As agroindústrias familiares de conservas de hortaliças de Venâncio Aires e Mato Leitão, nos últimos dias, começaram a enfrentar o problema da falta de vidros para o envase dos produtos. O problema elas vêm enfrentando há alguns meses, porém, ainda conseguiam envasar as hortaliças pois contavam com um bom estoque.
Quem está enfrentando esta situação é Gérson Alf, proprietário de uma agroindústria familiar de conservas em Mato Leitão, e o produtor João Weber, de Linha Bem Feita, que produz pepino para a agroindústria de Inácio Roberto Guterres, também de Linha Bem Feita. Alf conta que até o momento já perdeu mais de 6 mil quilos de pepino que jogou na lavoura e os produtores que produzem para ele, estão matando as plantas que criam abrigadas em estufas de plástico, não fornecendo água. Em dois dias, sem água, elas morrem.
FABRICANTES
A falta, segundo os produtores, se deve ao fato de que as duas fabricantes destes vidros no Brasil fecharam acordo com uma cervejaria e uma empresa mundial de refrigerante para a fabricação de garrafas para as duas bebidas. Isto foi confirmado por meio de um comunicado do representante da Aranha Indústria e Comércio Ltda, distribuidora de vidros, de Santa Catarina, John Kennedy. Ele salienta que as duas empresas estão voltando com tudo para as embalagens de vidro e que pagam 200% a mais de margem para que as indústrias as atendam. “Com isso, as fabricantes de vidros pararam tudo e estão dando prioridade a estes clientes”, frisa.
Em entrevista a Folha do Mate, ele confirmou que esta situação deverá ser normalizada a partir do dia 14 de janeiro próximo, quando as fábricas voltarão a fornecer os vidros. Porém, elas transferiram as plataformas industriais com as formas para a Argentina e, com isso, o vidro que hoje custa R$ 0,83, será entregue a R$ 1,03 aos produtores, incluídas as taxas de importação e impostos, o que encarece em R$ 3 o valor de uma caixa com 15 unidades. “Fomos comunicados que a partir de 1º de janeiro de 2019, haverá um reajuste em torno de 20% em todas as linhas”, confirma Kennedy.
RECICLÁVEIS
O uso de vidros reciclados (que já foram utilizados) ajudaria um pouco para amenizar a situação, porém, segundo os produtores, o reuso atenderia no máximo em 5% a necessidade deles, devido ao pouco retorno. Porém, o reuso deste tipo de vidros está proibido há mais de dois anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ciente da necessidade das agroindústrias familiares, a 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (13ª CRS) de Santa Cruz do Sul, por meio da chefe do setor de Vigilância em Saúde, Rosaura Gomes Ferreira, está junto à Secretaria Estadual de Saúde (SES), solicitando uma liberação por tempo determinado, pois ela entende que estes estabelecimentos não podem ficar sem vidros. “Porém, por enquanto, não temos nenhuma informação a respeito e estamos no aguardo das novas orientações, e, enquanto não vem esta liberação, eu preciso cumprir a legislação”, frisa.
“Se o envase de hortaliças não for normalizado logo, há o risco de desabastecimento de hortaliças em conservas nas gôndolas dos supermercados”.GÉRSON ALFProprietário de agroindústria familiar
70%é o total da produção de hortaliças que a agroindústria de Inácio Guterres está deixando de envasar