A indignação relacionada à soltura de presos chegou à cúpula da Brigada Militar do Vale do Rio Pardo. Nesta sexta-feira, 16, o comandante regional de policiamento ostensivo, coronel Giovane Paim Moresco, deu fortes declarações durante participação no programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Rádio Terra FM. Ao analisar as liberações – após audiências de custódia – de suspeitos de participação na ocorrência do furto a uma residência em Vila Arlindo, no interior de Venâncio Aires, no último domingo, 11, ele informou que todos os envolvidos têm histórico de reincidência e deixou uma indagação à Justiça: “O que mais falta para que estes indivíduos sejam definitivamente alijados do nosso convívio?”
Moresco, que na quinta-feira, 15, à noite, participou de reunião com integrantes das comunidades de Linha Pinheiral, Linha Armando e Linha Seival – localizadas em Santa Cruz e Venâncio e que estão assustadas com as frequentes ocorrências policiais -, destacou a importância da aproximação da BM com a população, no sentido de parceria para enfrentamento do crime, e afirmou que concorda que o momento é propício para uma discussão sobre a legislação penal. De acordo com ele, a brandura da lei oferece brechas para que criminosos permaneçam em circulação, mesmo com extensa ficha e reincidência constante. “Existem circunstâncias que outras partes da sociedade organizada têm que nos ajudar”, disse.
O oficial afirmou que, mesmo que delinquentes e criminosos sejam beneficiados pela legislação, “a Brigada Militar vai intensificar as ações de policiamento ostensivo e prender o indivíduo 30 vezes, se for preciso”. Ao citar o exemplo de um dos presos pela BM de Venâncio Aires no fim de semana, que tem 22 reincidências, Moresco reforçou a necessidade de a legislação acompanhar o clamor da população por mais segurança. “Vinte e duas vezes. Isso para nós é um grande problema. A pessoa vai ser presa? Ela vai cumprir algo? Talvez daqui a não sei quanto tempo. Pode ser daqui a dois meses, e ela pode ter reincidido mais outras 22 vezes. Isso está incomodando as pessoas”, declarou o comandante.
A Brigada Militar distribuiu comunicado à imprensa ressaltando que compreende a importância de uma relação de confiança e colaboração mútua, e que se empenhará ao máximo para resolver os desafios enfrentados pela comunidade, visando garantir a segurança e o bem-estar de todos. Segundo a divulgação, “esta aproximação reflete o comprometimento da instituição com a política pública de fortalecer a integração com a sociedade e com os poderes, trabalhando de forma proativa para alcançar soluções eficazes e duradouras para as necessidades locais”.
“A nós não é permitido o desânimo. Cada um tem a sua forma de se revigorar, todos os dias. Isso faz parte da essência do cidadão que, em um momento da sua existência, optou por fazer um concurso, ingressou na nossa instituição e fez um juramento muito complexo, muito profundo, que é defender as pessoas, colocando em risco a própria vida”.
GIOVANE PAIM MORESCO
Comandante regional de policiamento ostensivo
do Vale do Rio Pardo
Destaques da entrevista
• Aproximação da comunidade: “A comunidade tem se aproximado da polícia, a polícia se aproxima da comunidade, faz o que pode. É uma aproximação em termos de agregação no valor do conhecimento, da transmissão dos dados, das informações para que nós possamos nos ajudar. Que também foi o objetivo de várias vezes onde nós tivemos oportunidade de conversar com as comunidades, que às vezes é um pequeno ajuste que se precisa fazer, um vizinho cuidar do outro quando sai de férias, cuida da casa, e nós colocarmos outros procedimentos em ação”.
• Cuidados preventivos: “Nós não podemos fugir disso. Se nós deixarmos um pátio aberto e fizermos uma comparação com a dificuldade de um pátio fechado, onde é que o criminoso vai? Ele vai no pátio aberto. Mas, coronel, o senhor está dizendo para nós nos trancafiarmos em casa? Não, eu estou dizendo uma realidade. Porque hoje, infelizmente, nós temos isso. No bairro que eu moro, foram furtadas leivas de grama. É isso mesmo: leivas de grama. Passaram com carrinho e levaram embora. Onde é que já se viu isso, roubar grama?”
• Ações na prática: “Nós aprimoramos a nossa forma de fazer polícia ostensiva, já com alguns detalhes que acertamos com as comunidades. Temos grandes equipes no Vale do Rio Pardo, que são as nossas forças táticas. Já estamos em plena execução do planejamento, inclusive para aqueles que serviram o Exército e tiveram algum conhecimento. Começa pelo comando regional, pelo efetivo, para ajudar a unidade com responsabilidade territorial. Vamos fazer diversas operações com o uso de mecanismos que dispomos, alocação de efetivo para trabalhar de manhã, de tarde, de
• Alterações na legislação: “Isso é uma coisa que a sociedade tem que pensar, já é dito há muito tempo. Obviamente, o órgão policial, pelos seus gestores, tem uma forma de ajudar, ofertando as suas experiências. E a sociedade, como um todo, pode ajudar. Temos inúmeros representantes que foram eleitos por nós, que podem nos ajudar a fazer essa modificação tão necessária. Tem de haver uma mudança drástica, no sentido de haver um ponto de ruptura com esse estado de coisas que nós nos encontramos hoje. Talvez seja o momento de começar uma mobilização. Já passou do tempo, eu diria, de começar uma mobilização geral nesse sentido. A astrofísica e o pessoal que trabalha na Nasa gostam muito de falar o termo ponto de reentrada. Passou do ponto de reentrada, queima ou perde a trajetória. Eu vejo que ainda temos tempo de retomar”.
Presenças na reunião
- Na reunião comunitária de quinta-feira, 15, estiveram presentes os vereadores venâncio-airenses Gerson Ruppenthal (PDT) e Claidir Kerkhoff Trindade (União Brasil), ex e atual presidente da Câmara.
- O encontro foi solicitado pelo vereador santa-cruzense Rodrigo Rabuske (PRD), para que os moradores pudessem externar a preocupação às autoridades e, também, pedir mais segurança nas localidades.
- Representaram a Brigada Militar o coronel Giovane Paim Moresco e o major Daniel Pinto Mello, chefe da 1ª e 4ª seções do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio Pardo (CRPO-VRP).
Saiba mais
• 600 é o número aproximado de policiais militares na área de abrangência do 23º BPM, que tem sede em Santa Cruz do Sul e contempla um total de 31 municípios.
*Colaborou Ismael Stürmer
