Há 23 anos, o Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco) realiza o Programa de Recebimento de Embalagens Vazias de Agrotóxicos. Até o fim de 2023, foram 19,8 milhões embalagens de agrotóxicos encaminhadas para o descarte correto no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o que evita a poluição de arroios, rios e demais cursos d’água.
Por meio do projeto, são recolhidas embalagens de agrotóxicos usados na produção de tabaco, com os objetivos de tirar o máximo de plástico do meio ambiente, diminuir a poluição de agrotóxicos das águas e também preservar a saúde do agricultor.
Segundo a coordenadora do programa e assessora técnica do SindiTabaco, Fernanda Viana Bender, os produtores são orientados a entregar as embalagens com a tríplice lavagem – repetir o procedimento de lavagem três vezes. Isso garante a remoção completa dos resíduos de agrotóxicos das embalagens, reduzindo o risco de contaminação.
A perfuração das embalagens também é outro fator em que os profissionais pedem a atenção dos produtores rurais. Após a tríplice lavagem, as embalagens devem ser perfuradas para evitar a reutilização indevida e facilitar o processo de reciclagem ou incineração. “Indicamos que o agricultor faça perfuração nas embalagens, pois ela não pode ser mais utilizada”, ressalta.
O recolhimento é feito por um veículo que segue um roteiro predefinido nos municípios. Depois de coletadas, as embalagens são destinas para o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). No local, é feita a reciclagem do plástico e, com o material, podem ser confeccionados diversos produtos, como, por exemplo, o carrinho de mão.
Participação
Nas últimas semanas, o roteiro do programa do SindiTabaco contemplou localidades do interior de Venâncio Aires. O agricultor Anuar Roque Schweigardt, 56 anos, é morador de Linha Arroio Grande. Na manhã da terça-feira, 16, foi até o ponto de coleta, no Salão Comunitário Rio-grandense e realizou a entrega das embalagens de agrotóxicos que usou durante o ano.
Segundo ele, a iniciativa é muito positiva para a preservação do meio ambiente. “Desde que o SindiTabaco iniciou o recolhimento das embalagens, eu entrego e participo. Neste ano não foi diferente, juntei todos os frascos que usei na produção do tabaco e destinei até o ponto de recolhimento mais perto da minha casa”, explicou.
Na semana passada, o produtor integrado da China Brasil Tabacos, Selomar André Hendges, 55 anos, fez o descarte de embalagens de defensivos utilizados na safra na semana passada, em ponto de coleta na comunidade de Rincão de Souza.
“Faço o descarte desta forma, através do Programa, desde que ele iniciou. Pois, além de ser o recomendado pela empresa, sei que estou colaborando com o meio ambiente e claro, com a saúde humana e animal”, afirma Selomar.
O produtor ainda comenta que, com a orientação dos técnicos agrícolas da empresa, ao longo dos anos, tem adaptado a forma e quantidade de agrotóxicos utilizados na produção. “Está se buscando diminuir as quantidades aplicadas por hectare. Também tem se recebido a indicação de produtos cada vez menos agressivos disponibilizados no mercado e fornecidos pela empresa, adequados e eficientes de acordo com cada alvo, como pragas, doenças na produção.”
*Com informações da Assessoria de Imprensa da CBT
“Quando são descartadas de maneira inadequada, podem contaminar o solo e a água”
O descarte correto das embalagens de agrotóxicos é crucial para prevenir a contaminação da água e proteger o meio ambiente. “Quando são descartadas de maneira inadequada, podem contaminar o solo e a água, liberando resíduos químicos prejudiciais”, explica o engenheiro agrônomo Pedro Lemos, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Conforme Lemos, após o uso dos agrotóxicos, as embalagens devem ser lavadas de maneira adequada para remover qualquer resíduo do produto. Isso é feito seguindo as instruções específicas fornecidas na embalagem e utilizando água limpa. A água de lavagem também deve ser tratada e descartada de maneira responsável para evitar a contaminação do meio ambiente.
“Os agrotóxicos podem se fixar na água de diferentes formas, dependendo de sua composição química. Alguns podem se dissolver facilmente na água, enquanto outros podem se acumular em sedimentos ou serem absorvidos por organismos aquáticos”, afirma o professor, que é doutor em Biociências e Ciências Agroalimentárias pela Universidad de Córdoba, da Espanha.
O tempo de persistência dos agrotóxicos na água varia de acordo com fatores como temperatura, pH e exposição à luz solar. Alguns podem permanecer na água por semanas, meses ou até anos, contribuindo para a contaminação contínua.
“O descarte correto das embalagens de agrotóxicos, por meio de programas de reciclagem ou incineração controlada, ajuda a minimizar o impacto ambiental e a proteger as fontes de água potável.”
PEDRO LEMOS
Doutor em Biociências e Ciências Agroalimentárias
Fixação de agrotóxicos na água
• Dissolução: alguns agrotóxicos são solúveis em água e se dissolvem facilmente quando entram em contato com ela. Nesse caso, podem permanecer em solução na água, formando uma mistura homogênea.
• Adsorção: agrotóxicos podem se ligar a partículas sólidas presentes na água, como sedimentos ou matéria orgânica, por meio de processos de adsorção.
• Absorção por organismos aquáticos: podem ser absorvidos por organismos aquáticos, como algas, plantas aquáticas, crustáceos, peixes e outros seres vivos presentes nos ecossistemas aquáticos. Essa absorção pode ocorrer por meio das brânquias, pele ou membranas celulares.
• Infiltração no solo e lixiviação: Quando os agrotóxicos são aplicados no solo, parte deles pode ser lavada pela água da chuva ou da irrigação e infiltrar-se no solo (lixiviação). Também podem alcançar o lençol freático, contaminando águas subterrâneas.
• Transporte pela correnteza: Durante eventos de chuva intensa ou irrigação, os agrotóxicos podem ser arrastados pela correnteza e transportados para rios e lagos.