Grupo de pesquisa da UFRGS esteve em Venâncio entre maio e junho para avaliar áreas onde houve movimentos de massa, como deslizamentos.
Integrantes do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais (GPDEN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizaram, entre maio e junho, visitas a diversos municípios gaúchos que registraram ocorrência de movimentos de massa. O objetivo das visitas foi avaliar, de modo preliminar e em caráter de urgência, os riscos desses movimentos que iniciaram durante o evento climático extremo ocorrido entre o fim de abril e início de maio.
Venâncio Aires, que além de sofrer com as enchentes históricas do rio Taquari e dos arroios Castelhano e Sampaio, também registrou grandes deslizamentos e desmoronamentos na região serrana. Por isso, o município também foi visitado (dias 25 de maio e 1º de junho) pela equipe liderada pelo professor doutor Masato Kobiyama. O grupo percorreu alguns pontos do interior, principalmente nas linhas Arroio Grande, Sexto Regimento, Andréas, Santos Filho, Silva Tavares, Julieta, Cachoeira e América.
Segundo o geólogo Rossano Dalla Lana Michel, devido à condição geomorfológica (relevo), a região norte, com as maiores declividades, foi mais afetada por movimentos de massa, enquanto a região sul, com uma morfologia mais plana e baixa, foi atingida pela inundação. “Entre os tipos de movimentos de massa observados estiveram escorregamentos, translacionais e rotacionais, e fluxos de detritos. A geomorfologia nas regiões mais acidentadas é uma condição facilitadora para a ocorrência desses movimentos durante períodos de chuvas intensas. Essas regiões são suscetíveis a ocorrência de novas movimentações em momentos de muita chuva, exigindo que a população busque medidas para prevenção em caso de novas ocorrências”, explicou o geólogo.
Como foi feita a análise dos movimentos de massa
Conforme Rossano Dalla Lana Michel, o GPDEN buscou coletar informações para realizar uma avaliação prévia do risco ao qual os moradores estavam expostos. “Risco pode ser considerado como uma relação entre perigo natural, potencial de ocorrência do movimento de massa, e vulnerabilidade, com exposição dos moradores àquela ocorrência.”
Em campo, os trabalhos iniciaram com entrevistas aos moradores, buscando compreender como o perigo natural ocorreu ou estava ocorrendo, somado ao entendimento da vulnerabilidade daqueles moradores, ou seja, se tinham lugar para se abrigar durante chuvas, se possuíam rotas de fuga em caso de emergência e se estavam cientes do risco ao qual estavam expostos.
O pesquisador explica que, após a entrevista, o grupo partiu para avaliação técnica do movimento de massa, buscando definir o tipo de movimento, a área de ocorrência, as áreas potencialmente suscetíveis à nova movimentação, a possibilidade de reativação de algum movimento que já havia ocorrido e observação da existência de estruturas de uso humano na área que poderia ser atingida.
“Após essa análise em caráter urgente, visando a proteção das pessoas, foram dadas sugestões aos moradores bem como para a Defesa Civil do município. Também foi elaborado relatório preliminar para a Defesa Civil. Nele estão descritas as informações observadas na visita técnica, além de sugestões de providência em caso de necessidade de evacuação em momentos de chuva forte.”
Nível de singularidade
Com a visitação em caráter de urgência, Rossano Michel destaca que, quando se trata de desastre natural relacionado a movimento de massa, cada localidade tem algum nível de singularidade em relação ao perigo e vulnerabilidade das comunidades. “Pode-se afirmar que as regiões declivosas apresentam perigo de ocorrência de movimentos de massa, exigindo análises que identifiquem qual é o perigo a que está exposto e quais as vulnerabilidades que cada comunidade apresenta.”
“Informações podem ser utilizadas para a criação de cultura de alerta dos moradores”
Para o geólogo Rossano Dalla Lana Michel, uma análise do evento ocorrido entre abril e maio permite compreender um pouco quais foram os volumes de chuva que desencadearam os movimentos de massa. Assim, essa informação pode ser utilizada para criação de cultura de alerta dos moradores.
“Como a região apresenta de modo constante o perigo natural, os moradores devem aprender a se prevenir para ocorrências futuras. Isto é, devem conhecer a região em que vivem, entendendo qual o risco existente, já que pode ocorrer um escorregamento ou pode ser atingido pela inundação. Também devem avaliar a condição de chuva que apresenta risco e, em caso de chuva extrema, não hesitar em sair do local de risco por algum tempo. A redução de risco envolve, em primeira instância, a busca por evitar as perdas de vida humana. Assim, independente das atividades dos setores públicos, cada morador deve aprender a se proteger.”
Minimizar danos futuros
Ainda segundo o pesquisador, para minimizar os danos futuros causados pela ocorrência de desastres naturais, a população deve se integrar na realização de medidas que busquem a redução de risco de desastres. “Algumas medidas são de competência do poder público, como criação de base de dados, dados de chuva e de terreno, monitoramento dos rios e de chuva, e estruturação do setor de proteção e Defesa Civil. Outras devem ocorrer em cooperação entre poder público e sociedade, como o mapeamento participativo de áreas suscetíveis a inundações e a movimentos de massa.”
Ele completa dizendo que outras medidas ainda cabem a qualquer habitante, como participação ativa em Núcleos de Proteção e Defesa Civil, organização voluntária montada pelos próprios moradores de uma comunidade que coordena ações entre a comunidade e a Defesa Civil, e busca por conhecimento na gestão de risco de desastres.
Avaliação no estado sobre movimentos de massa
O trabalho de pesquisa também percorreu outros municípios e, segundo avaliação, as chuvas de maio desencadearam no maior número de ocorrência de movimentos de massa que se tem registro na história do Brasil. “Constatou-se que a escassez de pessoas capacitadas para avaliar os movimentos de massa em cada município representou uma limitação significativa na agilidade desse trabalho crucial. Além disso, as defesas civis, ainda pouco estruturadas, não tiveram poder de ação durante a ocorrência do desastre. É urgente a necessidade de se capacitar pessoas para trabalhar na Gestão de Risco de Desastre, bem como capacitar as defesas civis para atuarem nas diferentes etapas de um desastre natural”, afirmou Rossano Michel.
Para o geólogo, uma alternativa viável é acrescentar profissionais capacitados no Setor de Proteção e Defesa Civil, além de fornecer estabilidade profissional para funcionários, de modo que possam permanecer por mais tempo. “Uma gestão efetiva do risco de desastre se faz ao longo do tempo, especialmente em momentos anteriores à ocorrência do desastre. Cada município precisa de profissionais que tenham a possibilidade e capacidade técnica de construir planos de redução de risco para cada localidade.”
“Cada cidadão deve conhecer os perigos que existem no local onde mora, se está vulnerável à inundação ou a movimentos de massa, aprender sobre volume de chuva que apresente perigo e saber caminhos de fuga em momentos de ocorrência de desastre.”
ROSSANO DALLA LANA MICHEL – Geólogo e integrante do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais (GPDEN) da UFRGS
Saiba mais
Movimentos de massa podem ser definidos como a movimentação encosta abaixo do material que se encontra instável (rochas, solo e vegetação), sob influência da gravidade. No Brasil, esses movimentos tendem a ser desencadeados essencialmente por chuvas intensas.
De acordo com Rossano Michel, movimentos de massa que ocorrem em encostas naturais podem ser subdivididos em cinco tipos: escorregamentos translacionais, escorregamentos rotacionais, fluxos de detritos, rastejo e queda de blocos.
Aterros e cortes de terra inadequados executados na encosta para realização de construções, como residências ou rodovias, podem facilitar a ocorrência de movimentos do material da encosta. Nesse caso é comum denominar esses eventos de desmoronamentos ou desbarrancamento.