Na última semana retornamos à região sudoeste da Inglaterra, no condado da Cornualha. As férias neste cantinho da Inglaterra são sagradas para minha família, todo ano marcamos ponto, e desta vez foi mais especial pois tivemos a companhia dos meus pais, Asuir e Milita. A primeira vez que visitei a costa sudoeste inglesa foi em 1996 com meu marido, na época namorado. Desde então visitamos a região praticamente todos os anos, especialmente depois que tivemos filhos. As prainhas da costa sudoeste atraem muitos turistas principalmente famílias britânicas que tradicionalmente reservam uma semana para curtir a beleza e tranquilidade da região. Meu marido – inglês da gema- passou verões maravilhosos na Cornualha durante a infância e adolescência e assim a história se repete agora com nossos três filhos que com certeza terão também lembranças carinhosas das férias de criança!
A Cornualha desperta uma enxurrada de emoções profundas e ressonantes. Sempre que passeio por lá a impressão é de pertencer àquela terra (teoricamente impossível, mas nunca se sabe!). Reminiscência de outra existência? Encantamento? Ou apenas o fascínio pela água do oceano. Pode até ser… apaixonada pelo mar como sou talvez esteja ali o elo de ligação. A sensação é de estar vivendo um imenso quebra-cabeças onde pequenas peças de leveza, instrospecção, sensibilidade, euforia, plenitude e melancolia vão povoando a mente e irrigando veias e artérias, dando asas à imaginação. A cada visita eu me sinto mais seduzida pela originalidade deste pedacinho do território britânico que (ainda) não foi deformado pelos grandes centros urbanos ou autoestradas e consegue manter intacta a história de seu povo. E nem preciso dizer que eu adoro, amo de paixão, a Cornualha! Colírio para alma.
Natureza pródiga
A costa da Cornualha é simplesmente divina, marcada pelo relevo irregular e acidentado da região e permeada por vilarejos de pescadores escondidos entre o oceano e vales verdejantes. O constraste entre campo e mar é deslumbrante formando paisagens magníficas do litoral recortado por penhascos e falésias despencando no oceano sem fim. Por onde se anda o panorama é de tirar o fôlego com vistas sedutoras dos vales viçosos cortados por riachos e florestas, iluminados pelo brilho cintilante do mar azul turquesa cristalino.
A Cornualha é um dos daqueles lugares para serem visitados com calma, sem atropelo, de preferência com carro. Esqueça resorts na beira do mar, praias quilômetricas alinhadas por guarda-sois ou horas “lagarteando” na areia fofa. A noção de veraneio aqui é bem diferente daquela dos trópicos! Subindo e descendo cerros costurados por estradinhas estreitas somos surpreendidos por povoados encantadores, de duas ou três casinhas, propriedades rurais e muito campo. Atravessando colinas sinuosas repletas de ovelhas pastando vamos nos livrando da agitação da vida frenética da capital londrina para descobrir o silêncio de vilarejos idílicos e seus casarios charmosos, imersos na natureza pródiga. Vamos despindo a alma da inquietação urbana para apreciar a profusão de cores dos pequenos jardins floridos, das paisagens contrastantes e absorver a simplicidade do povo córnico. O jeito de viver aqui é tranquilo, embalado pela brisa refrescante do mar. Ora calmo, abraçando carinhosamente a areia clara, respigando ar salino; e ora impetuoso, apresentando braveza peculiar, batendo com furor nos rochedos imponentes dos despenhadeiros. Seja na maré baixa ou alta a imensidão do oceano Atlântico transforma a paisagem local.
A simpatia do povo local deixa esta região ainda mais bela. O tempo não parece ter importância para eles. Lendas da cultura local são recontadas diariamente nas lojinhas, pubs, restaurantes e cafés. Nestas aldeias de pequenas comunidades, muitas com menos de mil habitantes, formadas por pescadores e famílias de mineiros a vida tem outra dimensão. Eles primam pela originalidade e tradição dos ancestrais organizando festivais que clamam pelas raízes celtas. A Cornualha é recheada de misticismo e magia. Reza a lenda que foi aqui, na costa sudoeste da Inglaterra que nasceu o rei Artur, no Castelo de Tintagel.
A região denota nostalgia e esteve sempre presente na literatura britânica, em romances de escritores como Virginia Woolf, Thomas Hardy, Daphne Du Maurier, Winston Graham entre tantos outros. Para quem leu os romances da escritora Rosamunde Pilcher, nascida na Cornualha e onde passou férias da infância, irá sem dúvida relembrar do esplendor de cada narrativa dos livros, “O Catador de Conchas” e “O Regresso”, ambientados neste pequeno paraíso e vivamente descritos pela autora. Aliás, a escritora Rosamunde Pilcher contribuiu muito para a divulgação recente desta região encantadora. Várias adaptações de seus romances foram produzidas para televisão. Os alemães, em especial, são fascinados pela Cornualha pois até tempos atrás a televisão alemã transmitia seriados românticos e de suspense ambientados em vilarejos córnicos. De acordo com dados da secretaria de turismo regional, eles representam mais de 40% do total de turistas que visitam a região anualmente.
[GALERIA_621]