O processo como se dá as ideias, a leitura, a junção de palavras e de sons, de letras e de números, que se transformam em comunicação e entendimento. Imaginar, sonhar e transcrever o possível, o impossível e o imaginário. é este mistério que me envolve e me faz amar a profissão que escolhi: a de ser jornalista.
Nos últimos dias me deparei com algumas lembranças do passado, descritas em formas de texto e de desenhos realizados em minha infância. Que bom que a dona Laura, minha mãe, guardou tudinho. Curti os textos que escrevi quando eu tinha 8 anos de idade (diga-se há 30 anos), nas aulas da segunda série, terceira, quarta e séries adiante. Cada fase da vida da gente está ali. Nos textos, nos desenhos. Todos com muitos significados. à sombra, o dia a dia. Como enxergava o mundo quando criança. Na adolescência então, nem se fala. A fase da descoberta, dos questionamentos, das dúvidas e de querer mudar o mundo!
Mas foi entre estes ‘achados’ que encontrei um texto escrito em 1991 (eu tinha 16 anos) e quero compartilhar. Eram estes os meus sentimentos naquela época, naquele momento. Com risos e lembranças bacanas percebi que transcrevia o que estava em minha volta como expressão “que a esperança estava nos olhos das crianças”; inspirações nas músicas da banda Legião Urbana; usava-se, na época, o termo “massa” para definir maioria da população – massa brasileira – enfim, boas recordações e muitas risadas de como pensava e percebia o mundo.
Tirei um conceito E (Excelente), na sala de aula, na aula da professora de Língua Portuguesa, Irmã Eliane, no colégio Nossa Senhora Aparecida. Se fosse hoje, claro, o escreveria muito diferente, mas são as fases da vida da gente, com pensamentos e atitudes do que vivemos naquele momento. E, penso que cada uma destas fases de nossas vidas deve ser assim, com lembranças boas, de termos vivido legal e de curtir e valorizar cada etapa, pois é com as nossas escolhas que se determinam os caminhos que vamos seguir.
Maio de 75
Entre gemidos de dor e lágrimas de felicidade, de olhos negros e pele clara, em maio de 75 nascia mais alguém para o mundo.
Seria mais um jeito de ser. Mais alguém para sentir, mais um modo de vida a modelar. Quando criança diziam ver em meus olhos imagens de esperança. E, eu nem sabia o que era esse negócio que viam em mim. Olhava-me no espelho para ver também, mas eu nunca vi.
Foram muitos sonhos, muitos desejos, muitos objetivos alcançados.
Na adolescência, sempre quis tentar “ ser mais eu”. Só na idade adulta descobri que o “eu”, também são os outros.
Meus sonhos não passavam de desejos do meu inconsciente e, meu jeito de ser, meu modo de agir, meu jeito de amar estavam pré-moldados muito antes de minha existência.
Queria ser diferente e nesta, descobri que somos todos iguais. Foi isso que me diziam. Foi nisso que acreditei: “Todos somos iguais” Descobri nesta época que, de iguais as pessoas nada têm e me senti frustrada. Não me deixaram conviver com a ideia do diferente. Por fazer parte da ‘massa’ tive que aderir aos desejos e sonhos dos outros. Já não sabia se o que eu queria era mesmo aquilo que eu queria.
Foi tudo rápido demais. Foi tudo complicado. Pensei que estivesse tudo errado.
Sentia-me culpada e responsabilizada pelas dificuldades da vida. Sentia-me alienada do mundo mas, não era só isso. Eu precisava mostrar que eu existia e, o mundo me mostrou uma forma de provar esta existência.
Foi tudo rápido demais. Foi tudo complicado. Pensei que estivesse tudo errado.
Sempre precisei de atenção Já aprendi que cada um tem um jeito próprio de demonstrar um carinho, um amor. Porém, todos preferem um jeito massificado de demonstrar o sentimento e é só desse jeito que se entende.
Lágrimas cansaram de escorrer em minhas faces. Uma de dor, outras de amor. Já senti o prazer de dizer: “Eu sou feliz”. Já ouvi um “Eu te amo”, mas também vi na televisão que os finais são todos felizes, mas na vida real vi que muitos finais acabam em muita dor e lágrimas. Vivemos na ilusão de que resta uma esperança, e que o vento, ah o vento, este vai levando ‘tudo’ embora
Foi tudo rápido demais. Foi tudo complicado. Pensei que estivesse tudo errado.
Na guerra do poder, todos estão vivos mesmo quando já morreram. O mundo quer de nós o que nós esperamos dos outros. E, os outros, são apenas os outros….
Desde maio de 75 o tempo está rápido de mais, está sendo tudo tão complicado e eu aqui, tentando desvendar os mistérios da existência
é tudo rápido demais. é tudo muito complicado…