
Mesmo que estejamos no século 21 e tantos avanços tenham sido verificados ao longo dos anos – principalmente tecnológicos -, ainda existem muitas pessoas analfabetas no mundo. Segundo o Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos, divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o planeta tem 758 milhões de adultos – 115 milhões deles, com idade entre 15 e 24 anos, não têm capacidade de ler ou escrever uma simples frase.
No caso de Venâncio Aires, conforme dados de 2010 fornecidos pela Secretaria de Educação, 4,6% da população com mais de 15 anos é analfabeta e 1,8% dos jovens entre 10 e 14 anos também não sabe ler nem escrever. Dados mais recentes, de 2016, divulgados pela IPC Marketing, por meio de um estudo de potencial de consumo dos municípios, mostra que de uma projeção de 70.188 habitantes em Venâncio no ano mencionado, 62.868 pessoas eram alfabetizadas, o que corresponde a uma estimativa de 89,5%.
Quanto aos dados de 2010, a secretária de Educação de Venâncio, Joice Battisti Gassen, ressalta que o percentual ainda é alto ao se tratar de analfabetismo. Pelo fato de a pesquisa não ser tão recente, Joice acredita que se fosse feito um novo estudo, o percentual de jovens entre 10 e 14 anos analfabetos seria menor. “Hoje o Ensino Fundamental já universalizou, principalmente agora que as matrículas devem ser feitas aos quatro anos, mas sempre há uma ou outra pessoa que foge desse universo”, comenta.
A secretária percebe que o número de pessoas que não têm nem o Ensino Fundamental completo é alto: “A escolaridade da nossa população ainda é muito baixa”. Para Joice, o analfabetismo ainda existente se deve a uma questão cultural. “Nosso município tem uma cultura ainda muito truncada, das pessoas entenderem que a escolaridade é importante”, complementa. O município, segundo ela, oferece nas escolas Macedo e Dois Irmãos a alfabetização de adultos durante a noite, no entanto, a procura ainda é pequena. “As aulas são durante a noite, porque não existem alunos com interesse durante o dia”, justifica.
Falta de implementação de políticas públicas
Em meio a esse problema que faz parte da realidade de muitos países, o desafio é saber as causas de um modo geral e o que fazer para combatê-lo. Para a antropóloga Josiane Ulrich, o analfabetismo ainda existe no Brasil, porque não há um real investimento de políticas governamentais, até pelo fato de o país não dispor de uma verba suficiente destinada à educação. “O analfabetismo está relacionado a um país que tem governantes que não estão implementando políticas públicas de erradicação desse problema”, comenta.
Conforme ela, se uma pessoa é analfabeta, não é porque a informação não chega até ela, mas sim, porque não há um estímulo que faça ela sair dessa condição: “Não basta apenas a informação. é preciso dar condições para essa pessoa”.
Em alguns casos, o analfabetismo também existe devido às condições sociais das pessoas, as quais, por necessidade, têm que trabalhar o dia inteiro ou enfrentam o difícil acesso às escolas e, em função disso, não garantem educação.“Existem políticas governamentais mal sucedidas e implementadas que também são as causas do analfabetismo”, complementa.
ENSINO MéDIONa opinião dela, no momento, a preocupação maior está voltada à reforma do Ensino Médio e não no investimento e destinação de recursos a uma educação de qualidade, o que se torna um aspecto negativo. A antropóloga acredita que as pessoas não fazem a escolha por serem analfabetas. Para saírem dessa condição, além de incentivo, precisam de políticas públicas. O analfabetismo, na opinião da profissional, acaba por excluir as pessoas da sociedade por não terem acesso às informações e não conseguirem se localizar em alguns espaços.
Segundo ela, além dos investimentos, é preciso fazer um mapeamento para verificar quais as regiões com maior índice de analfabetismo, analisar a realidade desses locais e qual o nível socioeconômico das pessoas de cada região.
Relação com a pobreza
Já na opinião do sociólogo César Goes, o analfabetismo ainda está bastante relacionado à pobreza. Conforme ele, há muito tempo o Brasil busca combater o analfabetismo e houve um período em que este problema foi considerado erradicado no país, mas voltou.
Assim como Josiane, Goes também acredita que para enfrentá-lo é preciso fortes políticas de inclusão e investimento. “Se essas medidas que estão sendo instauradas permanecerem, vai haver uma geração de analfabetos, porque há escolas por zoneamento, otimização das salas de aula e principalmente o ensino médio que vai ficar muito reduzido em termos de opções para os alunos”, opina.
O sociólogo ressalta que a dificuldade não está na falta de vagas, mas na carência de fatores pelos quais as famílias não conseguem levar os filhos até a escola: “O problema ainda não são as vagas, mas acredito que em um futuro próximo chegará a ser”.