Dia do Produtor de Tabaco: “Data para dar visibilidade a um setor com mais de 500 anos de história”, diz diretora-executiva da ITGA

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Nesta segunda-feira, 28, é celebrado o Dia do Produtor do Tabaco, uma data que tem comemoração internacional. Se no Brasil é a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) que representa os produtores de tabaco, em âmbito mundial cabe à Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA – sigla em inglês) o papel de ser a voz dos homens e mulheres do campo que plantam tabaco. Foi em uma assembleia da entidade, em outubro de 2012, que a data que homenageia esses agricultores foi instituída.

Uma das principais lideranças internacionais na defesa dos produtores de tabaco da atualidade e que acompanhou o movimento para inserir o 28 de outubro no calendário mundial é Mercedes López Vázquez, da Espanha. A diretora-executiva da ITGA, primeira mulher a liderar a entidade em quatro décadas, iniciou sua trajetória na associação em 2010, durante a campanha global desenvolvida pela associação para a 4ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 4), que foi realizada no Uruguai. “Tive a responsabilidade de fazer o levantamento das 238 mil assinaturas de produtores de todo o mundo, que foram entregues nessa Conferência das Partes ao Secretário Geral do Convenção-Quadro”, relembra.

Nesta semana, às vésperas do Dia do Produtor de Tabaco, ela concedeu entrevista à Folha do Mate. Mercedes destacou a origem da data, falou sobre o sistema integrado de produção no Brasil, que é o segundo maior produtor de tabaco do mundo, atrás apenas da China, e das principais demandas dos produtores de tabaco no cenário internacional.

Folha do Mate – Como e quando surgiu a ideia de criar um dia mundial dedicado aos produtores de tabaco?
Mercedes Vázquez – A primeira grande campanha mundial da ITGA para opor a ofensiva vinda da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde (OMS) ocorre em 2010, durante 4ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro Para o Controle do Tabaco, no Uruguai. Os resultados desta conferência foram uma chamada de alerta para o que acabou, infelizmente, por se verificar: um sério ressurgimento das políticas antitabagistas. A ideia da celebração do Dia do Produtor surgiu da necessidade de dar visibilidade a um setor que está ligado há mais de 500 anos de história e que, ao longo destes muitos anos, tem contribuído para um desenvolvimento econômico e social, principalmente em zonas rurais. A celebração do Dia do Produtor é também uma mensagem que encoraja os produtores, e o setor em geral, a juntar esforços para combater a estigmatização da nossa cadeia de valor. Instituir um dia de celebração da lavoura do tabaco é dizer: o nosso trabalho é digno.

Atualmente, quantos países têm produção de tabaco?
Se falarmos de países com uma produção significativa podemos contar com um número aproximado de 20 países em todo o mundo. A Europa continua a diminuir a produção, mas ainda pode ser considerada uma base de produção de tabaco como região no contexto mundial.

Quantos produtores de tabaco existem no mundo?
A estimativa, se contarmos não só com os produtores, mas também com os trabalhadores, é de 40 milhões, aproximadamente. É preciso ter em conta que é difícil falar em números em um setor como o nosso, onde as dinâmicas de mercado sofrem constantes mudanças mesmo no número de pessoas envolvidas na produção. Neste ponto em particular é onde podemos sofrer um sério impacto a curto prazo. As novas gerações não se sentem atraídas pela lavoura de tabaco. As margens de lucro não são tão atrativas numa lavoura que requer uma mão de obra intensiva e o campo simplesmente não é apelativo.

Como o tabaco brasileiro, produzido na região Sul do país, é classificado no cenário internacional?
O mundo observa o impressionante desenvolvimento que o Brasil tem experimentado nos últimos 20 anos. Não só em matéria de produção, onde já é visto como um dos tabacos de melhor qualidade e transparência no mundo, mas também na visão pioneira do setor (com Afubra na liderança) para estabelecer os pilares necessários para compensar o impacto da produção em matérias sociais e ambientais. Neste contexto de trabalho de excelência, não se entende porque a delegação oficial do Brasil lidera a ofensiva vinda da CQCT.

Você já visitou a região do Vale do Rio Pardo, que concentra importante produção e beneficiamento do tabaco no Brasil. Qual impressão que você teve do que viu nas lavouras e indústrias da região?
Visitei em diferentes ocasiões a região e a cada vez sempre fico impressionada. O fator evolução é inerente. Não existe estagnação. A cadeia produtiva trabalha em conjunto nos fatores comuns. Os produtores são bem informados e estão sendo preparados para as diferentes dinâmicas de mercado e para as culturas complementares que podem acrescentar valor aos seus negócios.

A ITGA completa 40 anos em 2024 e realizou, há poucos dias, a assembleia geral anual, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Quais as principais pautas que foram debatidas? Em âmbito internacional, qual a principal demanda dos produtores de tabaco?
A ITGA continua sendo a instituição internacional dos produtores e o fato de termos completado 40 anos prova a sua relevância neste contexto. Durante a assembleia, a discussão esteve centrada na rentabilidade dos negócios dos produtores e na sua gestão das propriedades agrícolas. Este novo ponto que ocupa um lugar prioritário na nossa agenda veio em resultado de um estudo realizado pela ITGA onde se constata que a produtividade das lavouras de tabaco a nível mundial, nos últimos 20 anos, tem se mantido estagnada e em alguns casos diminuído.
Esta tendência que não pode ser vista como positiva, é ainda mais importante se comparada com outras culturas alimentares, como é o caso da soja e o milho, com um aumento na produtividade que duplicou nos últimos 20 anos. O objetivo principal das nossas reuniões será oferecer informações que sejam vantajosas para os nossos membros. Informação que sirva de ajuda aos produtores na gestão dos seus negócios. Cada vez mais, a ITGA está concentrando esforços a nível educacional teórico e prático e a recente assembleia anual em Carolina do Norte foi um excelente ponto de partida.

Como o sistema integrado de produção de tabaco do Brasil é visto por outros países?
É o sistema que prevalece na maior parte dos países, visto com normalidade, apesar de existir alguma desconformidade por parte dos produtores na prevalência deste sistema, já que consideram que o que sobra é o poder de negociação.

Como a ITGA vem acompanhando os debates sobre os dispositivos para fumar (DEFs), especialmente no que se refere ao tabaco que contém nestes equipamentos?
A ITGA acompanha de perto todas as categorias de produtos do tabaco, novos e emergentes, tentando sempre estabelecer o impacto direto nos produtores. No nosso entender, a nicotina encontrada nos novos tipos de dispositivos é principalmente derivada da folha de tabaco. Atualmente, as alternativas sintéticas são muito caras. No entanto, o conteúdo exato permanece muitas vezes um mistério, especialmente quando a maioria dos novos produtos de vapor eletrônico nos principais mercados, como os EUA, pertence ao mercado ilícito. Nos produtos de tabaco aquecido, o tabaco em folha é mais fácil de identificar e, por consequência, de analisar, mas temos visto variantes de produtos que não contêm qualquer tabaco. Com base nas previsões do nosso parceiro Euromonitor, três em cada quatro unidades de vendas continuarão a abastecer com cigarros até 2028, demonstrando que esses produtos alternativos continuam a ser uma parte menor da indústria.

A próxima COP ocorrerá em novembro de 2025. Historicamente, a ITGA não tem espaço para defender os produtores na conferência. Há alguma mobilização para reverter isso?
No nosso parecer, os esforços devem ser concentrados a nível de país ou de região. A porta da conferência está fechada para o setor através do artigo 5.3 [que trata sobre a interferência da indústria]. O fruto da nossa insistência para a inclusão nos últimos 20 anos, infelizmente, só tem servido para endurecer mais o âmbito deste artigo. Cada país tem um papel a desempenhar para que, chegada a hora da conferência, os nossos argumentos se vejam legitimamente representados no âmbito das discussões. As associações desempenham um papel fundamental neste sentido. Elas deveriam encabeçar esta conscientização junto dos seus governos. Não podemos misturar mensagens. A cadeia de valor atua de forma coesa nas questões do COP, mas os produtores e os seus representantes devem posicionar-se com uma mensagem própria que só é inerente a este elo da cadeia de valor. É aí onde a ITGA está a concentrar os seus esforços, em ajudar as nossas associações a desenvolver esta função de liderança nos seus países.

Mercedes conhece a região do Vale do Rio Pardo, onde já visitou produtores

História

  • Em um assembleia da ITGA, em outubro de 2012, foi instituído o Dia do Produtor de Tabaco. A origem da data nos conecta a um nome conhecido dos livros de História: Cristóvão Colombo. Em 28 de outubro de 1492, Colombo navegava em direção às Américas e dois tripulantes da embarcação visitaram o que viria a ser a ilha de Cuba.
  • Neste local, eles encontraram nativos e testemunharam um ritual em que a fumaça de folhas queimadas é inalada através de um tubo. Assim aconteceu a apresentação das folhas conhecidas pelos nativos como ‘Cohiba’ e que mais tarde seria chamada no mundo todo como tabaco.
  • Oficialmente, no Rio Grande do Sul, o Dia do Produtor de Tabaco foi instituído pela Assembleia Legislativa por meio da Lei 14.208, de março de 2013, de autoria do deputado estadual Heitor Schuch (PSB).
Mercedes Vázquez
Mercedes Vázquez é diretora-executiva da Associação internacional dos Produtores de Tabaco


Letícia Wacholz

Letícia Wacholz

Atua há 15 anos na Folha do Mate e desde 2015 é editora da Folha do Mate. Coordena a produção jornalística multiplataforma do grupo de comunicação. Assina a coluna Mateando, a página 2 do jornal impresso.

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