Era uma vez uma Páscoa

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Foto: Paula Carvalho / Tudo e TodasE não é que junto com o brinquedo veio um chocolate?
E não é que junto com o brinquedo veio um chocolate?

Sempre gostei de doçuras. E quer época melhor do que a Páscoa para os fãs de chocolate, amendoim com açúcar, balinhas e pirulitos?

Pois mesmo tendo duas crianças, acho que a Páscoa vem perdendo a graça. Nem vou chegar na questão religiosa, vou me ater mesmo à abordagem comercial envolvida. Nunca fui contra e, ao contrário, adoro estas datas em que damos e recebemos presentes, em que as lojas enfeitam vitrines e vendem. Publicitária de formação, gosto de uma ideia nova, de um algo a mais, de uma surpresa, de um produto que de tão bem pensado se vende sozinho, faz brilhar os olhos, dá água na boca só de olhar.

Também não costumo ficar reverenciando os tempos antigos, gosto de novidades, de ousadias, mas essa coisa de ovo de páscoa com brinquedo já está saindo dos limites. Literalmente. O chocolate já não interessa, as crianças escolhem o que querem ganhar baseadas no brinquedo. Se o doce é gostoso, se a marca é tradicional, que se exploda, o que vale é o que vem junto.

E lá estão os promotores de vendas pelos corredores, mostrando os brinquedos, testando, convidando pais e crianças para verem como funcionam. E, realmente, são lindos, tecnológicos, nem cabem mais dentro dos ovos. E aí que digo que extrapolaram os limites. Há uma superembalagem para o brinquedo e, quase sem querer, vem um ovo junto. Eu diria que atualmente o ovo é o brinde. 

– Olha, mãe, tem um ovo de chocolate junto com meu brinquedo.

 Para quem tem uma dezena de afilhados, vira um drama acertar o presente, pois já não se pode mais repetir:

– Este eu já ganhei.

E às vezes a criança até gosta do brinquedo dobrado, mas para quem dá fica uma pontinha de arrependimento.

– Cheguei a pegar o outro ovo na mão…

Quando criança, não tinha problema em ganhar ovos repetidos, ainda mais se fossem do chocolate favorito. Nos ninhos, ovos de galinha decorados, recheados de amendoins com açúcar. E as caixas de bombons tinham bombons e não miniaturas de chocolates. Hoje, chega a dar uma angústia na hora de entregar:

– O coelhinho trouxe este ovo, mas ele não sabia se você já tinha outro igual.

E se tiver? Fica a frustração do brinquedo repetido, pois nunca vi trocar ovo de Páscoa.

Com os brinquedos do lado de fora, não é mais nem preciso abrir o chocolate para descobrir o que há dentro. Para piorar, a coelha aqui ainda esqueceu de tirar o preço das cenouras de chocolate que vieram no ninho. 

– Mãe, esta cenoura custou R$ 3,99.

Ai, ai, ai, coelhinho. Mais cuidado da próxima vez.

Minha mãe, sábia e habilidosa como sempre, mudou a estratégia e não correu riscos. Ovos caseiros com brinquedos inéditos dentro. Sem chance de presente repetido. E o melhor, tinha uma surpresa dentro do ovo. Algo que as crianças não haviam escolhido, algo que não estava pendurado aos montes em qualquer supermercado. 

Na próxima Páscoa, prometo mudar de estratégia. Vou voltar aos chocolates com bombons dentro. Posso até pensar em comprar algo a mais para colocar no ninho, ou encomendar ovos superespeciais para a vó Adélia. Como disse, gosto de ideiais novas e essa coisa de ovo de Páscoa com brinquedo dentro já não tem mais nada de inovador.

Vamos lá, coelhinho, você pode fazer muito melhor do que isso.

 

    

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