Eufórico, repleto de canções e rituais folclóricos, regado à comilança e bebedeira. Assim é o solstício de verão na Letônia, a comemoração mais esperada no calendário dos países bálticos. Enquanto no hemisfério sul nesta época do ano as temperaturas baixam com a chegada do inverno, por aqui, no hemisfério norte, vivemos o período mais quente do ano. Nesta semana tivemos o dia do ano com mais de 20 horas de sol, marcando o início da estação do calor. Neste dia, o polo norte está na sua inclinação máxima em direção ao sol, e é por isso que aqui na pontinha nordeste do mapa europeu somos brindados com muitas horas de luz.
A chegada do verão por aqui significa feriadão, entre 21 e 24 de junho, com uma programação intensa entre concertos de música, feiras, piqueniques, apresentação de corais, bailes ao ar livre, dança das fogueiras e muito mais. É a festa mais esperada pelos letões. Para quem está acostumado ao calor dos trópicos e temperatura agradável durante todo ano como no Brasil é difícil de compreender a ansiedade do povo daqui à espera pelos dias longos e iluminados do verão. Sabemos que o inverno na Europa é longo e gelado nos três países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia- e coberto pelas paisagens de neve. E talvez, por isso, desde os tempos ancestrais, a comemoração em torno do solstício de verão por aqui é plena de euforia, recheada de folclore e carregada de superstições e misticismo. É um festival de alegria!
Nesta semana caminhando pelas ruas de Riga, percebemos a felicidade da população se preparando para curtir o festival de verão considerado mais importante que o Natal para muitos. Nesta época é comum ver noivas sendo fotografadas pelos pontos turísticos da cidade. Festas de confirmação e primeira eucaristia são muito populares durante o feriadão de solstício de verão. As casas ficam enfeitadas com flores do campo e guirlandas. Em cada esquina vemos pessoas carregando buquês de flores, geralmente florzinhas e arbustos do campo. Os países bálticos seguem até hoje os costumes de outros tempos para marcar o dia mais longo do ano com feriado nacional. A comemoração se destaca por uma mescla de tradições com raízes folclóricas e cristãs, iniciando no final da tarde até o amanhecer, e seguindo durante o dia seguinte. A maioria dos letões passa a noite de 23 junho comemorando ao ar livre, geralmente junto à natureza, seguindo uma antiga celebração do campo, que ocorria entre a semeadura de grãos e a colheita.
Os rituais do solstício de verão na Letônia remontam ao tempo pagão e assim quando o país se converteu ao cristianismo a importante data foi amalgamada com a festa de São João (Jani, em letão). A festa de Ligo (ou Jani) como é conhecida na Letônia, é marcada por canções folclóricas, muita dança com trajes típicos e rituais campo afora e junto à natureza para reverenciar no espaço celestial o ponto onde a trajetória do sol parece congelar. Um momento ímpar, quando o pôr e o nascer do sol se confundem no horizonte, marcando o dia mais longo do ano com quase 20 horas de luz. È a noite branca da Letônia pois são apenas algumas horas de breu e ninguém dorme nesta noite! Durante os festejos os letões bebem muita cerveja e degustam um queijo especial, Janu, recheado de sementes de cominho.
A festa em torno da chegada do verão traz euforia às cidades da Letônia, principalmente na capital. Nos últimos dias Riga se transformou num palco de alegria com uma programação cultural intensa com eventos em cada canto da cidade. A feira de verão lotou as ruas centrais de Riga, com centenas de tendas comercializando produtos coloniais, artesanato e muitas flores. As grinaldas de flores do campo se destacam na feira atraindo grande número de pessoas, escolhendo cada detalhe da grinalda confeccionada manualmente. Em todas cidades, os letões têm orgulho de usar a grinalda natural durante as comemorações de Ligo. Esta tradição é muito difundida em todo país, pois os letões acreditam que ao confeccionar uma coroa de flores e folhas de carvalho, cria-se um círculo de energia e plenitude enquanto a harmonia das plantas é absorvida durante o uso da grinalda.