A brisa suave da manhã beijava meu rosto.O perfume das flores que já anunciam a primavera deixaram-me inebriada. O cheiro da terra molhada se misturava às múltiplas essências, que somente a natureza é capaz de produzir. O céu cor de anil estava emoldurado por algumas nuvens. Parei por instantes admirando tamanha graça Divina, que a todos iria acolher em mais um novo amanhecer.
Todos os dias são especiais, os amanheceres únicos. Porém, neste, 20 de setembro, o cantar dos pássaros que acordaram cedito, para o ensaio matinal, tinha uma sinfonia que tocava fundo na alma. Deixe-me embalar. Após muitos ensaios, até parecia que o sibilar reproduzia ‘Eu sou do Sul’. Viajei no tempo. Busquei lembranças que alimentam a alma, sonhos realizados e as vertentes que me conduziram até aqui. Olhei para um lado e para o outro, meu cavalo não encontrei. Ele já se foi, a galope para outras estâncias, há muito tempo. Tornei-me, por um segundo, criança muito pequena. Ao mesmo tempo, uma Anita que precisava ir à luta. Olhei para meus pés, no lugar da bota campeira, hoje, a botinha de prenda. No lugar da bombacha, a saia marrom companheira de muitas conquistas. Mas era preciso acordar do sonho. A vida profissional à frente me esperava. Os sentimentos se entrelaçaram – como sempre – e pelos caminhos da tradição segui meu destino para cumprir mais uma missão.Sabia que muitos amigos, companheiros de longa data iria encontrar pela frente.
Meu coração também viajou. Foi para a Capital dos gaúchos. Abracei Ana Claudia Feltrim, com emoção. Elevei meu pensamento em oração ao Patrão Celestial assim como lhe prometi. Ao nosso patrono estadual, Benjamin Feltrin Netto, seu pai, a minha simples homenagem em pensamento, exatamente na hora em que registrava o nosso escolhido de Venâncio Aires, Amaro Areia.Das botas embarreadas, em Cruz Alta, no acendimento da Chama Crioula, vou carregar, em um lugar do meu coração, escolhido a dedo, mais uma pessoa especial que cruzou na minha vida.
O Rio Grande do Sul tem destas façanhas. Caminhos que se cruzam – simples assim – basta olhar e ver o tamanho do amor à nossa terra e amigos que conquistamos – que o tempo sendo indelével jamais apagará. Por isso, tudo, hoje, que celebramos a data que une todas as gerações – Reverencio às raízes da nossa tradição, com esta singela homenagem a Benjamin Feltrim Neto e sua família. Obrigada, amiga Ana Cláudia, por me proporcionar este momento de inspiração e tamanho aprendizado.
