Cuca artesanal, uma tradição que agora é patrimônio cultural

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Modo de fazer cuca artesanal foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul, pelo Iphae.

Ela faz parte da mesa farta da casa da vó, de uma roda de chimarrão entre amigos e dos almoços das comunidades. Em Venâncio Aires, tem até dia específico no leque de ofertas dos supermercados. Um quitute tão simples, mas que carrega um sabor e um simbolismo enormes para o paladar e a memória afetiva: a cuca, que por toda essa referência de tradição, agora também é Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul.

Esse reconhecimento reflete em centenas de municípios gaúchos que foram colonizados por imigrantes alemães, caso de Venâncio. No município, a cuca está em muitos momentos e, mesmo para quem conhece a receita e a faz de olhos fechados, entende que sempre pode aprender ou descobrir técnicas e sabores diferentes. Como ocorreu no início desta semana, no ginásio de Linha Hansel, onde mais de 20 mulheres que integram o Clube de Mães Primavera se reuniram para participar de uma oficina de cucas, promovida em parceria com a Emater local, que tradicionalmente organiza oficinas de culinária junto às agricultoras.

Aperfeiçoando as receitas de cuca

Na segunda-feira, 7, para além das cucas de açúcar, framboesa e chocolate (sabores bem tradicionais), a proposta era levar ingredientes e técnicas não tão usuais no dia a dia das casas das famílias. Teve cuca com nome Charge, Olho de Sogra, Floresta Negra e até Escama. “A cuca faz parte das mesas das nossas agricultoras. É aquele prato que historicamente, dentro da família, está muito forte, as mulheres aprenderam com a vó, com a mãe e fazem até hoje. O objetivo é aperfeiçoar um pouco mais o que fazem. Já são excelentes cuqueiras, de ‘mão cheia’, mas a ideia é justamente trazer algumas dicas para dar um toque diferente e alternativas de recheios”, destacou a extensionista rural social da Emater, Viviane Röhrs.

Dicas, técnicas e ingredientes diferentes dos usuais, foram apresentados durante a atividade (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Márcia Regina Grunwald Baierle, que é cuqueira e adora preparar doces, aprendeu a receita com a mãe e a vó, mas saiu com novas dicas (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Dica para evitar azia com a cuca e um streusel com creme de leite

A oficina na Linha Hansel foi ministrada por Ana Paula Scota, professora de culinária de Candelária. Ela apresentou às participantes algumas dicas que podem fazer toda a diferença no sabor. Entre as mulheres que acompanharam a atividade esteve Márcia Regina Grunwald Baierle, 46 anos, moradora de Vila Arlindo e atual tesoureira do Clube de Mães Primavera.

Márcia sempre gostou de cozinhar, adora preparar doces e, no caso da cuca, em especial, aprendeu observando a mãe e a vó. “Assim como elas, a gente ia fazendo tudo no ‘olhômetro’. Mas as medidas corretas podem fazer diferença, até para não dar azia, que algumas pessoas se queixam depois de comer cuca. Então quando colocar a massa na forma para deixar crescer novamente, congela. Depois descongela naturalmente, deixa crescer naturalmente, aí coloca o recheio. Com isso, se diz que não causará tanta azia”, explicou.

A agricultora também referenciou o streusel, aquela espécie da farofa preparada à base de farinha, açúcar e gordura e que é polvilhada sobre a massa. Tradicionalmente, muita gente usa azeite ou banha para misturar com o açúcar e a farinha. No entanto, Márcia compartilhou outro ingrediente que aprendeu no curso. “Aprendemos que o creme de leite pode ser usado. Não vai puxar umidade e faz menos mal para saúde que a gordura que normalmente a gente usa.”

Foto: Débora Kist/Folha do Mate

Saiba mais

O reconhecimento da iguaria típica alemã foi oficializado na última semana. O município de Rolante, que historicamente se dedica a preservar e valorizar a tradição, foi responsável por solicitar o registro. A Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial, órgão que integra o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), aprovou o Registro dos Modos de Fazer Cuca Artesanal do Rio Grande do Sul como Patrimônio Cultural Imaterial. A medida reconhece a importância cultural e histórica dessa prática, preservada e transmitida ao longo de gerações.

Everton Luiz Simon é professor do curso de Gastronomia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Ele entende que o reconhecimento reafirma a importância cultural e histórica da preparação culinária e contribui para a preservação de história e das particularidades essenciais que foram transmitidas entre mulheres e gerações ao longo dos anos. “Em tempos de crescente ‘gourmetização’ da alimentação, é sempre importante lembrarmos e relembrarmos a cuca. Mais do que um alimento, a cuca representa um elo com nossos antepassados, um símbolo da perpetuação da história através da comida”, destacou Simon, que também é pesquisador na área de história, cultura, saberes e práticas da alimentação do Rio Grande do Sul, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional na Unisc.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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