Na sexta-feira, 11, o auditório da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva) foi o palco do seminário ‘Recuperação de matas ciliares e áreas degradadas pós-enchentes’, evento organizado pela Prefeitura de Venâncio Aires, em parceria com o Conselho Municipal de Meio Ambiente e o Movimento Pró-Matas Ciliares do Vale do Taquari.
Com cerca de 130 participantes, de 13 municípios, entre autoridades, técnicos ambientais e estudantes da Capital do Chimarrão, as palestras debateram, essencialmente, as melhores opções para a recuperação das áreas degradadas, técnicas de engenharia natural, cuidados nas escolhas das técnicas e das espécies a serem plantadas, além de apresentar o projeto Muda, da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
Na avaliação da secretária municipal de Meio Ambiente, Carin Gomes, os palestrantes expuseram de forma técnica e, ao mesmo tempo simples, a importância da mata ciliar e as metodologias que podem ser aplicadas para sua recuperação de forma efetiva. “Todos enfatizaram a importância da escolha adequada das espécies a serem implantadas nas áreas atingidas e demonstraram a eficiência de aplicar métodos de engenharia natural”, detalhou. Ainda, destacou que o projeto Muda, parceria entre Unisc e CTA Continental, será desenvolvido no arroio Castelhano.
Conforme a bióloga, professora da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e integrante do Movimento Pró-Matas Ciliares do Vale do Taquari, Elisete Maria de Freitas, que foi palestrante, este é o terceiro evento com a temática na região, com a participação do Movimento, sendo o primeiro em Venâncio Aires. “Já estivemos em Encantado e na Univates, em Lajeado. Nos dois primeiros nós organizamos tudo, e aqui somos colaboradores, trazendo o conhecimento adquirido no projeto”, enfatizou.
Elisete afirmou que eventos como este são muito importantes, pois, além de expandir a discussão acerca da temática, coloca a área ambiental na pauta dos governos municipais. Segundo a professora, a Prefeitura de Venâncio Aires tem sido um das principais parceiras no debate. “Como eu queria que todos se importassem tanto. Em termos gerais, ainda é um assunto que tem recebido pouca atenção”, acrescentou.
Inércia com relação a ações nas matas ciliares
De acordo com ela, o principal desafio atualmente é vencer a inércia dos governantes e dos profissionais da área ambiental, pois falta união entre os municípios, as universidades e os especialistas. “Quando olhamos os planos de governo, são poucos os que colocaram a pauta da restauração e recuperação das matas ciliares, ou mesmo de gestão dos resíduos nas cidades.”
Avaliação
O promotor de Justiça regional do Meio Ambiente e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas, Sérgio Diefenbach, também participou do seminário. Ele observou que o evento foi bastante técnico, dando a palavra para profissionais da área. “É muito importante debatermos esse assunto, pois não há a menor chance de mantermos um ecossistema se continuarmos agredindo o meio ambiente desta forma”, destacou.
“Ouso dizer que um evento desses trata um dos temas mais importantes das próximas décadas, que é o cuidado do nosso ecossistema e as medidas que nós podemos e devemos tomar.”
SÉRGIO DIEFENBACH
Promotor de Justiça regional de Meio Ambiente
Conforme Diefenbach, será necessário união entre sociedade, governos e técnicos para que, a longo prazo, se reduza o impacto e seja possível uma recuperação ambiental. “É longo prazo, mas precisamos começar o mais rápido possível”, enfatizou.
Ações
Nas primeiras semanas e meses após a tragédia climática de maio, governos municipais, estadual e federal, elencaram possibilidades de ações para reduzir o impacto de novos eventos climáticos. No entanto, conforme o promotor Sérgio Diefenbach, pouco avançou, mas há a percepção de que os governos realizam a procura de diagnósticos para iniciar intervenções nos locais atingidos. “Empresas estão sendo contratadas para avaliar a situação das nossas bacias hidrográficas.”
Diefenbach aponta que nenhuma das esferas governamentais estavam preparadas para a tragédia de maio e ainda não estão prontas para ocasiões futuras. Ele afirma que não se trata apenas de plantar árvores ou realizar dragagens, existe a necessidade de um cuidado especial com os cursos hídricos e um entendimento de qual processo de engenharia pode ser realizado e com quais equipamentos.
“É um contexto que precisa ser estudado, inclusive alguns pontos de retirada de excesso de produtos e materiais dentro do próprio rio. Isso precisa de estudos, estudo é caro e essa contratação, me parece que é o que está mais próximo de acontecer dentro das necessidades”, considera Diefenbach.
“A área ambiental está ficando muito de fora [dos planos governamentais], a comunidade e os políticos precisam entender que se a gente não cuida do ambiente, a gente está descuidando da nossa saúde em primeiro lugar. Não podemos trabalhar o econômico sem considerar o ambiente.”
ELISETE MARIA DE FREITAS
Bióloga e professora
Palestras sobre recuperação das matas ciliares
• ‘Recuperação de áreas degradadas’, com Matheus Degrandi Gazzola, doutorando em Engenharia Florestal e integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): restauração ecológica, importância das matas ciliares, porque é necessário restaurar, e que custa menos para conservar do que agora ter que restaurar.
• ‘Recuperação de matas ciliares e técnicas de engenharia natural’, com Elisete Maria de Freitas, bióloga, doutora em Botânica, professora na Universidade do Vale do Taquari (Univates) e integrante do Movimento Pró-Matas Ciliares do Vale do Taquari: erros e acertos nas técnicas de engenharia natural e os principais projetos de restauração utilizados no rio Taquari e Forqueta.
• ‘Cuidados na escolha das técnicas de engenharia natural’, com o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, membro do Movimento Pró-Matas Ciliares: possibilidades e alternativas, para melhor plantio.
• ‘Projeto Muda/Unisc’, com Priscila Pacheco Mariani, doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS), mestre em Ciência do Solo pela UFRGS, graduada em Engenharia Ambiental): projeto de replantio de mudas no rio Pardinho e no arroio Castelhano.