Recentemente, escrevi sobre as dores rubro-negras. A espinhosa e demorada tarefa do Guarani na luta pelo retorno à elite do futebol gaúcho. Aludi sobre As dores do Mundo, título de uma música do cantor Hyldon, sucesso na década de 70, e também de uma obra clássica da filosofia alemã, escrita por Schopenhauer. Meu intento foi refletir sobre o sofrimento e os motivos da longa espera do Guarani. E não é que no futsal, guardadas as proporções, temos também as dores da Assoeva.
Vivendo por viver
As campanhas ruins, as enormes dificuldades financeiras, o abandono por parte de muitas pessoas, antes tão próximas, potencializam ares de incerteza quanto ao futuro da entidade. A Assoeva passou a temporada 2024 vivendo por viver, como diz o título da música de Márcio Greick, na voz de Roberto Carlos. O rei canta a perda de um grande amor e o viver de lembranças. A Assoeva, o abandono de muitos amores, não apenas um. Dirigentes, apoiadores e até mesmo boa parte de torcedores.
As lembranças boas
As campanhas de 2017 estão mais vivas na memória do torcedor. A Assoeva, fundada muitos anos antes, com o propósito de organizar competições amadoras no município, principalmente futebol de campo e futsal, conquistou o título estadual, pela primeira vez, e o vice-campeonato da Liga Nacional de Futsal. Foram tantos jogos memoráveis – Magnus, ACBF, Joinville, para recordar alguns – e com o Ginásio Poliesportivo lotado. Esse lugar mágico, palco do canto retumbante da torcida organizada Febre Amarela que veio a ecoar Brasil afora. “Não é mole não, o bicho pega na Terra do Chimarrão”.
Esperando Godot
É o título de uma peça escrita por Samuel Beckett, escritor e dramaturgo irlandês, onde os personagens passavam a peça inteira esperando por alguém que nunca chegava. A vida passava e a espera só fazia aumentar a dor silenciosa, a dor da angústia, da ausência de sonhos. Penso que as lágrimas do capitão Rafa, do treinador Vandré da Costa e do supervisor Eliel Hammes, ao final de jogos no Poliesportivo, exteriorizaram esta dor silenciosa a que se refere Beckett.
O cantor e o dramaturgo
A canção de Roberto Carlos diz muito da dor da perda, mas também da persistência da esperança. Por isso, ele canta: “E ainda espero a cada dia a sua volta, é só você querer”. Bem diferente de Beckett, onde o estado de não-ação remete a uma visão em que a esperança é constantemente frustrada. Nesse sentido, os choros de Rafa, Vandré e Eliel podem ser compreendidos como um grito de socorro, antes que a esperança morra. O alguém que nunca chega deve chegar para aplacar todas as dores.