Vislumbre um lindo passeio navegando pelas águas traquilas de um canal. Imaginou Veneza ou Bruges? Pois pense Londres! Na última semana, numa tarde de abril ensolarada, respirando o frescor primaveril londrino, depois de passsar a manhã no Regent’s park me deixei surpreender pela beleza e mistério do canal de Londres(Regent’s canal).
Localizado no norte da capital, costeando o parque, o canal de águas calmas foi construído no início dos anos 1800 com a finalidade de escoar a produção da região na época, desembocando no rio Tâmisa. Hoje em dia o curso de água continua navegável interligando a zona norte, mas é usado essencialmente para o turismo, transporte de passageiros e também como ancoradouro de habitações em forma de barcos estreitos, as famosas casinhas flutuantes que já comentei aqui na coluna. Longe do barulho, a caminhada ao longo do canal é irresistível e plena de surpresas.
Afora alguns eventuais ciclistas afobados, o clima de tranquilidade preenche a paisagem da larga plataforma, permeada por barquinhos coloridos, ancoradouros e charmosas residências do Primrose Hill, bairro nobre de Londres. é um passeio muito agradável, em meio ao verde, e de onde pode-se contemplar os charmosos jardins dos palacetes georgianos de um lado enquanto do outro o panorama vai se alternando entre casarios de tijolo à vista ao fundo de áreas verdejantes e singelos jardins. Vou caminhando lentamente percorrendo os quase dois quilômetros que separam o Regent’s park do bairro de Camden Town sem nem perceber o tempo passar. Maravilhada pelo movimento dos barquinhos estreitos em constante vai e vem, eu também viajo com eles, atravessando pontes e apreciando a serenidade traduzida pela paisagem encantadora, ao mesmo tempo que tento imaginar a história destas pessoas que vivem a bordo de uma embarcação, sem endereço fixo.
E para minha surpresa, logo mais adiante minha curiosidade seria saciada num bate papo casual com dois jovens ingleses sorridentes. Sentado num barquinho ancorado próximo ao burburinho do Camden Town, devorando o que me parecia um almoço tardio, pois já passavam das três da tarde, James Munro, um dos simpáticos jovens, me ofereceu uma coxinha de frango assado que tinha em seu prato. Enquanto agradecia a gentileza, iniciamos uma conversa animada quando James, 20 anos, vocalista da banda The Cartoonist, e seu amigo Terry Oliver em visita naquele dia, me contaram com grande entusiasmo sobre a vida a bordo de um barco.
“O dia a dia é bem tranquilo, além de divertente, não se tem muito a fazer, como, bebo, durmo bem e canto à noite em clubes e bares aqui por perto”, relataram os jovens ingleses. James mora no barco de um quarto, cozinha e banheiro há pouco tempo e decidiu por esta habitação pois estava cansado de morar com amigos e assim paga um aluguel de £60 libras (pouco menos de R$270 reais) por mês para ancorar o barquinho, vivendo num lugar tranquilo ainda que sem endereço fixo. Pelo menos uma vez por semana ele precisa navegar ao longo do canal para assim dar espaço a outras embarcações. Ele pretende passar todo verão pelo canal de Londres antes de se mudar para a Holanda onde deve iniciar o curso universitário de Música e Cinema em setembro. E assim, a poucos metros do fervor de Camden Town termino esta caminhada inusitada, abanando um caloroso tchau aos novos amigos, e pronta para enfrentar o mar de gente no mais famoso bairro alternativo de Londres.
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