Segundo a Emater, município deve ficar em 700 hectares de trigo em 2025, 350 hectares a menos do cultivado no ano passado.
Pelo segundo ano consecutivo, a área plantada de trigo em Venâncio Aires tende a recuar. Se em 2024 foram 1.050 hectares cultivados – 25% menos que em 2023 – em 2025 deve se confirmar nova diminuição, ficando em torno de 700 hectares, conforme projeção da Emater local. Se não houver alteração, será a menor área desde 2020, quando Venâncio cultivou 328 hectares do grão, considerado uma alternativa importante como cultura de inverno.
Segundo o chefe do escritório da Emater, Vicente Fin, o recuo passa por alguns fatores que têm gerado apreensão nos produtores. Entre eles está a alta de insumos, o preço pago aos produtores e que não estaria tão atrativo esse ano, e a frustração com o clima. “Ano passado, bem no momento do florescimento, houve muita chuva, o que atrapalhou a lavoura. Isso que o plantio já tinha sido comprometido, devido a tudo que aconteceu em maio. Ainda assim, da projeção de 600 hectares que se tinha, no fim foram 1.050 em 2024. Mas, em 2025, não deve ir muito além dos 700 hectares já plantados”, projeta Vicente Fin.
O chefe da Emater observa que alguns produtores tiveram prejuízos com a soja no ano passado e, como o trigo está atrelado diretamente a ela (por virar palhada e preparar bem o solo), há quem decidiu não plantar em 2025. Ainda que a área fique aquém de 2024, Vicente Fin projeta uma produtividade de 3,3 toneladas por hectare. No ano passado, chegou a apenas 2,1 toneladas por hectare.
Preparo do solo
Em Vila Palanque, Nestor Antonio Vogt, 62 anos, já cultiva trigo há seis anos. Ele conta que o grão garante a melhor palhada em preparação para a soja, que ele planta há mais tempo. Em 2025, o agricultor semeou o trigo entre os dias 13 e 14 de junho e vai ocupar uma área de 16,5 hectares, apenas meio hectare a menos que em 2024.
Vogt explica que preparou bem a terra, com calcário e adubação orgânica (esterco), já que no ano passado o excesso de chuva e enxurrada comprometeram bastante o solo. Foi por causa da chuva, aliás, que toda a colheita do agricultor só serviu para ração. “Choveu muito e teve doenças na planta. O PH ficou muito baixo, então não se aproveitou”, lamenta, se referindo ao peso hectolítrico (PH, utilizado como medida tradicional de comercialização que referencia a qualidade do grão).
Com isso, colheu somente 33 sacos por hectare e recebeu R$ 34 pela saca de trigo. Já para 2025, Vogt está mais animado e projeta ficar entre 47 e 50 sacos por hectare, com preços entre R$ 70 e R$ 77. “Tudo depende do PH. Mas estou confiante.”

Área plantada em Venâncio
- 2019: 145 hectares
- 2020: 328 hectares
- 2021: 772 hectares
- 2022: 1.250 hectares
- 2023: 1.400 hectares
- 2024: 1.050 hectares
- 2025: 700 hectares (projeção)
42 – é o número de produtores de trigo em Venâncio, conforme a Emater.
Área de trigo no estado também recua
A semeadura de trigo, na safra de 2025, já iniciou no estado. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa é produzir 4,06 milhões de toneladas, alta de 3,7% em comparação ao ciclo anterior.
Já a área plantada deverá reduzir 4,4%, totalizando 1,28 milhão de hectares. Conforme a Conab, a retração se deve à rentabilidade da cultura, riscos climáticos e oferta de sementes. Apesar disso, as projeções indicam boa produtividade. (Fonte: AI Conab)

Chuva compromete áreas recém-plantadas
Em Linha Isabel, no interior de Venâncio Aires, a família Bencke registrou quase 280 milímetros de chuva nos últimos dias. Segundo Carlos Bencke, em parte da área de trigo semeada na semana passada, ele já sabe que haverá perda. Foram plantados 40 hectares entre as localidades de Linha Antão e Linha Arroio Grande e, nos pontos mais baixos, ainda que sejam drenados, dificilmente serão recuperados. “Estamos com mais uma situação nesse ano, com muito volume de chuva. Como está quase uma semana com chuva, desde sábado começou com chuvisqueiro, tivemos uma perda novamente no nascimento do trigo. Tem chance de escapar uns 20 hectares, com áreas de coxilha, mas nelas também têm as manchas de umidade e erosão, o que vai atrapalhar”, descreveu o produtor de grãos.
Segundo o chefe da Emater de Venâncio, Vicente Fin, como é período de entressafra, a cultura mais sentida nesse momento é o trigo. “São erosões superficiais laminares e algumas mais fundas, que afetaram o trigo recém-plantado. Também sabemos de algumas áreas de tabaco, em que o preparo não tem curvas de nível, por exemplo, e pastagens, com pisoteio do gado de leite e corte. As cítricas também podem ser consideradas, porque a umidade acelera o apodrecimento.”