Um alimento completo, que todos os nutrientes e vitaminas necessários para o desenvolvimento do bebê e que contribui para a prevenção de diversas doenças. Único fator que, isoladamente, pode reduzir em até 13% a mortalidade infantil por causas evitáveis. Estamos falando do leite materno, foco do Agosto Dourado. A cor dourada, aliás, não foi escolhida ao acaso para dar nome à campanha. Ela faz referência ao ‘padrão ouro’ do leite materno.
“A importância do aleitamento materno é indiscutível. São muitos benefícios que se estendem até a vida adulta. Por isso vem se incentivando tanto a amamentação”, observa a pediatra Fernanda Almeida. Entre os benefícios, ela cita a prevenção de doenças respiratórias e digestivas, assim como vários tipos de alergias, além de contribuir com o sistema imunológico da criança.
O impacto positivo do aleitamento materno não se restringe à infância. “Ele está relacionado com a prevenção de doenças na vida adulta, como hipertensão arterial, diabetes e aumento do colesterol. Além disso, vários estudos comprovaram que está diretamente ligado com a melhora da inteligência, do desempenho cognitivo, do aprendizado dessa criança na escola”, enfatiza a médica.
A recomendação do Ministério da Saúde é manter o aleitamento materno pelo menos até os dois anos de idade – exclusivamente até os seis meses e, após, junto com a introdução alimentar. “Tem linhas da pediatria que recomendam que se poderia manter durante mais tempo, inclusive. Se aquela mãe e o bebê estiverem bem e a criança se alimentar bem, essa amamentação ainda poderia ser prorrogada um pouco mais”, comenta.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em torno de seis milhões de vidas de crianças são salvas a cada ano por causa do aumento das taxas de amamentação exclusiva até o sexto mês de vida.
Na avaliação da pediatra, a partir das campanhas que buscam conscientizar sobre os inúmeros benefícios da prática, houve uma melhora nos índices de aleitamento materno. “Hoje se amamenta mais do que décadas atrás. As pessoas estão conseguindo realmente perceber essa importância”, avalia ela, que atua no consultório particular e também na rede pública, em Venâncio Aires.
Vida real
Para a pediatra Fernanda Almeida, é fundamental desmistificar a amamentação. Ela observa que geralmente se retrata apenas “a parte bonita da mãe amamentando o seu bebê”, mas o começo é desafiador. De acordo com ela, o apoio familiar e, quando necessário, uma consultoria de amamentação, contribuem para que se consiga prolongar ao máximo possível o aleitamento e torná-lo bom para a mãe e o bebê.
“Não é fácil amamentar. Várias mães passam por problemas de dores na mama, é um momento extremamente cansativo, de dedicação exclusiva para o bebê. As mães realmente precisam de muito apoio, muito suporte para poder fazer essa amamentação o máximo de tempo possível.”
FERNANDA ALMEIDA
Pediatra
Benefícios para a mãe
1Ajuda na prevenção de câncer de mama e de colo de útero
2 Contribui para prevenir hemorragias no pós-parto
3 Vínculo com o bebê
Exclusivo até os 6 meses
• O aleitamento materno é indicado exclusivamente até os seis meses de idade. “Esse bebê, até os seis meses, não necessita receber nada além do leite materno. Não se recomenda oferecer nada além, nem chá, nem água”, esclarece a pediatra Fernanda Almeida.
• Como a licença-maternidade é de quatro meses – com exceção de servidores públicos e algumas empresas que garantem seis meses – uma das alternativas para possibilitar que o bebê siga recebendo exclusivamente o leite materno é a tirar o leite e armazená-lo congelado ou refrigerado. Dessa forma, poderá ser oferecido à criança quando estiver longe da mãe.
• Mães que estejam amamentando seus bebês também têm o direito de ir, uma vez ao dia, até a escola da criança, para amamentá-la.
• O Brasil pretende chegar a 70% de aleitamento exclusivo até 2030. A meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que, até 2025, pelo menos 50% das crianças de até seis meses de vida sejam amamentadas exclusivamente.
• Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), publicado em 2021, mostrou que o índice era de 45,8%. Ele representa um avanço relevante em cerca de três décadas, pois o percentual era de 3% em 1986.
• Na década de 1970, as crianças brasileiras eram amamentadas, em média, por dois meses e meio. Agora, a duração média é de 16 meses, o equivalente a um ano e quatro meses de vida.
A importância de conhecer o assunto e buscar ajuda
Assim como a pediatra Fernanda Almeida, a fisioterapeuta e consultora em amamentação Paola Petterini Pedroso afirma que muitas vezes acontece uma quebra de expectativa no início da amamentação, por conta dos desafios, e isso faz com que muitas mães não consigam amamentar.
“Vemos nos filmes e nas novelas, que logo depois do parto, as mulheres colocam o bebê no peito e saem amamentando, mas não é assim. É difícil, exige esforço, tempo, dedicação, e mesmo assim nem sempre vai ser como a mulher gostaria que fosse. São poucas as mães que não têm nenhuma dificuldade durante a amamentação”, observa.
Entre os problemas mais comuns, segundo Paola, estão dor para amamentar, fissuras – pequenos cortes nos mamilos – e a mastite, popularmente conhecida como ‘leite empedrado’, que ocorre quando há um acúmulo de leite que foi produzido mas não saiu.
Além disso, a profissional também lembra que muitas vezes as dificuldades não se referem à mulher. “Às vezes é o bebê, às vezes são os dois. Precisa que os dois se encaixem direitinho para realizar essa amamentação, como se fosse uma chave e uma fechadura”, exemplifica.
Para a consultora de amamentação, é importante que a mulher se prepare já durante a gestação. “Com informações, estudando sobre a amamentação, para ela saber o que realmente é normal, o que não é e quando procurar ajuda”, observa.
“A amamentação traz inúmeros benefícios tanto para a mulher, como prevenção ao câncer de mama e o retorno do corpo depois do parto, quanto para o seu bebê, com questões imunológicas. Por isso deve ser sempre incentivada. Se o bebê mama no peito, há diminuição do risco de alergias e de doenças.”
PAOLA PETTERINI PEDROSO
Consultora de amamentação
Apesar das dificuldades, a consciência sobre a relevância do aleitamento
Mãe da Helena, de 11 meses, a arquiteta Ana Maria Klafke, 31 anos, encarou diversos desafios com a amamentação. “Este momento, que é tão sonhado e idealizado por tantas mamães, também foi por mim. Esperei esse momento sublime, mas infelizmente ele não aconteceu conosco”, compartilha.
Ela conta que, desde o primeiro dia de vida da Helena, a pega incorreta na hora da mamada fez com que tivesse bastante machucados e dor na hora da amamentação. “Cada vez que ela ia mamar, era uma ansiedade diferente, porque eu sabia que ia doer”, relata ela, que chegou a buscar ajuda de consultora de amamentação.
A bebê mamou no peito por dois meses e 15 dias, período no qual Ana teve cinco mastites e encarou muita dor e um abcesso que quase precisou operar. Apesar disso, quando Helena parou de mamar, a mãe decidiu seguir com o aleitamento materno, por conta dos benefícios para a bebê. Para isso, extraiu o leite e ofertou na mamadeira, até que a filha completou seis meses.
Para isso, testou três tipos de máquinas, até se adaptar. A extração do leite era feita em diversas vezes ao longo do dia. “Foi um processo difícil aceitar que aquele momento mágico da amamentação não estava chegando, mas quando a gente começa a compartilhar, vê que as dificuldades na amamentação são mais comuns do que se pensa.”