Setor de maior representação econômica no Vale do Rio Pardo, a cadeia produtiva do tabaco também é foco de pesquisas acadêmicas que visam reduzir o uso de produtos químicos, substituindo-os por agentes biológicos, como insetos. A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) realiza estudos na área há duas décadas e, desde dezembro do ano passado, conta com a Biofábrica de Agentes Biológicos.
No local, são criadas vespas utilizadas como meio de controle do bicho e da traça do fumo – principais pragas que afetam o tabaco seco, tanto nos galpões dos produtores rurais quanto dentro das indústrias de beneficiamento. “É um agente biológico sustentável, pois substitui a necessidade do uso de agrotóxico, o que contribui para o meio ambiente e a saúde do produtor rural”, destaca o professor e pesquisador Andreas Köhler, responsável pela Biofábrica de Agente Biológicos.
No laboratório, são criadas centenas de milhões de traça do fumo e bicho do fumo (pragas), que servem de alimento para as vespas também criadas no local e que, posteriormente, são levadas para combater a praga nas propriedades rurais ou nas indústrias. “São vespas parasitoides. Elas colocam o ovo junto com a praga e se alimentam dela, combatendo a traça e o bicho do fumo”, explica.
Köhler também observa que a vespa é uma espécie nativa e que não há nenhum dano ambiental ou risco para a saúde. “Elas não têm veneno nem ferrão, não há nenhum problema para o meio ambiente ou para as pessoas que circulam pelo local. Mesmo em grandes quantidades, são quase imperceptíveis no ambiente”, explica, ao acrescentar que a prática é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com o professor responsável pela Biofábrica de Agentes Biológicos da Unisc, diversas empresas são parcerias da iniciativa e já utilizam a tecnologia de combate às pragas no tabaco seco dentro da indústria, além de disponibilizarem para os agricultores. A Alliance One e China Brasil Tabacos (CBT), de Venâncio Aires, estão entre elas.
Além dos benefícios ambientais, Köhler também menciona o ganho financeiro. “Hoje, a traça come de 5% a 8% de toda a produção de tabaco do Brasil. É uma perda significativa. Utilizando essa tecnologia altamente sustentável, com o uso das vespas, se reduz até 80% das pragas”, detalha.
“O uso das vespas para combater as pragas no tabaco seco é uma tecnologia altamente sustentável. Substitui a necessidade do uso de agrotóxico, contribui para o meio ambiente e a saúde do produtor rural, e não oferece nenhum risco.”
ANDRÉAS KÖHLER
Professor responsável pela Biofábrica de Agentes Biológicos da Unisc