
No meio de um milhão de brinquedos, Thomaz escolheu um guarda-chuva. O menino, que já era encantado com o desajeitado acessório que protege das garoas e enxurradas, e vez e outra pegava emprestado do irmão, agora tem seu próprio objeto retrátil.
E o guarda-chuva, que vivia esquecido num canto qualquer de uma loja qualquer, junto a dezenas de outros iguais, que vivia fechado e triste, agora tem um menino sorridente, que se enche de alegria ao olhar para a rua e constatar:
– Tá chovendo, mamãe.
Particularmente, prefiro me molhar um pouco, não me acerto com aquele sistema que toda vez que o abro, me molha, e toda vez que o fecho, me molha de novo. Quando costumava carregar guarda-chuvas, os deixava esquecidos em bancos de madeira, assentos de ônibus, salas de aula. Mas também tive infância e já me encantei com exemplares do Sítio do Pica-pau Amarelo e da Moranguinho (e acreditem, este era cor de rosa e tinha cheirinho de morango).
Foi numa destas procuras por um presente para um amigo do Bruno, que Thomaz avistou o fabuloso guarda-chuva da galinha azul de pintas brancas.
– Me dá, mãe.
– Outro dia.
Dois minutos depois.
– Eu quero o guarda-chuva da “Cocoinha”
Quatro, seis, oito, dez, doze minutos depois:
– Eu quero o guarda-chuva da “Cocoinha”
– Não, filho, outro dia a mãe te dá, hoje viemos comprar um presente para o amigo do mano.
Milhares de insistências depois, compramos o presente e saímos da loja. Fomos a outros lugares, passeamos, almoçamos e tenho quase certeza que fomos hipnotizados. Acabamos retornando à loja e adquirindo adivinha o quê?
O menino ganhou o guarda-chuva. O guarda-chuva, agora, tem um menino. E quando saímos na rua e o tempo está nublado a chuvoso, Thomaz abre um sorriso e o sorriso abre um guarda-chuva. Ele ainda não entende sobre as enchentes, ele não sabe nada a respeito de infiltrações, estragos e prejuízos, o garoto apenas curte o barulinho dos pingos e a imagem molhada da rua, respira fundo e chega a se tremer todo de alegria.Vai poder levar seu companheiro junto para a escola.
– Tá chovendo, mamãe. Tem que pegar meu guarda-chuva.
A mamãe pega o guarda-chuva e o acondiciona no carro, pega o garoto e o acomoda na cadeirinha no banco de trás, os outros dois se ajeitam sozinhos. Seguimos os quatro rumo a nossas rotinas. O dia nublado se enche de luz. Me encho de energia. Deixo menino e guarda-chuva na escola, levo um sorriso comigo até chegar a hora de fazer o caminho inverso e voltarmos todos para casa. Com ou sem chuva.