O que nasceu do gosto pela preservação da história familiar vai se transformar em mais um empreendimento turístico, um antiquário no interior de Venâncio Aires.
Venâncio Aires pode ter, em breve, mais um ponto turístico e que promete encher os olhos dos visitantes. Tem natureza, tem tranquilidade, tem cultura e muita, mas muita história. Tudo isso a sete quilômetros do centro da cidade, numa propriedade particular em Linha Marechal Floriano.
Por lá, a iniciativa de um casal tem transformado uma área de oito hectares. O empresário José Francisco Witz, 62 anos, conhecido como Kiko, e a esposa, Roseane Wickert Witz, 54, sonham em fazer do local um empreendimento turístico que remeta o visitante a um encontro com o próprio passado. Hoje, milhares e milhares de peças, de tudo que se possa imaginar, os Witz têm guardado em dois galpões e também dentro de casa. Sejam itens grandes, como geladeiras, motos, peças de maquinários de veículos pesados, baús, móveis, rádios, TVs, brinquedos, utensílios de cozinha e até os mais pequenos, como caixas de fósforos e garrafinhas de refrigerante, tudo é muito antigo e tem uma história própria, que Kiko sabe descrever detalhadamente.
A ideia de um antiquário
A ideia dele e da esposa é catalogar todas as peças (cerca de 4 mil) e depois deixar parte delas exposta e outra para comercialização, no Antiquário Witternheim, como será o nome do espaço. Os Witz ainda não têm uma data exata para abrir a visitação ou iniciar as vendas on-line, mas garantem que o projeto vai sair do papel o mais breve possível. A iniciativa é própria e o único pedido que fizeram ao poder público foi uma ajuda em relação à energia elétrica, cuja rede ainda é monofásica.
“A ideia é separar, catalogar e organizar tudo. Que seja um lugar para o pessoal contemplar e também adquirir peças antigas para decoração ou dar de presente. Ainda há muita coisa para fazer na propriedade, precisa estruturar tudo para receber bem as pessoas. Porque aqui terá a história reunida com a natureza, algo que as pessoas têm procurado para turismo e lazer”, destaca Kiko.
Além das peças que estão devidamente guardadas, ao longo da propriedade outros detalhes chamam atenção, como uma âncora de navio e partes de veículos antigos, a exemplo de uma locomóvel (pequena máquina vapor) e de uma caminhonete da década de 1930. “Cada objeto tem uma história. Pertenceu a alguém que teve sua história. Esses vínculos e essas memórias afetivas mexem com as pessoas”, observa Roseane.
História de família
Kiko conta que sempre gostou de história e que a primeira coleção foi de cédulas de dinheiro. Começou com cinco notas de Cruzeiro, que pertenceram ao irmão César, falecido quando Kiko ainda era criança. A mãe, Dalila, hoje com 89 anos, deu as cédulas para o filho. Já adulto, quando começou a trabalhar em banco, passou a guardar notas que perdiam valor, em tempos de inflação.
Essa coleção de dinheiro foi praticamente o único acervo histórico do empresário até 2009, quando Kiko e Roseane trocaram a área urbana de Venâncio pela propriedade em Linha Marechal Floriano. Até 10 anos atrás, não imaginavam que somariam tantos itens antigos, mas tudo mudou depois de viajarem até a Europa, para conhecer as origens do avô paterno de Kiko, Luiz Witz (1890-1962), que veio para o Brasil em 1913, um ano antes de começar a 1ª Guerra Mundial. “Os europeus valorizam muito a história, então voltei com a ideia de também fazer mais para ajudar a preservar a nossa história. A gente faz por gosto, para deixar um legado.”
Embora vislumbre na propriedade um empreendimento turístico, Kiko destaca que também o faz pelo valor afetivo. Tanto que, para ele, o objeto mais importante que mantém é um canecão que pertenceu ao avô Luiz, quando ele era reservista do Exército na região de Witternheim (nome do antiquário), na França. Em Venâncio Aires, Luiz Witz se estabeleceu em Linha Olavo Bilac onde foi agricultor e professor. A antiga escola da localidade levava o nome dele.
Relíquias
Para os apreciadores de história, a propriedade dos Witz guarda verdadeiras relíquias. Entre os itens mais surpreendentes e bonitos, chamam atenção uma máquina registradora americana do fim do século XIX que pesa 70 quilos; um realejo com seis músicas do início do século XIX e uma vitrola de 1906. Todos funcionando perfeitamente.