Na safra 2023/24, excesso de chuva e enchente impactaram no arroz, milho, soja e trigo, as principais culturas de grãos em Venâncio.
Cinco meses depois da grande enchente, os problemas causados pelo clima seguem refletindo na agricultura. Em Venâncio Aires, dados da Emater/RS-Ascar referentes à safra 2023/24 apontam uma queda significativa na produção de milho, arroz, soja e trigo, os principais grãos cultivados no município.
Considerando o que foi plantado nas quatro culturas, foram 20,4 mil hectares, mas 15 mil colhidos, o que dá uma quebra de 26,4% na área plantada. Já do que estava projetado em volume, a expectativa era colher um total de 104,4 mil toneladas de arroz, milho, soja e trigo, no entanto, o que se conseguiu tirar da lavoura chegou a 80,4 mil toneladas – queda de 23%. “No caso do arroz, além da inundação com as enchentes, já houve problemas com calor excessivo em janeiro. A soja teve excesso de chuva ainda antes de maio, e o milho, além da precipitação, enfrentou problemas com doenças fúngicas”, explica o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.
Quebra na soja passa de 50%
Entre as principais culturas de grãos, a maior quebra foi na soja. Foram colhidos apenas 3.540 hectares dos 6,8 mil plantados, resultando em 10,7 mil toneladas. São 53% a menos das 23 mil toneladas previstas no fim de 2023.
Produtor em Vila Estância Nova, Evandro da Rosa, 48 anos, perdeu os 130 hectares de soja que tinha plantado nessa safra. “Infelizmente, não colhi nada. Não se aproveitou nada”, lamenta. Além do excesso de chuva – chegou a mil milímetros na propriedade entre o fim de abril e início de maio – que fez apodrecer a planta na lavoura, parte da terra foi inundada pelo arroio Castelhano. Rosa cultiva soja há 13 anos e, segundo ele, mesmo nos anos mais difíceis de estiagem, essa foi a primeira safra em que perdeu tudo.
Em março de 2024, a Folha do Mate esteve na propriedade dele. Na época, a expectativa do produtor era positiva e a própria Emater projetava um recorde no município com a soja. No caso de Evandro da Rosa, a projeção era chegar a cerca de 40 sacos por hectare, o dobro do que colheu na safra anterior, que foi duramente impactada pela seca. “A gente não pode nem comparar, porque muitas pessoas perderam a casa e a vida no que aconteceu em maio. Mas honestamente estou pensando até em vender a terra, pagar as contas e parar de plantar”, revela, desmotivado.
Além de 53,46% a menos na produção (volume colhido) de soja, o milho caiu 14,81%, o trigo 14,23% e o arroz 11,1%.
Produção de grãos tem recuperação no estado*
Na metade de setembro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou o 12º levantamento de safra de grãos do ciclo 2023/24. De acordo com os dados, a produção no país está estimada em 298,41 milhões de toneladas, redução de 6,7% ou de 21,4 milhões de toneladas em relação à safra passada.
Já o cenário no Rio Grande do Sul, conforme a Conab, é de recuperação. O estado, que produz 12,4% da safra nacional, se encaminha para ter sua segunda maior colheita de grãos. A produção deve chegar a 37,1 milhões de toneladas – 34,5% a mais do que no ciclo anterior, quando foram colhidas 27,6 milhões de toneladas. Isso coloca o estado na terceira posição de maior produtor de grãos do país, atrás de Mato Grosso e Paraná.
Apesar das adversidades durante o ciclo das culturas, sobretudo ao final da colheita, as lavouras apresentaram um desempenho melhor do que na última safra, o que justifica o resultado na produção gaúcha. A área plantada nesta safra soma 10,4 milhões de hectares, uma elevação de 1%.
As principais culturas do estado seguem apresentando alta na produção. O crescimento é de 51% na soja, de 44,5% no trigo, de 30% no milho e de 3,3% no arroz. No que diz respeito ao tamanho das lavouras, o crescimento foi de 3,2% na área plantada com soja e de 4,4% na área com arroz. Já as áreas de trigo e milho tiveram redução de, respectivamente, 10,6% e 2%. (*Fonte: AI Conab)