoje estamos aqui apenas para contribuir com esta agenda brasileira com o embaixador”, confirmou o presidente. A ITGA foi fundada há 40 anos, e um dos países fundadores é o Brasil.
Fonte: AI Fentifumo e Stifa]