Neste ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou novas normas para realização de cirurgia bariátrica. A médica Giulia Fuga, que atua na área de Nutrologia, com tratamentos para doenças crônicas, obesidade, emagrecimento, suplementação e reposição hormonal, explica que uma das principais mudanças é a redução do Índice de Massa Corporal (IMC) que autoriza pessoas com IMC entre 30 e 35 a realizar o procedimento.
“Mas é necessário apresentar alguma outra doença, como diabetes tipo 2, doença cardiovascular grave, apneia do sono grave, doença renal crônica precoce, doença gordurosa hepática ou refluxo gastroesofágico”, comenta. Até então, só podiam se submeter à cirurgia pacientes com até 10 anos de diagnóstico de diabetes, com mais de 30 e menos de 70 anos de idade. “Agora, não existe mais tempo mínimo de convivência com a doença ou idade”, diz.
Outra mudança é a respeito da idade: adolescentes a partir de 14 anos podem realizar o procedimento. “Para isso, no entanto, eles precisam se enquadrar em caso grave de obesidade, com IMC acima de 40, que leve a complicações de saúde”, afirma a médica. Adolescentes entre 16 e 18 anos também vão poder fazer a bariátrica e só serão exigidos os critérios já pedidos para adultos, como IMC mínimo e comorbidades.
Alternativas
A partir deste ano, também são reconhecidas cirurgias alternativas, com indicação primordial para procedimentos: duodenal switch com gastrectomia vertical, bypass gástrico com anastomose única, gastrectomia vertical com anastomose duodeno-ileal e gastrectomia vertical com bipartição do trânsito intestinal.
“Isso torna a cirurgia bariátrica mais acessível a uma maior parte da população, o que vai levar a mais pessoas a procurarem essa modalidade como tratamento da obesidade. Vale lembrar que o acompanhamento com um nutrólogo é essencial antes e após a realização da cirurgia. Para uma cirurgia mais segura e, após, para garantir as suplementações adequadas e evitar o reganho de peso”, observa Giulia.
O que você precisa saber
A médica endocrinologista Gabriela Hoss explica que cirurgia bariátrica costuma ser a opção preferida em caso de pessoas com IMC elevado e associadas com doenças relacionadas à obesidade, na qual o paciente utilize muitos remédios para controlar essas condições, ou que não tenha apresentado perda de peso com dieta, exercícios ou medicamentos.
Quando o excesso de peso está prejudicando muito a saúde e os tratamentos tradicionais não estão funcionando, a cirurgia pode ser a melhor alternativa. “Mas é importante lembrar que ela não é um milagre: exige cuidados, mudanças de hábitos e acompanhamento médico para o resto da vida”, explica a profissional. Tire outras dúvidas a respeito do procedimento.
Folha do Mate: O que é necessário levar em conta no momento da decisão?
Gabriela Hoss – A cirurgia bariátrica pode ser uma grande aliada na perda de peso e no controle de doenças associadas à obesidade, mas a decisão de realizá-la precisa ser muito bem pensada. É fundamental passar por uma avaliação médica completa, de preferência com um cirurgião especializado e um endocrinologista, que irão analisar o histórico de saúde, as doenças já existentes e as tentativas anteriores de emagrecimento. Também é importante que o paciente esteja disposto a mudar o estilo de vida, com alimentação equilibrada, prática de atividade física e acompanhamento psicológico e nutricional, tanto antes quanto depois da cirurgia. Além disso, é essencial entender que, apesar de ser um procedimento seguro, a cirurgia exige cuidados no pré e no pós-operatório, além de acompanhamento médico contínuo por toda a vida. Essa preparação e esse comprometimento são fundamentais para que os resultados sejam positivos e duradouros.

Quais são as opções apresentadas aos pacientes antes de uma intervenção cirúrgica?
Antes de indicar a cirurgia bariátrica, os profissionais de saúde avaliam se o paciente passou por um tratamento clínico completo, que inclui mudanças no estilo de vida, acompanhamento psicológico e nutricional e, em alguns casos, o uso de medicamentos para obesidade. A ideia é que a pessoa tente alcançar a perda de peso e o controle das doenças associadas sem precisar de uma intervenção cirúrgica inicialmente. Essas abordagens envolvem uma reeducação alimentar, prática regular de atividades físicas, melhoria do sono, manejo do estresse e suporte emocional, especialmente para compreender a relação com a comida. Em determinadas situações, o uso de medicações pode ser indicado como parte do tratamento. A cirurgia passa a ser considerada quando, apesar desses recursos, a pessoa não consegue resultados satisfatórios ou quando há comprometimento da sua saúde pelas consequências da obesidade. A decisão é feita com base em critérios médicos bem definidos, sempre priorizando a segurança e o bem-estar do paciente.
Quais as diferenças entre os tipos de cirurgia bariátrica disponíveis?
Existem vários tipos de cirurgia bariátrica, mas os dois mais comuns são o sleeve (ou gastrectomia vertical) e o bypass gástrico. No sleeve, o estômago é reduzido, ficando com um formato mais estreito, como um tubo. Isso faz a pessoa comer menos e também sentir menos fome. No bypass, o estômago também fica menor, mas parte do intestino é desviada. Com isso, além de comer menos, o corpo absorve menos calorias e nutrientes. Existem outras cirurgias mais complexas, que são usadas em casos especiais, como pessoas com obesidade muito grave ou quando outras técnicas não funcionaram. Cada uma tem vantagens e desvantagens, por isso a escolha depende do que é melhor para cada paciente.
O que muda de uma para outra e o que se leva em conta na decisão?
As cirurgias são diferentes no modo como ajudam a emagrecer. Algumas fazem a pessoa perder mais peso, mas exigem mais cuidado com a alimentação e uso de vitaminas para o resto da vida. Outras são mais simples nesse sentido, mas podem não funcionar tão bem para todos os casos. Para decidir qual a melhor opção, os médicos avaliam várias coisas: o peso da pessoa, se ela tem outras doenças (como diabetes ou pressão alta), se já tentou emagrecer antes, se tem refluxo, se consegue seguir orientações de dieta e uso de remédios no dia a dia. Por isso, a escolha da cirurgia é feita em conjunto com a equipe médica, sempre pensando na segurança e na saúde a longo prazo.