O nascimento de um bebê é um momento único para as famílias. Além de ser o início de uma vida, também é a última etapa de nove meses de espera. Mais do que preparar o lar para a chegada da criança, muitos pais também se preocupam em planejar o momento do parto. Nesse contexto, além de contar com o trabalho de médicos e profissionais do hospital, também pode-se contar com outras atuações. Uma delas são as doulas. A palavra vem do grego ‘mulher que serve’ e, nos dias de hoje, aplica-se a quem dá suporte físico e emocional a gestantes antes, durante e após o parto.
Ao dar à luz seu segundo filho, Vicente, em 2011, a fisioterapeuta Deisi Penz teve a participação dessa profissional. A decisão foi tomada após a primeira gestação. Para o nascimento do primogênito, Nicolas, em 2010, ela pesquisou por mais de meio ano sobre o assunto, assistiu a filmes e conversou com profissionais. Mas, a despeito de tanta preparação, o parto não saiu como planejado.
Como ela e o marido desejavam ter somente dois filhos, na segunda gestação, foi atrás de quem pudesse lhe ajudar a ter um parto perfeito. Foi assim que chegou até uma doula que reside em Florianópolis. “As doulas são as melhores pessoas para nos acompanhar num trabalho de parto”, afirma. “Não quero, em momento algum, menosprezar as pessoas que me atenderam no primeiro parto. Elas apenas não me atenderam como pedi. Fizeram o que é a rotina, o que estão acostumados, o que são orientados”, completa.
Depois de conhecer a profissional em um blog de depoimentos de partos humanizados, conversou com ela por e-mail e firmou a parceria. “Durante a gravidez ela não precisou ficar em contato, pois sou fisioterapeuta e sei o que é necessário para manter corpo e mente em harmonia”, lembra. No entanto, quando chegou na quadragésima semana de gestação, foi a doula quem lhe deu segurança para esperar as 42 semanas para que a criança nascesse de parto normal e natural.
Foi a doula também quem lhe apoiou para esperar em casa durante o trabalho de parto. Assim, Deisi evitou a rotina hospitalar, só indo para a instituição na hora de dar à luz.A mãe de Nicolas e Vicente salienta que, salvo algumas exceções, o corpo da mulher foi feito para parir de forma natural. “Mas isso está se perdendo”, lamenta. Em sua opinião, o parto humanizado é a experiência mais intensa que uma mulher pode ter na vida. “Ela se prepara durante nove meses para esse momento que é único, intenso, cheio de emoções, de sensações, de medos, certezas e sentimentos aflorados”, comenta.
Deisi acredita que, por mais filhos que se tenha, nenhum nascimento é igual ao outro. Ela diz que a situação em que a mulher se encontra não é a mesma e o parto humanizado consiste justamente em ter a sensibilidade de perceber o que a mulher está precisando. “é saber compensar a sua dor, passar confiança para ela conseguir ter força, respeitar seu corpo e fazer o que ele pede”, enumera.
VENâNCIO AIRES
Venâncio Aires ainda não conta com doulas em seu quadro de profissionais. A médica ginecologista e obstetra Daniela Bruxel comenta que, apesar de nunca ter trabalhado com uma, acha importante o serviço que elas prestam. “Elas têm o tempo e a paciência que é preciso para dar apoio e confortar a parturiente, apoiando o nosso trabalho médico”, afirma.
Daniela diz que muitos estudos mostram que as parturientes acompanhadas por doulas têm mais chance de ter um parto normal e mais tranquilo. “Cabe salientar que a doula é uma profissional treinada para isso. Não basta querer ajudar no parto sem ter o conhecimento ou treinamento necessário”, cita.
As doulas também não atuam nos procedimentos médicos ou rotinas hospitalares, já que não têm a formação para isso.Na opinião da médica, seria ótimo poder contar com esse tipo de profissional em Venâncio Aires. “As pacientes poderiam ter mais apoio na gestação, durante o trabalho de parto e no pós-parto também.”
Mas não é de se admirar que Deisi Penz tenha buscado uma doula em Florianópolis. Daniela ressalta que não é muito fácil encontrar essas profissionais fora dos grandes centros. Além disso, acredita que para desenvolver esse trabalho não basta querer, mas, sim, ter vocação e dedicação.
Para Deisi Penz, contudo, apenas a presença de uma doula não fará diferença. Ela enfatiza que toda a equipe médica deveria passar por um treinamento para que haja um parto humanizado. Ela questiona procedimentos padrões como tricotomia (raspagem dos pelos pubianos), lavagem intestinal e aplicação de ocitocina (um hormônio que acelera o trabalho de parto). Ou seja, embora já existam esforços para que os partos se tornem ainda mais especiais, ainda são necessários as adaptações da cultura. Por enquanto, assim como fez Deisi, cada gestante pode buscar a solução que melhor se enquadra para as suas crenças.