Com nove propriedades que possuem bubalinos, Passo do Sobrado contabiliza atualmente 1.125 búfalos, de acordo com dados da Inspetoria de Defesa Agropecuária de Venâncio Aires, que abrange o município vizinho. Com esse rebanho, Passo do Sobrado se destaca no Rio Grande do Sul e é, conforme a Prefeitura, um dos maiores produtores do estado.
A construção dessa identidade remete a uma história que começou há mais de cinco décadas, com Talis Mariante Celeste, hoje com 80 anos. Natural de Rio Pardo, ele cresceu em meio à criação de bovinos, atividade mantida pelo pai, e começou com bubalinos por curiosidade. “Em 1970 comprei um lote de 13 cabeças. Sempre gostei desse tipo de animal e achava os búfalos muitos bonitos”, lembra.
Celeste conta que naquele tempo não havia vacina contra aftosa e alguns bois do pai estavam doentes. “Um búfalo desse primeiro lote pegou aftosa. Ele tinha feridas nas patas e entrou numa lagoa, onde ficou dois dias. Depois desse tempo, saiu ‘são’, pastando, como se não tivesse nada. É um animal rústico e muito resistente.”
Desde então, o criador trabalha com bubalinos e, entre as fazendas, está a Espírito Santo, na Várzea dos Camargo, em Passo do Sobrado. Talis Celeste explica que faz recria e engorda e os animais saem jovens, com dois anos no máximo. Vão para frigoríficos diversos no Rio Grande do Sul e há compradores em Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Sapiranga e São Gabriel, por exemplo.
Considerado um dos pioneiros na criação no estado, Talis Celeste integra a Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu) e a Associação Brasileira de Criadores de Búfalo (ABCB). “Entendo que contribuí para a criação em Passo do Sobrado, ajudando a alavancar a cidade e me orgulha ter idealizado a Festa do Búfalo.”
Curiosidades sobre a produção no Brasil
Para entender mais sobre a produção estadual e nacional, a Folha do Mate conversou com a médica veterinária Desireé Hastenpflug Möller, presidente da Ascribu. Ela explica que os búfalos criados no Brasil são domésticos e têm origem asiática, diferentes dos africanos ou americanos, que são selvagens.
No país, são quatro raças: Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e Carabao, sendo que no estado predominam o Mediterrâneo e o Murrah. “Essas quatro raças têm dupla aptidão e produzem tanto carne quanto leite. Diferente dos bovinos, os búfalos são animais extremamente precoces, férteis, longevos, rústicos e dóceis, quando bem manejados.” O abate ocorre com cerca de 18 meses, com pesos variando entre 400 e 450 quilos.
Desireé destaca a longevidade e, no caso das matrizes, elas são capazes de gerar um terneiro por ano ao longo de 25 anos. Como os rústicos têm o couro mais espesso, são mais resistentes ao carrapato, que é um grande problema nos rebanhos.
Leite e carne
Segundo a presidente da Ascribu, o leite e a carne de búfalo têm características diferentes das que são dos bovinos. Desireé Möller explica que a búfala não tem um histórico de melhoramento genético como das vacas, então tem uma produção um pouco inferior. “Mas é um leite com a beta-caseína A2A2, que é a proteína que não causa desconforto gástrico. É um leite com vitamina A prontamente disponível e com o dobro da partícula CLA, o ácido linoleico conjugado, que é uma substância anticancerígena.”
A médica veterinária diz ainda que o leite de búfala tem um rendimento maior que o de vaca. “Para fazer um quilo de queijo, seria necessário uma média 10 litros de leite de vaca. Enquanto que de búfala precisaria de 5 litros.”
Quanto à carne, na comparação com os bovinos, Desireé relata que do búfalo tem 55% menos calorias, 40% menos colesterol, 12% menos gorduras e 10% a mais de minerais e proteínas.
3 milhões – é o rebanho aproximado de búfalos no Brasil. Conforme a Ascribu, no estado são cerca de 50 mil cabeças e o município com maior número de criadores é Viamão.