Um evento anual que celebra as principais heranças dos colonizadores germânicos e é promovido, em formato de rodízio, por cinco associações do interior de Venâncio Aires. Com direito a desfile temático, gincana de integração e muita animação, a Festa Municipal do Colono chega à 45ª edição nos dias 26, 27 e 28 deste mês, na Associação Esportiva e Recreativa Teresinha (Aert).
Para promover a programação, a comunidade anfitriã mobiliza um verdadeiro batalhão de voluntários. A expectativa é de que 80 a 100 pessoas estejam envolvidas – desde a copa e a cozinha até a organização do desfile, tarefas da gincana e parte financeira. “A expectativa de público é muito alta pela programação. Temos reuniões semanais para a organização, estamos muito empenhados e buscando inovar. Queremos bater recordes”, afirma o vice-secretário da Aert, Wiliam Michel Wildner, 32 anos.
Sócio da Aert desde os 14 anos, ele sempre participa da Festa do Colono, e afirma que este é o maior evento da comunidade, realizado em Teresinha a cada 5 anos. “No que depender de mim e da diretoria, nunca vai terminar.”
Apesar de a Aert ter sofrido danos na estrutura com as fortes chuvas em maio, a associação se mobilizou e correu contra o tempo para realizar o evento. “Temos o auxílio financeiro da Prefeitura para a promoção da festa e essa é uma ajuda muito importante para manter a sociedade”, observa Wildner.
A exemplo dos últimos anos, o Município repassou R$ 20 mil para o evento. O secretário de Cultura e Esportes, Sandro Kroth, destaca o engajamento das associações para a realização da festa e diversas outras atividades que contribuem para manter e valorizar o legado dos primeiros imigrantes. “Muito da cultura de Venâncio Aires está ligada aos colonizadores, desde as festas, música, dança até a gastronomia e religiosidade. É muito bonito ver o empenho das comunidades e a inserção dos jovens.” Ele também lembra que, neste ano, a Festa Municipal do Colono integra a programação do município alusiva ao Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil.
Gincana e desfile
Entre as atrações tradicionais da Festa do Colono de Venâncio Aires estão o desfile temático, realizado desde a primeira edição, e a gincana entre as associações. A competição começa já no baile de escolha da Garota Teuto-brasileiro, com pontuação para a associação com a candidata eleita e venda de ingressos.
Durante a festa, são realizadas diversas tarefas relacionadas à vida no interior – como debulhar milho e serrar lenha -, além de jogos como bocha, bolãozinho, tiro ao alvo e canastra. “Tudo conta pontos para a gincana, que é um diferencial da festa. É uma competição sadia, que agita os bastidores”, comenta o vice-secretário da Aert, Wiliam Wildner. Como premiação, um salário-mínimo é dividido entre as quatro equipes, com maior valor para o primeiro lugar.
Todos os anos, a associação anfitriã da Festa do Colono não tem candidata à corte e também não participa da gincana, atuando apenas como organizadora.
Associações que promovem a festa
- Associação Esportiva e Recreativa Teresinha, de Vila Teresinha
- Associação Esportiva e Recreativa Duvidosa, de Linha Duvidosa
- Associação Esportiva e Recreativa Santo Antônio, de Linha Santana
- Associação de Leitura e Canto Jovialidade, de Linha Andréas
- Sociedade Esportiva e Recreativa Bom Humor, de Linha Cecília
Evento mobiliza comunidades do interior desde 1978
A Festa Municipal do Colono foi realizada, pela primeira vez, nos dias 23, 24 e 25 de julho de 1978, na então Vila Mato Leitão – ainda distrito de Venâncio Aires. O evento foi promovido pela Secretaria Municipal de Turismo, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Emater, Sociedade União Boa Vista (Seubv), com apoio da Folha do Mate e Rádio Venâncio Aires.
Entre os destaques da primeira edição esteve a participação do cônsul da Alemanha, Augusto Von Kameke, e da banda do 8º Batalhão de Infantaria Motorizado (8º BIMtz), de Santa Cruz do Sul, que abriu o desfile, realizado na rua principal de Mato Leitão, da Igreja Santa Inês até a sede da Seubv.
As festas seguintes ocorreram em Sampaio, Linha Andréas e Teresinha. Ao longo dos anos, as associações que promovem a festa por meio de rodízio mudaram, permanecendo as quatro comunidades do Vale do Sampaio (8º Distrito) e Linha Cecília (4º Distrito). Apesar de algumas mudanças, sempre se manteve a realização do evento próximo ao Dia do Colono (25 de julho).
Desde o início, em apenas dois anos a festa não aconteceu: em 2020 e 2021, em decorrência da pandemia de Covid-19.
Mato Leitão realiza a Festa do Colono Imigrante
Com a emancipação de Mato Leitão, em 1992, o município deixou de participar da Festa do Colono de Venâncio Aires e criou o próprio evento: a Festa do Colono Imigrante, que segue os mesmos moldes, com escolha da Garota Imigrante e cinco associações que sediam a festa, de forma intercalada: Seubv (Centro), Assoessa (Sampaio), União (Boa Esperança Alta), São José (Arroio Bonito) e Assocersa (Santo Antônio).
Envolvimento comunitário
Enquanto jovens com Wiliam Wildner já ‘puxam’ a frente na organização do evento, para manter a tradição da Festa Municipal do Colono, eles contribuem para dar sequência ao legado de outros moradores do interior de Venâncio que ajudaram a construir a história do evento. É o caso de Darcy Haas, 76 anos, de Vila Teresinha.
“É um orgulho para a gente estar presente. Dessas 45 festas, não sei se faltei cinco”, afirma o agricultor aposentado, que além de atuar na organização da festa na comunidade onde mora, também sempre fez questão de prestigiar o evento nas localidades vizinhas.
Ele ressalta o quanto foi possível acompanhar a evolução da agricultura, a partir da exposição de maquinários e os desfiles temáticos na Festa do Colono. “Hoje se utiliza trator, antigamente era só carroças.”
“A maior festa do interior de Venâncio é a do Dia do Colono. Não importa onde é, sempre é uma grande festa e vem gente de tudo que é lado. É um orgulho estar presente.”
DARCY HAAS – Agricultor aposentado e morador de Vila Teresinha
A Aert sediou a festa pela primeira vez em 1981. “Foi uma das maiores festas. Foram mais de 1,2 mil almoços servidos”, comenta, ao lembrar que, para garantir que todas as pessoas pudessem almoçar, foi necessário matar um porco, no dia do evento, para ter carne suficiente. Seu Darcy também lembra do comentário do ex-prefeito Almedo Dettenborn [à época, secretário municipal de Turismo]. “Ele disse que tinha sido a maior polonese que já tinha puxado”, cita. Conforme matéria divulgada pelo jornal Folha do Mate na época, a dança contou com a participação de 151 casais.
Outro fato destacado pelo morador de Teresinha é que a Aert já teve sete representantes eleitas como Garota Teuto-brasileira. A primeira foi Maribel Hoffmann, na 3ª Festa do Colono, em 1980, realizada em Linha Andréas. A mais recente foi Danielle Schwertner, na 44ª edição, no ano passado.
Anita, a primeira Garota Teuto-brasileira
O concurso da Garota Teuto-brasileira é uma das tradições da Festa do Colono. Diferente de hoje, nas primeiras edições, o baile de escolha ocorria no mesmo fim de semana da festa.
Anita Ertel Spies, 62 anos, foi a primeira Garota Teuto-brasileira, representando Vila Sampaio, de onde era natural. Na época, a jovem de quase 17 anos disputou o título com outras quatro meninas. “Fiquei muito surpresa quando fui anunciada, a torcida quase invadiu a pista para me parabenizar”, relembra. A associação de Sampaio também teve a melhor torcida da noite.
Segunda mais moça de uma família de 11 irmãos, ela já residia na área urbana de Venâncio, com uma das irmãs, e estudava no Colégio Professor José de Oliveira Castilhos, na época do concurso. Entretanto, sempre manteve a ligação com a localidade, onde os pais e alguns irmãos seguiram residindo. “A família era envolvida na comunidade e sempre participávamos das festividades. O futebol era a principal atração nos fins de semana, íamos de caminhão para acompanhar o Campeonato Municipal”, recorda.
Para ela, é um orgulho ter sido a primeira Garota Teuto e participado da história do evento que valoriza o legado dos imigrantes. “As festas sempre mostraram a união, organização, a comunidade trabalhando para acolher bem o povo. Quando posso, gosto de participar das festividades no interior e relembrar esses bons tempos”, afirma a servidora pública aposentada.
Soberanas
Em 2019, na 40ª edição da Festa do Colono, ocorreu um encontro das Garotas Teuto-brasileiras durante o evento, em Linha Santana. A servidora municipal Giovana Bencke organizou uma exposição dos trajes – inspirados na cultura alemã -, fotos e reportagens com as soberanas ao longo das quatro décadas.