Vitoriosa: O medo que ensinou a viver um dia de cada vez

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Quando descobriu que estava com uma doença séria, Dorveti mal sabia o que era esse tal de câncer. Mas lhe contaram que ele matava. Em uma das consultas para tratar do câncer de estômago, o médico chegou a lhe dizer que tinha 11% de chances de sobreviver. Disse que o quadro só poderia se reverter se ela se dedicasse aos tratamentos e fosse forte.O desconhecimento da doença ajudou a enfrentar as dolorosas sessões de quimioterapia e radioterapia durante seis meses. Oito anos depois, Dorveti Ferreira de Moraes, 49 anos, conta como venceu esse desafio. Está curada.

Hoje, iniciando o calendário do mês de junho, apresentamos mais uma reportagem da série ‘VitoriosasÂ’, que destaca mensalmente aquelas que venceram o câncer e, por isso, são modelos de exemplo no calendário da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires.

MEDO

“Eu não sabia direito o que era, mas tive medo”, conta. Em 2004, a dona de casa, moradora de Linha Bela Vista, enfrentou aquela que considera a pior fase da sua vida: a descoberta do câncer. Em um mês, ela, que pesava na época cerca de 75kg, passou a ter 41kg. O emagrecimento desenfreado a levou a realizar uma série de consultas e exames e até uma cirurgia na vesícula. Mas foi uma endoscopia que constatou a gravidade do seu estado de saúde e que era necessária a retirada de um tumor no estômago. Com o resultado, a mãe de três filhos foi imediatamente internada no hospital São Sebastião Mártir, onde ficou por nove dias, até ganhar mais peso. Com receio de que ela se assustasse, o médico não contou a Dorveti que ela estava com câncer. Apenas os filhos foram comunicados. A inquietação dela a levou a procurar o médico dias depois, no posto de saúde. Com o resultado de exames mais aprofundados, o médico lhe contou que ela estava com a doença. “Só naquele dia fiquei sabendo. Eu não tinha noção do que era a palavra câncer. Achei que já estava boa com a cirurgia”, relembra. Foi então que o médico lhe indicou um profissional de Santa Cruz e o apoio da Liga.

Mas foi apenas quando se deparou com outros pacientes passando pelas sessões de tratamento que Dorveti realmente se deu conta do que estava acontecendo. “Quando cheguei em Santa Cruz, vi aquelas pessoas sem cabelo. Daí entrei num desespero.” Para a paciente, que tinha longos cabelos e sempre foi muito vaidosa, a perda de cabelo foi o momento mais chocante do tratamento. Para lhe dar apoio e autoestima, as duas filhas, Maria Madalena e Flávia, chegaram a cortar os cabelos e fazer uma peruca para a mãe: uma loira e outra morena. “Me lembro bem quando eu fiz a segunda sessão. Estava no banho e começou a cair todo o cabelo. Me dava um desespero quando me via no espelho. Eu chorava muito”, recorda.

Dorveti sabia que, se quisesse vencer a doença, teria de ser forte. E assim foi sua rotina de meses, com sessões de quimioterapia em Santa Cruz pela manhã e à tarde em Porto Alegre, onde fazia a radioterapia. Todo o tratamento foi feito através do Sistema único de Saúde (SUS). “Me perguntava: por que eu? Eu não entendia, pois tem tanto ladrão e gente ruim. Mas, então, eu vi que essa doença não escolhe ninguém”, afirma.

Durante o tratamento, a Liga lhe garantiu todo o apoio com roupas, medicamentos e passagens. “Eles são uma família. Pegam os pacientes e só largam quando estamos curados.” Além disso, sua família, amigos e vizinhos ingressaram numa corrente de fé, com orações pedindo proteção e saúde.Seis meses depois, quando estava indo para a última sessão, o médico de Porto Alegre lhe chamou para dizer que os 11% de vida haviam chegado aos 99%. “Eu estava curada e chorei de felicidade.”

NASCER DE NOVO

Oito anos depois, Dorveti diz que todo o medo serviu como lição para sua vida e por isso hoje tem como filosofia viver um dia de cada vez, sem se preocupar com os afazeres do amanhã. “Eu disse que ia conseguir, eu queria viver e lutei.” Depois da cura, o maior presente foram as duas netas. Além disso, passou a ser exemplo para outros pacientes de câncer, nos grupos de recuperação da Liga. Aprendeu a dar valor à vida e ao tempo. “Essa mania que eu tinha de só pensar em trabalhar e trabalhar… Agora cuido mais de mim. A cura ensina a gente a refletir, a ser mais humano. Voltei mais forte.”

A dona de casa garante que hoje é uma pessoa mais feliz do que era antes da doença. Para ela, o medo lhe rendeu muitos ensinamentos e desafios. “Quando eu estava doente, chegaram a me dizer que não iria arranjar ninguém e, pelo contrário, choveu candidato”, brinca. Há quatro meses ela namora Renito. A novidade é que pretende se casar em breve, inclusive já compraram as alianças. Além disso, a sua nova filosofia de vida lhe fez retornar à escola. Atualmente, ela frequenta, todas as noites, aulas no Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Com previsão de se formar no ano que vem, pretende cursar Direito em uma universidade.

Dona de casa, Dorveti acorda a cada dia sem pressa para nada. Se ocupa com os afazeres de que mais gosta. Mulher de sorriso fácil, conta que adora tomar chimarrão, cuidar das suas flores, cozinhar, estudar e conversar com os amigos. Vai a festas, dança, sorri, ajuda as pessoas, dá abraços e apertos de mão. “Se eu nasci de novo, então tenho que fazer tudo de novo.”

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