Foi um fim de outono um pouco diferente do atual. Aquele sábado de cinco décadas atrás fez muito mais frio do que hoje e choveu bastante durante todo o dia. Assim foi o 15 de junho de 1974. Naquela data, dois jovens da região do Grão-Pará, interior de Venâncio Aires, se casaram e a festança aconteceu num lugar construído em formato de cabana. Foi no salão que ainda nem estava pronto, que Rogério e Noely celebraram o casamento, sendo a primeira festa da Cabana São Judas Tadeu. Exatamente 50 anos depois, o local é o cenário escolhido para a festa das Bodas de Ouro.
Convites a bordo de uma bicicleta Odomo
Rogério Albino Jacobi nasceu em 1º de março de 1951. Ele recebeu esse segundo porque veio ao mundo justamente no dia de Santo Albino, mas outros três homens também têm relação nessa história: Albino era o nome do finado pai de Rogério (conhecido como guarda sanitário rural), de um tio do lado materno (família Kappaun) e do cônego (o Juchem), que batizou ele há 73 anos.
Nascido, criado e morando até hoje em Linha Grão-Pará, pertinho da escola São Judas Tadeu, foi em 1969 que Rogério começou a namorar uma mocinha do Grão-Pará Baixo, que se fosse pela data de nascimento – 25 de dezembro – poderia ser Natalina, mas recebeu o nome de Noely.
Os então adolescentes já se conheciam dos jogos de futebol, ele como goleiro do antigo Avenida (hoje Assespe) e ela como torcedora. O namoro começou para valer numa festa de São João, há 55 anos, no antigo salão de Armindo Kappaun, também no Grão-Pará. Quando Noely completou 17 anos, na virada de 1973 para 1974, decidiram que em breve iriam casar.
O 15 de junho foi escolhido porque ainda era uma época mais tranquila na lida do tabaco, ou seja, se esperassem mais uns meses, seria tempo de colheita e aí os familiares, inclusive a maioria dos convidados, estariam muito atarefados, já que no ‘auge’ da safra, o trabalho é de segunda a segunda.
Quanto ao local, a escolha foi pela proximidade, ainda que o salão não estivesse pronto. “Não tinha porta, nem janelas. Ainda estava em obras”, lembra Rogério, se referindo à Cabana São Judas Tadeu, cuja construção começou em 1972. Para convidar cerca de 150 pessoas, entre familiares e amigos, não havia papel e envelope com cores douradas e letras cursivas. Era tudo no ‘boca a boca’. E para percorrer todas as casas, algumas em localidades mais distantes, Rogério pedalou muito numa bicicleta Odomo, com Noely na garupa.
Duas rosas vermelhas
Noely se preparou no salão de beleza de Otília Schmidt, na rua General Osório. Quando já estava maquiada, com o cabelo feito e usando o vestido costurado pela madrinha dela, Hilma Simon, Otília questionou a noiva. “E teu buquê?” A jovem, sem jeito, disse que não tinha. Foi aí que a dona do salão foi até o pátio da casa, onde havia um bonito jardim, e cortou duas rosas vermelhas, formando um buquezinho. “Achei tão bonito o que ela fez. E depois a vida me presenteou com mais duas rosas: as minhas filhas.”
Detalhes da festa
A cerimônia foi na Igreja São Sebastião Mártir, celebrada pelo diácono Willibaldo Lenz. Para voltar ao Grão-Pará, no local da festa, o casal foi de táxi. Na Cabana, ainda em construção, foi necessário improvisar algumas coisas. Como a noite do 15 de junho de 1974 foi muito gelada e de muita chuva, Rogério Jacobi conta que foram improvisados tapumes com tábuas nas aberturas da Cabana. A pista de dança ainda era rebaixada em relação ao piso do entorno. Os postes que sustentam a estrutura do telhado (os mesmos até hoje), são de toros de eucalipto e nem estavam pintados.
Sem mesas e cadeiras, longas tábuas foram colocadas sobre cavaletes, assim como os bancos, para acomodar os convidados na janta. “Foi tudo meio improvisado, mas para nós foi lindo. A primeira festa da Cabana, o que hoje nos orgulha e nos honra”, destaca Rogério. A janta, com direito a churrasco e carreteiro, foi preparada pelos tios dele, Leopoldo e Albino Kappaun. Quanto à torta dos noivos (de coco e leite condensado) e demais bolos e guloseimas, foi tudo preparado pelas mulheres da família, com ajuda de Nely Böhm.
Para embalar a noite, não teve exatamente um conjunto musical, mas sim quatro músicos que se juntaram para tocar as ‘bandinhas’: Lauro Winkelmann, Erno Freitag, Edwino Hamester, José Becker e Alfredo Leuckert.
A mãe da noiva
• Um detalhe daquele junho de 1974, é que Romilda, a mãe da noiva, não viu a filha entrar na igreja, nem foi na festa. Isso porque, cinco dias antes, ela deu à luz Simone, irmã de Noely. “Com tanto frio e chuva, se achou melhor nem minha mãe, nem minha irmãzinha, recém-nascida, saírem nesse tempo. Daí quando estavam todos jantando, eu e o Rogério levamos a janta para ela. Pelo menos a mãe me viu vestida de noiva”, conta a aposentada.
• Se a mãe da noiva não esteve no casamento da filha, 50 anos depois ela estará nas Bodas de Ouro. Aos 91 anos, Romilda Diettrich é presença confirmada na Cabana na noite de hoje. “É uma alegria muito grande ter essa oportunidade”, resumiu a nonagenária.
A Cabana, 50 anos depois
Nesses 50 anos, a Cabana São Judas Tadeu foi palco de inúmeras festas. No caso dos Jacobi, a festa de casamento da filha Eliana foi lá, em 1999. O local também sediou a comemoração dos 90 anos de Romilda, mãe de Noely, em 2023. Na noite de hoje, aproximadamente 180 convidados estarão na Cabana para celebrar os 50 anos de casados de Rogério e Noely. Isso inclui as filhas Adriana, 45 anos, e Eliana, 42; os genros Adriano e Clóvis, e os netos Gustavo, Joana, Lucas e Emília. Os netos vão levar as alianças, as mesmas compradas na Coreletro, há cinco décadas.
Também estarão lá os dois padrinhos de casamento ainda vivos, Bertilo Neumann e Virgilio Baumgarten. “Quero que eles sejam novamente testemunhas e assinem para mais 50 anos”, brincou Rogério. Já Noely, diz apenas que o tempo é “quanto Deus quiser”, mas deseja que eles continuem parceiros em tudo, como sempre foram, nas últimas cinco décadas.