Renato Luiz Sehnem, 64 anos, mora em Linha Travessa, interior de Venâncio Aires, onde mantém produção leiteira e, nos últimos anos, também cultiva aipim numa área de 2,2 hectares em Vila Santa Emília. Apesar dos anos de experiência na roça, se surpreendeu com a lavoura de aipim neste ano, cuja planta apodreceu no pé e impactou, também, o crescimento das raízes. “Aipim não gosta de chuva, mas o que aconteceu aqui, não tem relação apenas com o mês de maio e a enxurrada. Começou antes, de alguma ‘peste’ trazida pelo vento”, arrisca o produtor.
As características da lavoura de Sehnem também foram relatadas por outros produtores. Segundo o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin, ainda antes do evento climático de maio, houve uma ‘distribuição’ de bactérias. A principal delas seria a xanthomonas campestris, que ataca, principalmente, hortaliças e raízes. “Causa apodrecimento. O vento ‘esparramou’ e aí soma 14 dias de chuva em cima, o que agravou”, destacou Fin.
O engenheiro agrônomo explica que a bactéria veio com manivas infectadas trazidas de outras regiões. “É uma doença própria das culturas que causam podridão nas raízes, mas se instalam em todas as partes das plantas. Raízes, colmos e folhas. Permanece nos restos de culturas ou restos de plantas das lavouras dos anos anteriores. Uma maniva contaminada (rama) ao ser cortada com o facão ou serra, se não for desinfectada ao ser utilizada para o corte de outras ramas, irá contaminá-las, assim haverá a distribuição nas lavouras.”
Ainda conforme Vicente Fin, no caso do vento frio e forte, ela rasga as folhas e leva insetos sugadores de uma planta para outra. “O mesmo ocorre pelo solo encharcado, a lâmina d’água, ou mesmo por erosão de solo das partes mais altas para as mais baixas das lavouras, local onde concentram-se a maior parte das bactérias e tem maior estrago.”
Lamento
Renato Sehnem, que no ano passado chegou a colher cerca de 50 mil quilos de aipim, lamenta que em 2024, dos 20 mil pés plantados, mal se aproveitará algumas raízes para trato animal. “Honestamente, tinha vontade de passar a rotativa por cima. A gente cuida e trata como dá, mas a natureza e o clima precisam colaborar.”
Conforme o agricultor, antes de pensar em novamente plantar naquela área, precisará fazer o tratamento necessário e recuperar o solo, também muito danificado pela enxurrada. Em alguns pontos da lavoura, a água chegou a formar grandes valetas, deixando as raízes à mostra. Considerando o preço atual da caixa de aipim, Sehnem estima que o prejuízo chega a R$ 50 mil, além do que investiu em insumos, preparo da terra e mão de obra.
R$ 1,75 milhão – é o prejuízo financeiro no aipim e na batata após enchente e enxurrada de maio em Venâncio, conforme laudo da Emater. De 1,1 mil hectares comerciais, 350 foram impactados.