Dos coturnos militares, quando serviu o quartel e iniciou o aprendizado do ofício de sapateiro, para os milhares de pares de calçados, bolsas, bolas e cintos que passaram por suas mãos, João Ademar Simões, 68 anos, o Joãozinho Sapateiro, como ficou conhecido na comunidade venâncio-airense, lembra com muita alegria a sua trajetória. Os amigos conquistados por conta da profissão tem um lugar especial em seu coração. O dia 25 é dedicado a eles – os Sapateiros – classe que tem como protetores São Crispim e São Crispiano.

O menino que nasceu em Linha Tangerinas, ainda pequeno, auxiliou o pai Pedro João Simões (in memoriam), em Linha Lucena, no ofício de ferreiro, ao lado da mãe Orvalina Guterres Simões. Mas, foi na arte do couro que aos 19 anos que começou a estruturar a vida profissional, iniciada no dia 15 de outubro de 1968. Do quartel, trouxe um pouco de conhecimento que foi aperfeiçoado ao lado dos profissionais Bresser e Bruch (já falecidos). Sapateiros que considera os seus primeiros professores.
Joãozinho conta, que quando retornou a Venâncio Aires precisava trabalhar e como não tinha estudos procurou emprego na área. A iniciativa, segundo ele, foi a sua realização profissional. “O gosto pela função só foi aumentando e não parou mais”, destaca. Em dois anos, o venâncio-airense adquiriu a sua primeira sapataria, porém em espaço alugado. Passaram-se mais dois anos e em prédio próprio começou a nova história, que perdurou por 43 anos, no mesmo local. Na época, destaca, que a procura pelos consertos eram bem maiores do que atualmente, pois o calçado era feito mais artesanal. “Hoje, há muita oferta e facilidades para comprar, então, também existe o descarte, e os profissionais diminuíram”, observa.
Joãozinho, pai da Patrícia Simões, é casado há 36 anos com Lori Cecilia Ertel, com quem também dividiu seus dias na sapataria. Segundo ele, durante estes anos a cada novo dia só aumentava o gosto pela profissão. Considerando isto fundamental para o sucesso do trabalho. “Só parei porque como tudo na vida tem prazo e um dia precisamos parar”, destaca. O ex-sapateiro conta que teve amigos, em vez de clientes. “Tive uma clientela, que dá pra sentir saudades, foram pessoas amigas”, lembra.
Aposentado desde 2002, ele conta que sempre teve horário para começar, mas não para encerrar o expediente. Além disso, por muitos anos dividiu seu tempo nos finais de semana como árbitro do futebol amador de Venâncio, atividade que também lhe tornou conhecido na comunidade local. “A procura pelos consertos era grande, de todas as classes sociais, e o compromisso com a entrega sempre foi cumprida.” Na época o trabalho era mais demorado por ser realizado manualmente, quando o ‘cravador’ – espécie de agulha para costurar – fazia a função que hoje a máquina ‘Blaqueadera’ executa em segundos. Entretanto, as tarefas eram organizadas e cumpridas no tempo prometido.
Organização e presteza, destaca, que sempre foi o carro-chefe, pois a média de pares de calçados/dia ficavam em torno de 30 a 40. “Dá para fazer um cálculo, bem aproximado, do número de consertos que a gente fez, ao longo destes anos, pois anotávamos tudo, em um caderninho”, enumera.
Embora a população tenha aumentada desde a década de 70, quando existiam 11 sapateiros no município, hoje são cerca de cinco os profissionais. Destes que estão na ativa, muitos começaram no ramo ao lado do profissional que considera todos seus amigos.
Um de seus seguidores é Moacir Paulo Francetto, o Moa, que exerce a profissão no mesmo local, que por 20 anos foi ‘o braço direito’, de João Simões. Hoje, ao lado da esposa Lisa Baron e do cunhado Paulo Rogério Baron, no ofício permanece e a clientela é fiel. Como, no passado, ainda hoje, muitos empresários passam pelo local para ‘lustrar’ os sapatos.
Dia de reflexão e comemoração
A data escolhida para comemorar o Dia do Sapateiro é a mesma da festa dos seus santos padroeiros: São Crispim e São Crispiniano. Eles eram irmãos, nascidos em Roma, e pertenciam a uma família cristã muito rica, se converteram ao Cristianismo e foram para a Gália, atual França, para propagarem a fé em Cristo, onde trabalharam como sapateiros.
No Brasil, em Franca, São Paulo, que é o grande polo produtivo calçadista, existe uma capela dedicada ao São Crispim e no país, é a única cidade que os operários conquistaram como sendo feriado. é um dia de luta onde os operários fazem uma reflexão sobre a sua situação, mas também é um dia de lazer, de festa que reúne milhares de sapateiros e é muito tradicional.
Hoje, no Brasil, os sapateiros/as somam cerca de 400 mil e as jornadas de trabalho são de 44 a 50 horas por semana.