Para quem não conhece Minas do Leão, a cidade do lixo, deve imaginar que os moradores da cidade de pouco mais de oito mil habitantes convivem com um cheiro insuportável. Mas estão enganados. O trabalho executado pela Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), localizada na BR-290 no quilômetro 181, alguns metros após o trevo de acesso à cidade, não ‘deixa perceber’ que é lá que está aterrado 42% do lixo produzido no Rio Grande do Sul. É para lá que a Folha do Mate te convida a viajar na segunda reportagem da série ‘Caminho do Lixo’. O trajeto de Venâncio até Minas do Leão tem 130 quilômetros.
Alguns metros da entrada da companhia, ao abrir o vidro do carro para sentir o ‘cheiro do lixo’, o único aroma que se sente é do ar puro emitido pela vegetação às margens da rodovia.
Quando fala-se em aterros sanitários, imagina-se montanhas e montanhas de lixo. Mas é justamente o contrário que se vê dentro da CRVR, empresa que opera os resíduos de 132 municípios do Rio Grande do Sul, entre eles, Venâncio Aires.


A balança – responsável por pesar as 3,5 mil toneladas que chegam diariamente – é a primeira etapa do lixo que chega no aterro sanitário. É dela que é possível avistar, ao fundo, uma máquina amarela em operação em cima de uma pilha de resíduos. Logo abaixo dela está um gramado verdinho e bem aparado. Não imagina-se, logo de cara, que abaixo dele já estão depositados resíduos de 42% dos municípios do estado.
O topo, onde a máquina opera para conseguir uma compactação do resíduo em uma densidade de 1,05 toneladas por metro cubico, já tem uma altura de 115 metros. Quando atingir 130, a capacidade do espaço será atingida. Mas, enquanto este gigante espaço não é preenchido, outra área, do lado contrário, já é estruturada para receber os futuros resíduos.
O coordenador da unidade de Minas do Leão, Rafael Hollweg Salamoni, explica que após esse processo, são realizadas drenagens verticais e horizontais para escoar o chorume (líquido poluente de cor escura) para a base do aterro e o gás para a superfície. “Esse resíduo depositado aqui é coberto e o gás metano é captado e levado para a estação de queima, processo que é realizado na Biogás ou na Biotérmica”, explica.
Essa captação, de acordo com ele, reduz 21 vezes o impacto ambiental que o gás metano, sem ser queimado, causaria no meio ambiente. “Esta é uma energia reciclável, que vem de uma matéria orgânica e que até então não ia trazer valor algum para a sociedade”, destaca.
Com esse processo concluído, o efluente é encaminhado à Estação de Tratamento de Efluentes, onde o chorume é tratado e depois utilizado para lavar o carvão da empresa Copelmi Mineiração Ltda, que fica próximo da CRVR. “Essa água tratada vai para a bacia de lavar o carvão. O que significa que não temos emissão de chorume para o corpo hídrico”, explica Salamoni. E o odor gerado pelos resíduos só é percebido a 15 metros da frente de serviço, onde colaboradores munidos com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), cuidam dos resíduos que chegam dos 132 municípios.
No futuro, aterro será área de lazer
O coordenador da unidade de Minas do Leão, Rafael Hollweg Salamoni destaca que o espaço ainda tem vida útil de 20 anos. Após esse período, a área de 254 hectares, com destinação de 77 hectares para aterro sanitário, mas tem apenas 44 ocupados até o momento, será entregue à comunidade para áreas verdes e campos de futebol. “Quando os trabalhos são encerrados, você continua tendo a geração de biogás por mais 15 anos, captando e gerando energia do aterro. O monitoramento precisa ocorrer por mais 20 anos. Depois desse período, o espaço ambientalmente recuperado é entregue à comunidade”, diz.
Aberto em 2001, o aterro sanitário, chamado de Unidade de Valorização Sustentável (URV), está atuando em uma antiga cava de carvão que precisava, na época, ser recuperada com algum projeto de restauração de área degradada.
A unidade foi instalada, principalmente, para atender a região de Porto Alegre que estava enfrentando um sério problema com a disposição de resíduos. Hoje é a maior cliente da CRVR, depositando duas mil toneladas por dia e 50 mil toneladas por mês.
A CRVR é licenciada para receber 120 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares e urbanos por mês. Até o momento, recebe 100 mil toneladas por mês. “O que significa que ainda temos 20 mil toneladas para atender algum município que esteja com problema”, destaca Salamon
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Triagem
O responsável enfatiza que a eficiência do mercado de reciclagem está na faixa dos 10%. “Se entrar na triagem 100% de resíduos, dez seriam reciclagem. Os 90% que ‘sobram’ são encaminhados ao aterro e deste total, apenas 50% é material orgânico que a triagem não mexe. Então existe um gargalo de 40% que poderia ser triado nas fontes geradores, é o caso das sacolas sujas, vidro, ferro”, aponta.
Questionado sobre o aumento de resíduos, o coordenador destaca que percebe-se um crescimento vegetativo de 1,5 a 2%, que varia de acordo com a economia. “Se a economia está aquecida, você consome mais e produz mais lixo”, pontua.
Geração de energiaA Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos está gerando 7.5 megabyte/hora de energia a partir do resíduo. Com essa produção, uma cidade com 50 mil habitantes poderia ser atendida. “Poderíamos abastecer Minas do Leão, Butiá e mais uma cidade ao redor”, compara. O coordenador avalia o aproveitamento de forma positiva: “Precisamos cada vez mais tirar valor do resíduo, valores ambientais, gerando energia social, mercado e renda, valor institucional e economia”.
Série especial: Viaje conoscoNo último fim de semana embarcamos em uma viagem para percorrer o Caminho do Lixo. Nesta semana, a parada foi em Minas do Leão e a próxima parada volta a ser em Venâncio. Vamos percorrer o caminho mais triste do lixo. O das ruas e dos terrenos baldios, onde o lixo é descartado de forma irregular, agredindo diretamente o meio ambiente. É o caso de entulhos como restos de obras, móveis velhos, entre tantos outros itens.