Venâncio-airenses têm descartado 52 toneladas de lixo por dia. Usina de triagem deve ser reativada através de uma PPP.

Talvez você nunca fez essa conta em casa, mas, se fizer, provavelmente vai se surpreender: quanto de lixo descartamos por dia? Em Venâncio Aires, arredondando a população para 70 mil habitantes, a média é de 740 gramas de resíduos produzidos diariamente por pessoa, ou seja, 52 toneladas totais. Seguindo a matemática, são 1.560 toneladas no mês e esse montante, além de assustar pela quantidade, assusta pelo custo. Isso porque aumentou 48% o volume em relação à média de um ano atrás, quando eram cerca de 35 toneladas por dia. Consequentemente, o processo encareceu e hoje a Prefeitura já precisa desembolsar R$ 8 milhões por ano devido aos resíduos. Fazendo mais uma comparação, o valor equivale a cerca de 80% de todo o orçamento de 2025 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-estar Animal.
Para o secretário da pasta, Gustavo Von Helden, o aumento do volume passa por fatores como população, a não separação adequada e a ampliação da coleta, já que o número de contêineres também cresceu. “O aumento do volume gerado atualmente se deve muito mais a fatores como desenvolvimento econômico e aumento populacional do que a ausência de uma triagem. No caso dos valores [veja box], é preciso considerar que os índices de preços dos contratos são reajustados todo ano e quanto mais lixo é levado, mais caro se torna, porque se paga pelo peso transportado.”

Ampliação da coleta de lixo
Foi em abril de 2022, há quase três anos, que a Prefeitura deu início a um novo sistema de coleta urbana, com novos caminhões, uma nova empresa responsável e novos e mais contêineres. Na época, eram 750 contentores totais para material orgânico e rejeitos (na cor verde) e para recicláveis (azul). Atualmente, são 924 contêineres – 371 azuis e 553 verdes. “Se ampliou a abrangência da coleta e naturalmente se recolhe muito mais resíduo”, considera Gustavo Von Helden.
Sobre as corriqueiras misturas de materiais percebidas dentro dos contentores, especialmente em bairros onde não há contêineres azuis e muitas pessoas depositam recicláveis junto com orgânico, o secretário atenta para a coleta seletiva. “Todos os bairros são atendidos com coleta seletiva, inclusive aqueles em que não há contêineres. Nos bairros em que existe contêiner verde, a orientação é colocar orgânicos e rejeitos nele e recicláveis na lixeira em frente ao seu domicílio ou pendurado na grade ou muro. Os coletores devem recolher este material separado, conforme orientado para a empresa prestadora do serviço.”
Contratos
- O contrato com a Terraciclo Coleta, que faz o recolhimento na cidade e no interior desde abril de 2022, era R$ 208 mil por mês há três anos. Hoje, conforme a Secretaria de Meio Ambiente, está em R$ 315.464,19 mensais.
- Em fevereiro de 2024, se rescindiu o contrato com a Cooperativa Regional de Catadores dos Vales do Taquari e Rio Pardo e a triagem na usina de Linha Estrela foi suspensa. Desde então, virou ponto de transbordo para as toneladas produzidas por dia em Venâncio, que de lá vão para um aterro.
- Esse aterro fica em Minas do Leão (distante 124 quilômetros de Venâncio). O transporte até lá é feito pela Ecopal – contrato de R$ 82,53 por tonelada. Considerando as 1.560 toneladas mensais produzidas em Venâncio, a Prefeitura gasta R$ 128,7 mil por mês com essa logística.
- Por fim, também há contrato com a Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), que faz o destino final no aterro sanitário. São R$ 146,03 por tonelada ou R$ 227,8 mil mensais.
- Esse três contratos demandam atuais R$ 672 mil por mês ou R$ 8 milhões por ano. Até o fim de 2023, o total girava em torno de R$ 6 milhões anuais.
Usina de triagem de lixo deve ser reativada através de parceria público-privada
O prefeito Jarbas da Rosa confirmou que o objetivo é reativar a usina de triagem e que isso deve acontecer através de uma parceria público-privada. A chamada PPP concede a entidades privadas o dever da prestação de serviços públicos. “Esse processo já está sendo trabalhado pela Secretaria do Meio Ambiente e estamos solicitando celeridade na resolução”, disse o prefeito.
O secretário de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-estar Animal, Gustavo Von Helden, também destacou a prioridade no assunto e que a Prefeitura está em vias de lançar um edital para contratar a nova empresa. “A secretaria trabalha atualmente um projeto para reativar a usina no mesmo local. No entanto, exigirá investimento significativo em infraestrutura, visando adequações que trarão mais segurança para a retomada da operação de triagem.”
Von Helden relatou que visitou outros municípios, como São Leopoldo e Garibaldi, e só em São Leopoldo, toda a estrutura demandou cerca de R$ 6 milhões. “Hoje temos uma balança rodoviária instalada, mas a empresa que for contratada, vai trazer toda a estrutura.” O secretário também revelou que se pensa na possibilidade de fazer uma área de compostagem junto à usina. “Tem muito material orgânico, molhado, que é descartado. Com uma compostagem, diminuiria muito o volume que vai para Minas do Leão.”
Um ano sem triagem de lixo
No início de fevereiro, completou um ano que Venâncio Aires não tria os resíduos. Na época, o contrato com a Cooperativa Regional de Catadores dos Vales do Taquari e Rio Pardo foi rompido porque, segundo a Prefeitura, ela não estava cumprindo com o que estava acordado. Foram alegados problemas com a segurança dos funcionários e constatada baixa produtividade na triagem do lixo. “A CRC apresentava produtividade abaixo dos 5% [por contrato, deveria ser de 10% ou mais] na época da rescisão, números que fazem pouca diferença atualmente, ainda mais se comparado ao valor que era pago mensalmente, algo em torno de R$ 38 mil reais. Se dividirmos o valor pela produção da CRC da época, o Município pagava em torno de R$ 1.273,50 por tonelada reciclada”, observou Gustavo Von Helden.
O secretário reiterou que o objetivo é reativar a usina, mas chamou atenção para a necessidade de a comunidade também fazer sua parte. “Quem puder, faça a compostagem do orgânico em casa mesmo e separe os recicláveis para o descarte adequado. Precisamos de ações que continuem”, ressaltou, lembrando da iniciativa iniciada em 2021, com o recolhimento mensal de vidros e eletrônicos, no Centro da cidade. A próxima data será no dia 12 de abril. Em 2024, foram recolhidas 14 toneladas de eletrônicos e quase cinco toneladas de vidros.

Cisvale busca centros regionais para triagem e transbordo de resíduos
Nos últimos dias, novamente a questão dos resíduos sólidos pautou uma reunião do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale), que trata do tema há mais de 10 anos. O objetivo é inscrever a região no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Seleções 2025 e, com isso, buscar recursos para um ou dois centros regionais de triagem e transbordo de resíduos.
A data para cadastrar o projeto encerra já na próxima segunda, 31, mas nem todas as prefeituras enviaram as informações necessárias, o que ainda é aguardado pelo Cisvale. O consórcio espera contar com todos os dados a tempo de inscrever a proposta. Segundo o presidente, Gilson Becker, é esperado que alguns municípios confirmem candidatura para sediar esses centros regionais. “Tivemos sinalizações, ainda não oficialmente, mas tem interessados. Venâncio Aires sinalizou que teria interesse, dependendo da área, porque já tem usina lá. Mas tudo depende das informações dos demais municípios, para, diante do volume gerado, definir uma área adequada.”
O que diz Venâncio
Sobre Venâncio se colocar como um possível ponto de uma usina regional, o prefeito Jarbas da Rosa disse que isso se mantém, mas, como o projeto do Cisvale ainda é para cadastramento no PAC e não está garantido, não inviabiliza o processo próprio de reativação da usina de triagem.
O secretário de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-estar Animal, Gustavo Von Helden, avalia a ideia como interessante, no sentido de proporcionar a união dos municípios para resolver um problema que atinge todos. “Venâncio tem uma vantagem logística em relação aos demais municípios, por estar localizado entre duas rodovias importantes, além de possuir uma balança rodoviária instalada, fundamental para o controle dos volumes recebidos. Porém, é preciso que haja contrapartida dos outros municípios participantes, com relação ao que vai centralizar a operação.”
Ele entende ainda que uma operação consorciada proporcionaria retorno significativo nas esferas social, ambiental e financeira, mas que se deve ter bem claro que é inviável trabalhar os resíduos de maneira individualizada. “Uma cidade que realiza coleta seletiva, tende a gerar um material de qualidade superior, se comparada a uma cidade que não possui esse serviço. Cada município possui uma característica para os seus resíduos gerados e um entendimento em relação a isso. Se colocarmos todos os consorciados em posição de igualdade quanto aos resíduos gerados, provavelmente cometeríamos injustiças.”

200 toneladas/dia – foi a média recolhida de resíduos em Venâncio durante o Carnaval 2025.
Custos com resíduos na microrregião*
Mato Leitão tem um custo mensal de R$ 25,3 mil com a coleta de resíduos. A Transporte Serviços do Vale (TSV) recolhe materiais orgânicos e recicláveis e leva para uma Unidade de Valorização Sustentável (UVS) em Arroio do Meio, onde passa por triagem. O restante do material é encaminhado para aterro sanitário em Candiota. São recolhidas 74 toneladas de lixo por mês no município, sendo nove toneladas de material reciclável – dados de fevereiro de 2025.
Vale Verde produz cerca de 30 toneladas de resíduos por mês. A coleta ocorre de uma a duas vezes na semana, com um caminhão prensa, que recolhe na área urbana e interior. Não tem valor fixo e varia conforme a quantidade de lixo, mas gira em torno de R$ 2,8 mil em baixa temporada e R$ 4 mil em temporada de verão. O lixo é transportado para Minas do Leão.
Em Passo do Sobrado, que produz cerca de 70 toneladas de resíduos mensalmente, os materiais recicláveis são triados dentro do município por uma empresa privada que recebe auxílio da Prefeitura. Já os rejeitos são coletados por caminhão compactador e transportados até Minas do Leão. O custo mensal da Prefeitura com coleta é de R$ 17,9 mil.
*As informações foram repassadas pelas assessorias de imprensa das prefeituras.