
Hoje, o Coisas de Mãe muda de lado para divulgar uma das ações do Ano da Cultura, a exposição de Mario Quintana, organizada em parceria com o Sesc – Venâncio, que enriquece a recepção da Folha do Mate no mês de fevereiro.
Desta vez, peço licença a meus meninos para compartilhar com os leitores uma historinha de minha infância.
Foto: Divulgação / Tudo e Todas
Era uma vez uma menina que adorava ler. Não fazia muito tempo, havia aprendido a juntar as letrinhas para formar sons e já se encantava com as inúmeras possibilidades encontradas nos livros infantis. Mas tinha um deles que a fascinava. Um livro colorido, cheio de poesia, cheio de versos inteligentes e lúdicos. Enquanto o carregava para todo o lugar, o livro também a levava pelo mundo.
Todo lugar incluía a rua, o quarto, o pátio da casa. Até que a menina teve uma ideia divertida, que não deu certo. Começou a levar o livro para ler no banho. A brincadeira não durou muito, aos poucos, o papel foi se entregando à força da água, e o velho amigo foi se entregando ao mau uso, ingênuo e desproposital.
Quando sua mãe o encontrou, já não havia remédio. Foi parar na cerca. No sol. Ao vento. Mas as pares grudaram nas ímpares e suas páginas ficaram fofas, rasgadas, ilegíveis. Umas ou outras se salvaram, mas perderam-se com o tempo. Ainda tenho saudades.
Fisicamente, foi-se o companheiro de aprendizagem. Mas seus versos povoam até hoje minha imaginação. Obrigada, poeta.
Aí está O Batalhão das Letras, de Mario Quintana. Encante-se com a simplicidade e a inteligência de cada verso e de suas rimas. Já percebeu o M na palma da sua mão?
O Batalhão das Letras
Aqui vão todas as letras,Desde o A até o Z,Pra você fazer com elasO que esperam de você…
Aí vem o Batalhão das LetrasE, na frente, a comandá-lo,O A, de pernas abertas,Montado no seu cavalo.
Com um B se escreve BALãO,Com um B se escreve BEBê,Com um B os menininhosJogam BOLA e BILBOQUê.
Com C se escreve CACHORRO,Confidente das CRIANçASE que sabe seus amores,Suas queixas e esperanças…
Com um D se escreve DEDO,Que poderá ser mau ou sábio,Desde o dedo acusadorAo D do dedo no lábio…
O E da nossa ESPERANçAQue é também o nosso ESCUDOé o mesmo E das ESCOLASOnde se aprende de tudo.
Com F se escreve FUGA,FRADES, FLORES e FORMIGASE as crianças malcriadasCom F é que fazem FIGAS.
O G é letra importante,Como assim logo se vê:Com um G se escreve GLOBOE o globo GIRA com G.
Com H se escreve HOJEMas “ontem” não tem H…Pois o que importa na vidaé o dia que virá!
O I é a letra do íNDIO,Que alguns julgam ILETRADO…Mas o índio é mais sabidoQue muito doutor formado!
Com J se escreve JULIETA,Com J se escreve JOSé:Um joga na borboleta,O outro no jacaré.
O K parece uma letraQue sozinha vai andando,Lembra estradas, andarilhosE passarinhos em bando…
O L lembra o doce LAR,Lembra um casal à LAREIRA!O L lembra LAZERDa doce vida solteira…
Com M se escreve MãO.E agora vê que engraçado:Na palma da tua mãoTens um M desenhado!
N é a letra dos teimosos,Da gente sem coração:Com N se escreve – NUNCA!Com N se escreve – NãO!
Outras letras dizem tudo.Mas o O nos desconcerta.Parece meio abobalhado:Sempre está de boca aberta…
Quem diz que ama a POESIAE não a sabe fazeré apenas um POETA inéditoQue se esqueceu de escrever…
Esse Q das QUEIJADINHAS,Dos bons QUITUTES de QUIABOEra um O tão mentirosoQue um dia criou rabo!
Os RATOS morrem de RISOAo roer o queijo prato.Mas para que tanto riso?Quem ri por último é o gato.
Acheguem-se com cuidado,De olho aceso, minha gente:O S tem forma de cobra,Com ele se escreve SERPENTE.
é o T das TRANçAS compridas,Boas da gente puxar;Jeito bom de namorarAs menininhas queridas…
O U é a letra do luto!O U do URUBU pousadoNas negras noites sem luaNum palanque do banhado…
Este V é o V de VIAGEME do VENTO vagabundoQue sem pagar a passagemCorre todo o vasto mundo.
Era uma vez um M poetaQue um dia, em busca de uma rima,Caiu de pernas pra cimaE virou um belo dábliu!Coisa assim nunca se viu,Mas é a história verdadeiraDe como o dábliu surgiu…
Com um X se escreve XíCARA,Com X se escreve XIXI.Não faças xixi na xícara…O que irão dizer de ti?!
Ypsilon – letra dos diabos,Que engasga o mais sabichão!Por isso o povo e as criançasA chamam de “pissilão”…
O Z é a letra de ZEBRA,E letras das mais infames.Com um Z os menininhosLevam ZERO nos exames.
E todas as vinte e seis letrasQue aprendeste num segundoSão vinte e seis estrelinhasBrilhando no céu do mundo!
(Mario Quintana)
Saiba mais sobre a obra
De 1948, O Batalhão das Letras foi a primeira obra de Mario Quintana voltada para o público infantil. Inovador, o livro apresenta o alfabeto enquanto ensina poesia, ora ressaltando as formas gráficas das letras, ora seus fonemas.
Em versos que encantam e ensinam, Quintana prova que é possível aprender e se divertir ao mesmo tempo. Afinal, nada como ser alfabetizado com poesia!
Fonte: http://www.objetiva.com.br