A maioria está em idade escolar e frequenta regularmente a sala de aula. Mas, apesar de uma rotina, em tese, normal, muitos jovens vivem uma realidade um pouco diferente de outros, porque apresentam algum tipo de dificuldade no aprendizado e precisam de acompanhamento. A constatação está nos números significativos de crianças e adolescentes atualmente em atendimento no Centro Integrado de Educação e Saúde de Venâncio Aires (CIES).
São mais de 500 casos ativos com alguma deficiência ou problemas na aprendizagem. Se esse número surpreende, quase o dobro dele (cerca de 950), está na fila de espera por avaliação e os pedidos crescem a cada dia. Essa demanda vem, principalmente, das escolas públicas de Venâncio Aires e do sistema de saúde.
No caso dos educandários, quando um professor percebe que algum aluno pode estar com dificuldades, o caso é encaminhado ao CIES. Nele, é oferecido atendimento multiprofissional que inclui neurologista, neuropediatra, clínico geral, psicólogo, fonoaudióloga, psicopedagoga, fisioterapeuta, estimuladora precoce e orientadora educacional.
Segundo a coordenadora do CIES, Viviane de Oliveira, o atendimento vai desde bebês até adolescentes de 18 anos. “Depois da avaliação dos profissionais, o passo seguinte é definir a programação terapêutica, no chamado ‘estudo de caso’, que acontece todas as quartas-feiras, com representantes da escola da criança. Há casos que podem estar relacionados a problemas de doença mental grave. Nestes, os jovens são encaminhados para avaliação no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPS i) de Venâncio Aires, equipe que tem uma parceria bem próxima com o CIES”, explica Viviane.
Ainda conforme a coordenadora, além do CAPS i, o trabalho funciona em rede com outros serviços da saúde, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e o Conselho Tutelar. “Para eles, são encaminhados casos de vulnerabilidade, que envolvem situação de violência familiar, por exemplo”, esclarece.
Dos atendimentos que já passaram pelo estudo de caso e estão na escola, a maioria é de alunos com os chamados ‘laudos’, que já têm acompanhamento dos profissionais conforme a programação terapêutica indicada. Em uma escola do interior de Venâncio Aires, por exemplo, de uma turma com 19 alunos, seis têm laudo. “E há mais casos que precisam ser avaliados”, revela a professora responsável.

Casos mais comuns
A maior parte das situações é de ordem psicológica e neurológica. Segundo a neuropediatra Melina Sperotto Pimentel, as dificuldades de uma criança em aprender estão relacionadas, entre outros fatores, ao atraso cognitivo, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade e até depressão. “O atendimento não é só para as crianças, mas para as famílias também, para entendermos como é o ambiente familiar, socioeconômico e cultural. Isso também pode influenciar no desenvolvimento neurológico”, explica.
A neuropediatra também considera alto o índice de medicação receitada. “Ainda se trata muito a consequência e em vários casos é preciso ajuda de medicamentos. Mas o ideal é tratar a causa com medidas comportamentais, já que a maioria envolve ansiedade e déficit de atenção.”
A fisioterapeuta que atua no CIES também faz um acompanhamento direto nas Escolas Municipais de Educação Infantil. Semanalmente é feita a assessoria nas Emeis, avaliando casos de crianças entre 0 e 5 anos, que podem ser encaminhadas ao centro.
Complemento nos serviços de saúde e educação
Criado em maio de 2009, o Centro Integrado de Educação e Saúde de Venâncio Aires já realizou quase 35 mil atendimentos. Desse número, há alunos que começam e terminam o tratamento, sem necessidade de volta. O período é conforme cada caso. Também há aqueles que ficam um tempo sem serem atendidos e depois as escolas requisitam o retorno ao CIES – casos de jovens atendidos desde a implementação do centro.
Localizado na rua Reinaldo Schmaedecke, próximo à Biblioteca Pública, o CIES é pioneiro no estado e muitos municípios procuram o local para aprender e buscar informações sobre seu funcionamento. Os serviços são considerados fundamentais para aquilo que já integra as redes de Saúde e de Educação de Venâncio Aires. A secretária de Educação, Joice Battisti Gassen, destacou a inclusão escolar que o CIES permite. “Isso possibilita que os profissionais envolvidos com a aprendizagem da criança tenham suporte para tomar decisões e fazer o planejamento das ações, respeitando o tempo da criança.”
O secretário de Saúde, Ramon Schwengber, fala em complementação e integração do trabalho. “O CIES complementa o trabalho realizado na rede de saúde e essa ligação é válida, já que há muitos casos em comum. Um projeto bem municipal e que é exemplo para vários outros municípios.” Com o crescimento da demanda, também aumenta a necessidade de melhorar cada vez mais o serviço.
Segundo a coordenadora Viviane de Oliveira, neste ano foi implantada a estimulação precoce no atendimento aos pequenos. “Como nossa prioridade é com a prevenção, é impossível mensurar sua importância, já que o objetivo é o desenvolvimento integral da criança”, afirma. Em breve, a equipe do CIES deve ser reforçada com um psicólogo. A contratação do profissional foi aprovada na sessão ordinária do Legislativo da última semana.