O uso de tecnologias na agricultura tem ganhado cada vez mais espaço entre os produtores rurais, tanto no que diz respeito a inovações voltadas aos insumos quanto em novidades no segmento de equipamentos. Em Venâncio Aires, um exemplo disso é o casal Fernando Rodrigo Vogel, 38 anos, e Makeli Alexandra Stertz, mais conhecida como Keli, 37 anos. Há pouco mais de um ano, eles compraram um drone agrícola.
Eles residem no bairro Bela Vista e parte da vida profissional é dedicada ao cultivo de soja em Linha Campo Grande, no interior do município. Os dois começaram a trabalhar com a agricultura há oito anos. Fernando, além de agricultor, é gerente de negócios da carteira agrícola da Cooperativa Sicredi na Capital do Chimarrão. E foi justamente a partir dessa experiência profissional que ele teve o interesse pela produção agrícola despertado.
Já Makeli trabalhava no setor financeiro da America Embalagens e, em agosto de 2023, após anos amadurecendo a ideia, decidiu sair da função para se dedicar exclusivamente à produção rural. “Não foi uma decisão fácil, porque eu gostava muito do meu trabalho. Mas não me arrependo. Essa escolha também me possibilita estar mais perto dos nossos dois filhos [Alice, de 4 anos, e Gabriel, com quatro meses]. O Fernando também estava muito sobrecarregado, porque antes de me desligar da empresa eu não me envolvia com nada da lavoura”, relata Makeli. Antes disso, ela não tinha contato com a agricultura. “Minha família não é do interior”, observa.

Piloto de drone
Além de cuidar, especialmente, da parte administrativa que envolve o cultivo de soja nos 110 hectares de terra arrendados por ela e pelo marido, Makeli é pilota de um drone agrícola, que foi adquirido pelo casal em dezembro de 2023. Foi no mesmo ano que os dois decidiram investir na aquisição de máquinas para serem usadas no trabalho no campo, pois antes todos os serviços eram terceirizados.
Eles já chegaram a plantar soja em áreas que totalizavam 270 hectares, mas como grande parte delas fica localizada na região de Vila Mariante, no ano passado sofreram prejuízos em razão da enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul e decidiram reduzir a quantidade a partir desta safra.
Durante a semana, as atividades agrícolas são lideradas por Makeli. Fernando auxilia nos fins de semana e nos horários livres, após o expediente na Sicredi. O casal ainda conta com a ajuda de um funcionário. O drone comprado em 2023 é da marca DJI, modelo T40, e é um equipamento importado da China. A aeronave (não tripulada) tem capacidade de transportar 40 litros e pode ser usada na pulverização, dispersão de sólidos, adubação de coberturas e semeio de pastagens. No caso de Makeli e Fernando ela é utilizada, especialmente, para a pulverização de defensivos.
Os agricultores usam o drone apenas nas próprias lavouras e não têm a pretensão de oferecer prestação de serviços para outros produtores. A decisão foi tomada após a análise de diversos fatores. Entretanto, eles já auxiliaram alguns amigos agricultores com algum serviço. Fernando lembra, por exemplo, de uma ocasião em que eles ajudaram um vizinho de propriedade na semeadura de arroz.
Como eles arrendam a terra apenas no verão – o plantio da soja é feito entre novembro e dezembro e a colheita finalizada em abril -, após colherem o grão, fazem a semeadura de pastagem com o drone, pois no inverno essa mesma área é utilizada pelos proprietários para criação de gado. Além da aeronave, o casal tem trator, equipamentos de preparo do solo e plantadeira. O trabalho da colheita é terceirizado.
Curiosidades sobre o drone
- Todo o mapeamento da área onde os defensivos são aplicados é feito por GPS. Assim, o drone sabe exatamente por onde precisa passar para fazer a pulverização. O controle também tem imagens de câmera, que permitem o acompanhamento dos locais por onde a aeronave está trafegando. Ele decola e pousa no mesmo ponto e sempre retorna quando a bateria está chegando ao fim.
- Makeli e Fernando investiram R$ 238.500,00 na compra do drone. O valor foi financiado através de linha de crédito rural contratada junto ao Sicredi. Além da aeronave, o valor contempla gerador, um jogo de três baterias e um misturador de calda, no qual se prepara a aplicação dos defensivos antes deles serem colocados no tanque anexado ao drone.
- Outra curiosidade sobre o drone do casal é que ele é um dos únicos na cor rosa. “Eu brinquei que só ia aprender a pilotar se tivesse um drone rosa”, relembra Makeli. Por isso, o técnico responsável pela venda da aeronave providenciou a pintura dela na cor desejada pelo casal. “Participamos de algumas feiras e as pessoas nos questionam se somos nós que temos o famoso drone rosa. Ele chama atenção”, brinca Fernando.
- Antes de comprarem o próprio drone, Makeli e Fernando contrataram serviços terceirizados para aplicação de defensivos na propriedade para conhecerem o equipamento. Hoje, eles têm uma parceria para um auxiliar o outro, com o amigo Gabriel Bergenthal, agricultor de Linha Cerrito, que comprou o drone alguns meses depois do casal. “Isso eu acho muito legal na agricultura. Um ajuda o outro”, ressalta Fernando.

Preparação para ser piloto de drone agrícola
Para estar apta a pilotar o drone, Makeli precisou realizar uma formação obrigatória exigida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Inclusive, o equipamento só foi entregue após a conclusão de dois cursos teóricos, realizados on-line no período de uma semana, e de uma prova prática aplicada por técnicos da empresa onde o equipamento foi adquirido.
“Mostraram todo o funcionamento do drone e depois realizei a prova prática”, recorda Makeli. O exame foi feito nas lavouras onde o casal planta em Linha Campo Grande. Assim como a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), a autorização para pilotar drone também precisa ser renovada. Nesse caso, a cada cinco anos.
Makeli é a responsável por pilotar o drone, mas para garantir mais agilidade ao processo, Fernando ou o funcionário do casal ajudam na parte operacional, como a preparação dos defensivos.
O manuseio do drone agrícola
Entre os cuidados para se pilotar o drone agrícola está a análise das condições do vento. Por isso, o casal normalmente o utiliza nas plantações entre as 3h e às 7h. “É o melhor período, pois o vento não é tão forte nas nossas lavouras”, explica Makeli. São necessários de três a quatro dias para finalizar a aplicação em cada ciclo.
Makeli e Fernando destacam a alta tecnologia presente no modelo de drone comprado por eles. “Foram lançados outros modelos depois que compramos, mas temos a tecnologia mais avançada existente no mercado hoje”, comenta o agricultor. Eles também citam como ponto positivo a baixa vazão oferecida pelo equipamento – são de 10 a 12 litros por hectare.
“Um dos principais questionamentos que nos fazem é se ele realmente funciona. E, sim, comprovamos que ele dá resultado”, afirma Fernando. Como um dos principais benefícios apontados pelo casal está o fato de não amassar as plantas da lavoura em razão do uso de tratores para a aplicação dos defensivos, já que, no caso deles, todos são aplicados por via aérea.
