A barbárie que chocou e abalou a sociedade brasileira neste feriadão reacende a necessidade de uma profunda reflexão, sobretudo dos governos e da Justiça do país para tornar as leis mais rígidas e formar uma sociedade mais madura, igualitária e de respeito.
Certamente enquanto você lia, ouvia e acompanhava os desdobramentos do caso da adolescente de 16 anos que denunciou que foi estuprada por 33 homens em uma comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro, outras mulheres eram abusadas sexualmente.
Os casos de violência sexual escancaram, sobretudo, o quanto a mulher é ainda tão desrespeitada nesta sociedade dita moderna. O estupro é um crime que acompanha a história da humanidade e que gera tanta indignação e repulsa, que até as casas prisionais, na sua maioria, isolam os condenados pela prática de crimes sexuais.
A monstruosidade cometida contra a jovem ganhou atenção de veículos de comunicação de todo país e repercussão mundial, sobretudo, pois se trata de um estupro coletivo. Entretanto, casos de abuso contra mulheres, inclusive crianças, acontecem a todo tempo e estão mais perto do que imaginamos. Pode estar ao lado da sua casa.
Levantamentos de segurança pública dão conta de que 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência nasce dentro dos lares. Mais grave ainda são as situações que não chegam ao conhecimento da Polícia, pois não são denunciadas pela vítima ou por algum familiar ou amigo. O medo de denunciar pode fazer com que uma situação traumática e dolorosa se arraste por anos.
Nesta edição, a Folha do Mate conta a história de uma jovem que, por uma década foi abusada pelo tio e pelo próprio irmão. Ela desabafou e relatou situações perplexas e da dificuldade de ser compreendida pela sociedade que ainda tem preconceito e pouco reage sobre esses fatos. Silencia.
é por isso que 99% dos agressores sexuais estão soltos, pois a sociedade tem o hábito de abafar a violência sexual a qualquer custo. Por vergonha, por medo e até por achar as leis falhas e impunes.
Instalou-se um ciclo de silenciadores. Desde a vítima que não denuncia o agressor, até os policiais que não investigam. Entra nessa roda a família que pode estar ignorando diversos sinais e até pedidos de ajuda. Com esse ciclo vicioso os casos continuam. Se os números registrados nas tabelas oficiais já parecem ser gigantes, deve-se considerar que muitos, talvez a maioria deles, nem tenham entrado para as tais estatísticas.
Vivemos ao redor de muitos machistas e homens que enxergam as mulheres como objetos sexuais.
Vivemos ao redor de pessoas que ao invés de julgar o agressor, questionam a roupa que a mulher vestia, onde ela estava, que horas eram e se estava bêbada ou drogada.
Vivemos em uma sociedade que ainda não tem maturidade para lidar com esses casos e acolher as vítimas. O estupro é um crime íntimo, que exige dos médicos, advogados, policiais e familiares respeito, sensibilidade e responsabilidade.
Que logo, logo, o Brasil avance e os brasileiros tenham uma lei que garanta mais proteção e atenção as tantas Marias que até hoje precisam vencer uma dor que jamais vai ser apagada.