Se o cigarro legal já causa danos à saúde, imagina o contrabandeado. Uma pesquisa desenvolvida desde 2012 na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desvenda o que está por trás desse cigarro que vem do Paraguai: pelo de animais, terra, areia, vestígios de plásticos, restos de insetos, colônias de fungos, ácaros e metais cancerígenos como chumbo, cádmio, níquel, cromo e manganês. Um dado assustador mostra que algumas marcas contrabandeadas têm quantidade de chumbo 116 superior à encontrada nas que são vendidas legalmente no Brasil.
Mas também está comprovado o aumento de consumo de cigarro contrabandeado no país. As estimativas atuais são de que 31% do consumo de cigarros no Brasil tem origem clandestina, principalmente do Paraguai. E os índices são ainda maiores na região Sul. No Rio Grande do Sul, estado campeão de produção, o mercado ilegal chega a 43,3%.
Os representantes do setor do tabaco enfatizam que este aumento esteja diretamente ligado ao aumento da carga tributária sobre o cigarro brasileiro. No Brasil, a incidência de impostos sobre o produto local é de 65%. Já no Paraguai, a mesma não chega a 13%, o que torna o produto paraguaio mais competitivo.
O presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, enfatiza que a venda do cigarro legal está em queda. “O que temos visto e acompanhado no Brasil é a elevação constante dos impostos sobre o cigarro, tanto que em maio ocorreu um aumento e está programado outro para ocorrer em dezembro. Com isso, há uma queda na venda do cigarro legal. Em contrapartida, há um aumento no consumo do cigarro contrabandeado ou fabricado de forma ilegal.”
Com a baixa tributação no país, a produção de cigarros no Paraguai supera as 60 bilhões de unidades ao ano. O número é muito superior ao consumo local, que é de 2,7 bilhões de unidades. A exportação legal também é pequena, cerca de 3,5 bilhões. O restante entra no Brasil e outros países de forma ilegal. O aumento de impostos é tratada como uma arma no combate ao tabagismo pelas organizações e entidades da saúde, o que segundo Iro Schünke, classifica como tiro no pé. “Na Conicq já discutimos isso. Todos querem a diminuição do contrabando, mas aumentando o imposto sobre o cigarro legal, há aumento na venda do produto contrabandeado dentro do país.”
A queda na venda do cigarro legal, já deixa suas marcas. “Uma das duas fábricas da Souza Cruz fechou. Na Phillip Morris houve redução no número de trabalhadores. Além da diminuição da receita da União, e da queda nas venda do produto, ocorre a redução no número de funcionários nas empresas, ou seja, são menos empregos, menos consumo; na verdade é uma cadeia”, salienta Schünke. Ele ainda acredita que o aumento dos impostos deve persistir.