Para quem pergunta para Isabella, de 2 anos, como é o nome da mãe, a menina é direta: “Mãe, ué.” E como contestar essa pequena, para quem a referência, até então, se resume à mulher que carrega a responsabilidade dessas três letras? Afinal, quem chama a própria mãe pelo nome? É mãe, ué. Isabella é a caçula das quatro crianças que Danielle Caldas Kumm, 36 anos, desejou gerar. Antes da pequena, veio Sofia, 10 anos, Melissa, 6, e Marcello, 5 anos, todos por cesariana. As gestações, nas palavras dela, foram conforme a vontade de Deus, porque o único filho que ela e o marido Marcelo Régis Kumm, 37 anos, realmente planejaram, não chegou a nascer. “Eu ainda choro quando penso no meu anjinho”, relata Danielle, que dedica todo a rotina, nos últimos cinco anos, à maternidade.
Mas o que levou uma jovem mulher, em pleno século XXI (tempos de independência feminina e de famílias menores), a se dedicar exclusivamente à função de ser mãe? “Tem gente que me chama de louca por ter tido quatro, ainda mais hoje em dia, com tudo corrido. Mas sempre foi meu sonho.”
Ela começou a sonhar ainda menina, quando a vida era apenas ela e o pai, Elio, um pastor evangélico que, devido ao trabalho em comunidades diferentes, em cidades diferentes, não criava raízes. Um pai que também precisou ser mãe e que guardava, numa caixa da sapato, as cartinhas e trabalhinhos de escola de Dias das Mães.
“Minha mãe saiu de casa quando eu tinha três anos, então o pai fez um grande esforço para me criar. Lembro quando eu tinha 13 anos, ele, sem jeito, me explicando sobre menstruação depois de comprar absorventes na farmácia. Ele foi um paizão, mas como cresci filha única e a gente se mudava muito, não dava nem tempo de criar vínculos. Acabava me sentindo sozinha.”
Assim, ainda adolescente, as orações levavam um pedido especial a Deus: uma grande família. “A imagem que sempre vislumbrei dentro da minha casa é uma mesa com 10 lugares. Para mim, meu marido, meus filhos, genros e nora.” Religiosa, cita um salmo bíblico, a qual ela diz que sempre lhe deu amparo: ‘Deus faz que o solitário viva em família’. “Por isso, eu sou muito abençoada.”
Saudade guardada no bolso
Até a gravidez de Marcello, em 2018, Danielle trabalhava fora e foi calçadista e caixa de supermercado. Mas com a chegada do terceiro filho e a segunda ainda muito pequena, ela e o marido decidiram: ficaria em casa e se dedicaria exclusivamente às crianças. “Claro que não é fácil financeiramente, mas felizmente conseguimos nos organizar com a renda do Marcelo.”
O esposo é caminhoneiro e, atualmente, fica cerca de um mês fora, viajando por todo Brasil. No dia desta entrevista, por exemplo, estava em Pernambuco. “Já chegou a ficar 71 dias longe de casa, mas nos falamos várias vezes por dia e sempre com chamada de vídeo, para conversar com as crianças. Ele tem muita saudade, mas sempre diz que precisa guardar no bolso, porque nossos filhos não podem sofrer com isso. Conseguimos, uns com os outros, manter a estrutura emocional.”
Realização
Sobre pensar numa carreira profissional, Danielle revela que, após o Ensino Médio, conquistou uma bolsa de estudos para uma universidade em Porto Alegre, mas acabou não indo, justamente para não deixar o pai sozinho. Ela conta que, se for fazer faculdade, a opção hoje seria Psicologia. “Entendo que ter uma formação é importante, mas eu estudaria não exatamente para exercer e, sim, ajudar na criação dos meus filhos, no entendimento das coisas e de mundo.”
Danielle comenta que admira as mulheres que se sentem realizadas como profissionais, mas que ela não se sente diferente. “Eu não tenho um diploma, mas nasci para ser mãe. Minha missão é cuidar dos meus filhos, da melhor forma. Por isso também me considero uma mulher realizada.”
Memórias com cheiro de bolo
Danielle conta que, mesmo sem ter aprendido muita coisa na cozinha quando era mais nova, hoje aproveita as facilidades da internet para preparar receitas. “Acredito muito na importância de criar memórias afetivas. De uma casa com cheiro de bolo e de pão saindo do forno. Que, um dia, meus filhos lembrem do gosto da minha comida. Essas coisas simples marcam a vida.”
A mãe de Sofia, Melissa, Marcello e Isabella conta que, no Natal, prepara panetone e bolachas decoradas com as crianças e que, todo 12 de outubro, fazem um piquenique. “Tenho oportunidade de dedicar todo meu tempo aos meus filhos, então é meu dever proporcionar momentos especiais.”
O carinho é mútuo e as crianças também procuram mimar a mãe. “Teve um dia que estava um pouco triste e fiquei um tempo no quarto, sozinha. Daí os pequenos prepararam uma bandeja com um iogurte, uma maçã, uma bala, um bombom e um café gelado com açúcar. Do jeitinho deles, cuidam de mim. Por isso digo que eles me curam de qualquer problema.”
“Meus filhos são meu combustível. São a bagunça boa da casa, mas também minha paz. Não consigo imaginar a vida sem eles. Essas crianças me deram oportunidade de ser aquilo que sempre sonhei: ser mãe.”
DANIELLE CALDAS KUMM – Mãe