Durante a Guerra Fria a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) construiu milhares de bunkers, principalmente entre as décadas de 1950, 1960 e 1970, a fim de proteger seu território contra ataques nucleares e garantir a continuidade do governo em caso de guerra. Alguns eram abrigos subterrâneos para civis, enquanto outros eram usados como sedes militares e estratégicas. Os porões de edifícios eram fortificados e transformados em bunkers para os moradores. Os mais importantes, entretanto, estavam localizados no subsolo de fábricas e usinas. Entre eles está o bunker de Riga situado no norte da capital da Letônia às margens do rio Daugava. Construído no final dos anos 60 como centro de comunicações no então distrito de Outubro, o bunker era a sede da defesa civil da fábrica naval de Riga. Desde dezembro do ano passado o bunker está aberto para visitação em sua nova forma – Museu Sakaru Bunkurs.

A transformação do bunker em museu se deu graças ao trabalho voluntário de Nikita, Vlad e Vika, três amigos entusiastas da história soviética. Durante minha visita no último domingo ensolarado (e gelado!) em Riga, Nikita nos contou um pouco do seu trabalho no bunker. Tudo começou como um hobby, quando ele e os amigos visitavam porões e fábricas abandonadas na capital, principalmente durante a pandemia enquanto o país inteiro se fechou em quarentena. O bunker no norte de Riga estava dilapidado e quase todo material interno havia sido saqueado. Os três amigos iniciaram uma campanha para restaurar o local, e receberam permissão para alugar o local e transformá-lo em museu. Através da mídia social eles convocaram afficionados de todo mundo a ajudá-los, doando material, coleções de recordações soviéticas, além de comprarem mobiliário de época. E o resultado foi surpreendente, pois hoje em dia visitantes podem contemplar um pedacinho da história soviética, ao vivo e a cores!

Ao chegar no museu Sakaru Bunkurs pouco se vê na parte externa, afora a porta blindada no meio do gramado. Localizado a uma profundidade de cinco metros do nível da rua, com uma entrada à prova de choque construída em concreto, o abrigo conta com portas de ferro, sistema de ventilação autônomo com filtro, ainda em funcionamento no modo manual, luz e água e saídas de emergência. O local de cerca de 80 metros quadrados conta com inúmeras salas com decoração original. Desde equipamentos de comunicações e telefonia, corredor de descontaminação, banheiro, consultório médico e farmácia com kits que eram distribuídos à população com medicação para vômito, testes de radiação e qualidade do ar, sacolas com kit de máscara e oxigênio até as roupas anti-radiação. Além, é claro, o bunker conta uma sala especial da KGB. Os recintos são decorados com posters originais, em russo, com instruções à população de como se proteger ou usar o equipamento distribuído pelo comando.

Durante a visita guiada com o jovem bielorrusso Ilja, voluntário e estudante de Ciências de Computação em Vilnius, mergulhei na história arrepiante do regime soviético. Pelas salas geladas e úmidas do bunker aprendi sobre os planos metódicos do comando comunista em caso de guerra nuclear ou desastre radioativo. A visita é uma experiência sensorial incrível pois os três amigos fundadores do museu instalaram o sistema de luzes, sirenes e alto-falantes como no plano original, dando asas a nossa imaginação!

ONDE – SAKARU BUNKERS – A. Dombrovska iela 5, Riga, Letonia
QUANDO – o museu está aberto em dias específicos, aos fins de semanas e oferece visitas guiadas para grupos. Agendamento deve ser feito diretamente com os fundadores do museu nas redes sociais
https://www.facebook.com/SakaruBunkurs
Instagram – @Sakarubunkurs
PREÇO – 15 euros com guia em inglês
COMO CHEGAR – O bunker está localizado no norte da capital letã, a 12km do centro de Riga. Do centro pode pegar o onibus 2 ou 24 até Vecmilgravja 5.linija (30min) e depois caminhando até o museu (5 min). Alugar um carro por 2 horas, usando o aplicativo CityBee ou BoltDrive é uma boa opção

Olha eu ai na sala de comunicações