“Mas ela se deitava no sofá com um shortinho muito curto”

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Foto: Divulgação / InternetSegundo as psicólogas Aneline Decker e Márcia Preuss, que trabalham no atendimento a vítimas e a agressores no PAM, é muito comum responsabilizar crianças e adolescentes pelos casos de abuso sexual
Segundo as psicólogas Aneline Decker e Márcia Preuss, é muito comum responsabilizar crianças e adolescentes pelos casos de abuso sexual

O título dessa matéria não seria tão chocante, se ele não tivesse sido pronunciado por um homem que abusou de uma menina de dez anos. Um homem que viu em uma criança, em uma situação normal do dia a dia, um convite, uma provocação ao instinto sexual.

Depoimentos parecidos com esse, infelizmente, são comuns no Posto de Atendimento à Mulher (PAM), e revelam uma cultura facilmente reproduzida em diversas situações: as mulheres, independente da idade, são responsabilizadas pelo comportamento das outras pessoas.

Segundo as psicólogas Aneline Decker e Márcia Preuss, que trabalham no atendimento a vítimas e a agressores no PAM, é muito comum responsabilizar crianças e adolescentes pelos casos de abuso sexual. Frases como ‘ela também provocou’, ‘ela se insinou’, ‘ela deixou’, ou ‘ela estava com uma camisola muito curtinha’ são comuns nos relatos.

E essa responsabilização não termina quando a menina cresce. Nos casos de violência contra a mulher, novamente é comum ouvir dos agressores frases como ‘Ela não comprou pão na padaria, por isso que eu briguei’, ‘ela não fez o jantar, por isso que eu bati’. “O comportamento da mulher é um argumento por terem agido de tal forma”, explicam as profissionais.

Toda essa interação também se reproduz em outras situações, na rua, na escola, no trabalho. Embora a discussão dessa matéria não sejam os códigos de vestimenta apropriados a cada local, as psicólogas concordam que, quando se obriga uma mulher a esconder alguma parte do seu corpo, apenas reforça-se a questão de que é a vítima quem tem que se responsabilizar pelo ato do agressor. “Eu tenho que evitar que o outro olhe para mim e enxergue alguma parte do meu corpo que seja objeto de desejo”, completam.

Em uma retrospectiva da história feminina, as profissionais também surpreendem-se ao lembrar de todas as lutas que foram necessárias para conquistar o direito de sair de casa, para estudar, e ter espaço no mercado de trabalho. “Hoje, as mulheres têm que lutar para poder ter um determinado tipo de vestimenta, e que isso não seja responsabilizado pela atitude do outro”, finalizam.

Eu tenho que evitar que o outro olhe para mim e enxergue alguma parte do meu corpo que seja objeto de desejo.

Pais: que tal pensar sobre a maternagem?

A palavra é diferente, mas o significado é simples. Maternagem tem a ver com maternidade, e dá a ideia de que a mulher é a responsável pelo comportamento de outras pessoas. Vem, ainda, do pensamento de que a mulher é a única responsável pela criação dos filhos, conceito que segue para outros tipos de relacionamento.

“é como se a mulher tivesse que seguir maternando o seu companheiro, o seu colega de classe ou o seu amigo, no sentido de que ela é responsável por ele ter um determinado comportamento”, explicam Márcia Preuss e Aneline Decker.

Segundo as psicólogas, é preciso que os pais pensem sobre isso e conversem com seus filhos. “é muito importante que os nossos filhos escutem que um relacionamento não é permeado de acusações, e que respeito é primoridal. E isso, muitas vezes, a gente não lembra de falar”, comentam.

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