Ser tudo o que quiser: para Théo, brincar também é criar

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Na semana que lembrou o Dia Mundial do Brincar, os benefícios do brincar para o desenvolvimento, a criatividade e a saúde das crianças.

Um varal de roupa escorado na parede vira a encosta de uma montanha. As inúmeras pelúcias se transformam nos animais da natureza que ocupam essa montanha, o que inclui polvos, dinossauros e até um Pokémon. Dos restos de espuma de um travesseiro, surgem nuvens branquinhas. E de uma caixa de papelão e uma tesoura em mãos, nasce um avião, mas também “tudo o que quiser”. Essa é a definição de Théo Nedwed Marquiori, 8 anos, que, imaginando, planejando e criando, vive a parte mais bonita e saudável da infância: o brincar.

“É uma longa história”, afirma o menino, quando perguntado sobre como começou a gostar de criar os próprios brinquedos. “O que eu mais amo, é reutilizar um brinquedo estragado e fazer um novo, diferente. Isso é muito importante pra mim, porque me deixa feliz. Gosto de criar coisas novas e aprender coisas novas. E gosto de brincar na rua com meus amigos e descobrir coisas na natureza.”

As ‘invenções’

No quarto onde a imaginação corre solta e Théo explora a criatividade, há muitos brinquedos ‘prontos’, claro, mas que acabam virando parte de uma criação maior. Também tem objetos diversos, como papelão, caninhos de ferro, tecidos, potes plásticos e até musgo que, ao colar num carrinho de controle remoto estragado, o transforma em um “carro abandonado”. “O que eu tenho aqui é meu artesanato. Faço uma coisa nova de outra coisa velha”, explica o menino, referindo-se ao estoque de objetos que mantém. E todos eles são usados e reutilizados diversas vezes, “porque sempre dá para fazer uma coisa diferente”, observa. Para a demanda criativa de Théo, fita adesiva e cola são artigos de primeira necessidade na casa e ‘ai’ dos pais esquecerem de comprar…

Uma das maiores parceiras das brincadeiras é a avó materna Neiva. Com ela, o neto até criou, nas palavras dele, “um dispenser de suco natural”. Para isso, abriram uma melancia, mexeram a polpa e depois introduziram uma torneira de jardim para que o suco da fruta já saísse pronto. “Deu certo”, garante Théo, que é aluno do 3º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer.

Aos 5 anos, quando ‘criou’ um robô usando uma caixa térmica, mangueira de aspirador de pó e luvas de limpeza (Foto: Arquivo pessoal)

Estímulo saudável para brincar

Segundo a mãe, Letícia Nedwed, 40 anos, Théo brinca dessa forma desde pequeno. A também psicóloga conta que ela e o marido, o comerciante Evandro Marquiori, 44 anos, sempre tentaram estimular o filho a brincar. “Embora as crianças tenham acesso a telas e vídeos, a gente sempre tentou tirar ele um pouco desse contexto, para que realmente consiga se desenvolver de outras formas saudáveis. Então a gente sempre estimulou ele a brincar e a construir, e, como é muito curioso, o interesse dele vai além do brinquedo.”

Conforme Letícia, além de usar a imaginação e de estimular o processo criativo, Théo acaba desenvolvendo outras habilidades. “Desde a questão da socialização, do imaginar, da parte cognitiva e de lidar com a frustração de, às vezes, não conseguir fazer o que quis executar. Penso que é saudável e que se permita ser criança mesmo.”

A mãe conta ainda que o filho gosta de brincar dentro de casa, com as criações, e na rua, explorando a natureza, com os amigos. Em breve, a família pretende trocar o apartamento no bairro Aviação por uma casa com pátio, no interior. No futuro lar, Théo já sabe que terá um quarto só para seus projetos de brinquedos e terá muito espaço para cuidar de galinhas, ovelhas e da Manchadinha, a cachorrinha de estimação.

Inspirado em carros de corrida, fez o próprio, usando cadeiras, um cabide como volante e a prancha de surf como porta (Foto: Arquivo pessoal)

Organizar as emoções

De acordo com a pediatra Samanta Feilstrecker, através do ato de brincar a criança aprende, experimenta o mundo e as possibilidades, tem relações sociais, elabora a autonomia e organiza emoções. “A criança compreende o mundo à sua volta, aprendendo regras, testando habilidades físicas, como correr e pular, aprende a ganhar e perder. O brincar desenvolve também a aprendizagem da linguagem e as brincadeiras em grupo favorecem alguns princípios como o compartilhar, a cooperação, a liderança, a competição, a obediência às regras.”

A importância da família e da escola no processo do brincar

Segundo a pedagoga e psicopedagoga Daniela Monteiro da Silveira, brincar é um direito para que a aprendizagem se torne significativa. “Em família, isso se torna ainda melhor, pois a família desempenha um papel crucial, fortalecendo os vínculos emocionais, a conexão e criando memórias.” Quanto à participação da escola, a profissional entende que os educandários deveriam trazer a questão dentro do seu processo pedagógico, promovendo aos educadores formações para que tenham o brincar como norteador do cotidiano.

“As brincadeiras permitem que, de forma lúdica e saudável, as crianças desenvolvam habilidades para uma vida toda. Já dizia Albert Einst: ‘o brincar é a mais alta forma de pesquisa’ e, neste sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz o brincar como um direito de aprendizagem para a primeira infância, em especial, pois ele é primordial para o desenvolvimento integral nos aspectos cognitivos, sociais, emocionais e físicos.”

A pedagoga e psicopedagoga observa, ainda, que todas as crianças brincam, mas o que depende é o brinquedo e a brincadeira. Segundo Daniela, crianças que usam o celular ou telas como forma de passar o tempo, tem inúmeras desvantagens em relação às outras cujo uso não é permitido ou o tempo é restrito. Ela cita prejuízos na socialização, integração, distúrbios neurológicos, dificuldades cognitivas, motoras e emocionais.

“Sabemos dos riscos das telas para a infância, mas também sabemos que a criança é somente a criança, não é ela quem decide se usa ou não as telas. Há um adulto na relação, que é o espelho, e que necessita dispor do seu ‘tempo’. E um tempo de qualidade, porque é na brincadeira que estabelecemos vínculos e relações.”

Você sabia? Dia 28 de maio é o Dia Mundial do Brincar. A data é reconhecida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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