Quando a educação é assunto de família

As escolas do interior do município têm uma característica em comum, marcante e inspiradora: o envolvimento das famílias. Em tempos de individualismo latente, da perda do senso comunitário, as instituições de ensino da área rural vão na contramão e mostram, na prática, o quanto a educação é uma construção de estudantes, professores e funcionários, mas, sobretudo, dos pais de alunos.

Essa característica remonta ao início das atividades de diversas escolas. Muitas foram fundadas por famílias, que buscavam uma opção de estudo aos filhos perto de casa. E essa integração seguiu firme no decorrer do tempo. As famílias sempre foram parte ativa da escola.

É o caso da Escola Estadual de Ensino Fundamental São Luiz, de Vila Santa Emília, que completa 100 anos de história no dia 10 de junho. Um dos educandários mais antigos de Venâncio Aires, a escola do 4º Distrito sempre contou com grande envolvimento comunitário e é assim que chega ao centenário. Com uma história que é assunto de família.

Ao longo dessa semana, conversei com diversas pessoas que tiveram — e têm — suas vidas ligadas à Escola São Luiz. Na grande maioria dos entrevistados, são irmãos, filhos e até mesmo netos de egressos do colégio. Mais do que isso, pessoas que permaneceram atuando pela escola, inclusive, com mão de obra para serviços de manutenção. É preciso cortar a grama? Plantar flores? Capinar o pátio? Isso é assunto para os pais, com muita satisfação.

“Com isso nunca preciso me preocupar, pois os pais sempre cuidam do pátio”, comemora a diretora, Ana Lucia Weber Winckelmann. Professora na São Luiz há cerca de 25 anos, ela também foi aluna e é mãe de Pedro, estudante do 4º ano. O marido Gerson Winckelmann também estudou no local, assim como a filha Eduarda, os pais Mário e Liane Weber. O avô João Felipe Weber foi um dos fundadores.

A história da Escola São Luiz é um verdadeiro álbum de família(s). E outro sobrenome de moradores da localidade também protagonizou capítulos importantes. É a família Werlang, que se estabeleceu em Santa Emília em 1971, quando o professor Protacio Lourenço Werlang chegou para lecionar na instituição, ainda ligada à Paróquia Católica Santa Inês.
Com uma memória intacta e orgulhoso pela trajetória trilhada, no auge dos seus 88 anos, ele relembra a importância que a parceria com a comunidade escolar teve ao longo da história da escola. “Com o apoio das famílias, sempre soube que tinha prestígio como professor. Tudo isso levo no coração”, comenta ele, que atuou durante 22 anos na São Luiz.

Na década de 1970, o professor Werlang coordenou a construção do novo prédio do estabelecimento de ensino — utilizado até hoje. A estrutura possibilitou o aumento do número de alunos. Antes, as aulas ocorriam em duas salas de aula, em um prédio ao lado da Igreja São Luiz, que hoje sedia o necrotério da localidade.

Entre as lembranças mais bonitas que seu Werlang relatou, quando estive na casa da família, em Vila Santa Emília, nessa semana, está a de que a construção do prédio ocorreu em regime de mutirão com os pais. A Prefeitura doou o material, a escola contratou um pedreiro, mas os serventes sempre foram pessoas da comunidade, que realizaram voluntariamente o trabalho.

De acordo com a demanda da obra, o professor enviava bilhetes, pelos alunos, solicitando auxílio. “Os serventes sempre foram os pais e nunca faltou ajuda. Mesmo com o trabalho em casa, sempre havia quem fosse até a escola para colaborar. Hoje, é difícil acreditar na disponibilidade dos pais para fazer uma escola para seus filhos”, observa. Da mesma forma, o docente aposentado lembra que a sua atuação como professor sempre ultrapassava a sala de aula. “Estava sempre envolvido com a comunidade.”

Nesse contexto, onde a educação e o papel da família na escola sempre andaram lado a lado, foi natural para as filhas Marcia Inês Werlang e Elisabet Regina Werlang Frey seguirem os passos do pai. As duas se formaram professoras e também atuaram na Escola São Luiz, pela qual mantêm um carinho especial. As histórias das famílias Werlang e Weber, e outras relacionadas aos 100 anos da escola que é o coração de Vila Santa Emília, serão contadas em reportagem especial na edição da próxima quinta-feira, 5, na Folha do Mate. Confira!



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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