Mesmo com novo reservatório, moradores da região alta voltam a relatar falta de água

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O que era para ser o início de uma nova etapa e o fim de um problema que já durava praticamente uma década, frustrou a expectativa de moradores da região alta de Venâncio Aires. Essa é a reclamação de Sílvio Haussen, que faz parte de um grupo de residentes do bairro Cidade Alta e arredores que reivindica há anos melhorias no fornecimento de água nesta região de Venâncio Aires.

“A gente teve que organizar esse grupo de moradores da Cidade Alta, Loteamento Parque do Chimarrão, Loteamento Eisermann e Xangrilá porque temos frequentemente falta de água. É um problema recorrente”, pontuou o corretor de imóveis, em entrevista ao programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, na quarta-feira, 18.

O reservatório instalado para resolver a questão – em operação desde o dia 5 de julho – ainda não mudou essa realidade, segundo os moradores. Localizado na rua Clóvis Pereira de Carvalho, no bairro Cidade Alta, o tanque tem capacidade para 100 mil litros e foi instalado para reforçar o abastecimento de cerca de 8 mil moradores dos bairros Cidade Alta, Xangrilá e da região do Parque do Chimarrão. Haussen afirmou que o reservatório é uma conquista do grupo, mas afirma ter “cautela” quanto às suas expectativas: “Esses problemas persistem, mesmo depois da instalação. Nós tivemos recentemente duas semanas consecutivas com falta de água. Praticamente toda semana isso acontece”, relatou.

Ministério Público foi acionado

Além dos problemas recorrentes com o abastecimento, o morador lamenta a dificuldade para entrar em contato com a unidade local e também para obter informações com a Corsan, responsável pelo fornecimento e pelo tratamento de água e esgoto. “Somos abastecidos por várias redes. Às vezes, tem rua que tem água, outra não tem. Essa caixa de 100 mil litros a gente não sabe para quais ruas dá sustentação, isso nos deixa apreensivos e não temos uma resposta da Corsan que explique”, lamentou.

A busca por melhorias já pautou encontros no Ministério Público (MP) de Venâncio Aires. O contato dos moradores com o promotor de Justiça Pedro Rui da Fontoura Porto começou ainda em 2022. Em junho daquele ano foi instaurado um inquérito civil para acompanhar o assunto e, nos meses seguintes a empresa apresentou um plano com proposta de melhorias para a cidade, mas, conforme o promotor, “até hoje ele não foi totalmente implementado.”

Mais recentemente, o grupo procurou a Promotoria outra vez para fazer reclamações, ainda referentes à falta de água. Conforme Porto, para dar acompanhamento aos trabalhos, ele solicitou a avaliação de um grupo de apoio técnico do MP.

Prefeitura se posiciona

A dificuldade de comunicação também é ponto de cobrança pelo prefeito Jarbas da Rosa. “A informação ao cliente tem que ser mais rápida, acessível. Para isso a gente vem trabalhando e, possivelmente, nos próximos dias vão ter novidades principalmente nessa relação entre Prefeitura e Corsan. Isso é muito importante, porque dá mais rapidez para que a empresa possa fazer os trabalhos, principalmente no restabelecimento quando houver algum problema, tanto na cidade quanto no interior”, disse o chefe do Executivo.

A secretária municipal de Planejamento e Urbanismo e de Infraestrutura e Serviços Públicos, Deizimara Souza, lamentou que os problemas persistam mesmo após a instalação do reservatório. “É extremamente necessário que a Corsan tome medidas rápidas e ágeis para que isso seja sanado o mais rápido possível. O Município entende quando há situações de rompimento de adutoras, quando há situações de rompimento de canalização, que tem que se fazer esse desligamento temporário para que se arrume, se conserte. Mas ficar por horas e horas sem água é inadmissível.”

Corsan responde

Em nota enviada ao Jornal Folha do Mate, a Corsan reconheceu que ocorreu um “caso pontual de interrupção de abastecimento, porque foi preciso desligar o bombeamento para o reservatório durante uma manutenção no equipamento chamado telemetria” no tanque instalado no bairro Cidade Alta. No entanto, afirma que, desde então, o reservatório opera normalmente e sem falhas registradas.

Além disso, a empresa aponta que eventualmente rompimentos de redes podem acontecer, o que também atrapalha o abastecimento de água. “Os reparos são providenciados imediatamente, mas é necessário um espaço de tempo para que a distribuição de água volte ao normal”, esclarece.

Por fim, a concessionária informa que está instalando novos reservatórios (como o do bairro Bela Vista), com maior capacidade de armazenamento, e perfurando poços artesianos.

Reservatório no Bela Vista

De acordo com a Corsan, o reservatório com capacidade para 500 mil litros, instalado no bairro Bela Vista, está próximo de entrar em funcionamento. Faltam chegar equipamentos elétricos para concluir o trabalho. Serão beneficiados os bairros Bela vista, Xangrilá, Cidade Nova, Gressler e Santa Tecla, que, juntos, somam aproximadamente 20 mil clientes.

Tratamento de esgoto e qualidade da água

Outra reclamação bastante recorrente de moradores da região alta da cidade refere-se à cobrança do tratamento de esgoto. Trata-se de taxa referente a 70% do consumo de água, ou seja, incide sobre a quantidade de metros cúbicos consumidos a cada família.

Segundo a Corsan, há 5.234 imóveis (cerca de 22,7%) ligados à rede coletora de esgoto na Capital do Chimarrão e a cobrança da taxa só ocorre para moradores que já fizeram a conexão das residências à rede coletora, a partir das caixas de calçada. “Esta forma de cobrança é determinada pela Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), a autarquia estadual que regula as normas de saneamento básico no estado”, ressalta a empresa. A concessionária garante que não há cobrança para quem não recebe o serviço.

O resíduo obtido, como explica a Corsan, é encaminhado para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), onde recebe higienização e destinação adequada. A ETE tem capacidade para tratar 40 litros de esgoto por segundo.

Por outro lado, quando a rede está disponível, mas os moradores não fazem a interligação dos imóveis, passa a ser cobrada uma taxa de disponibilidade. O valor cobrado, neste caso, fica maior e pode chegar ao dobro do que o morador pagaria se estivesse utilizando a rede. Em Venâncio Aires, há 520 imóveis nesta situação. O valor não é direcionado para a Corsan e sim para um fundo da Agergs.

Qualidade da água

Outra reclamação dos moradores da região alta, e que se estende a praticamente todo o município, é sobre a qualidade da água que chega às torneiras venâncio-airenses. Durante o programa jornalístico apresentado nesta semana, ao vivo, moradores dos bairros Gressler, Cidade Nova, Santa Tecla e Coronel Brito reclamaram sobre a coloração, cheiro e gosto do líquido.

Na entrevista à reportagem, Sílvio Haussen lamentou o cenário. De acordo com ele, não é possível, por exemplo, tomar chimarrão com esta água, que seguidamente sai das torneiras amarelada. A mesma situação se repete para fazer comida ou, até mesmo, lavar roupas. “O vaso sanitário fica com mancha. Se coloca roupa clara na máquina, sai amarela. São problemas constantes”, contou.



Juan Grings

Juan Grings

Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Repórter na Folha do Mate e na Rádio Terra FM.

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