A comunidade São Caetano, em Linha Cerro dos Bois, estava toda decorada de azul na tarde do último domingo, 16. A data foi a escolhida para o chá de fraldas do Renan e cerca de 50 mulheres foram convidadas para o tradicional evento à espera de um bebê.
A festinha aconteceu, rendeu presentes, doces, salgados e muita alegria. Mas, nas fotos do chá, já espalhadas para amigos e parentes nos grupos de WhatsApp, os anfitriões não aparecem. O motivo? Renan decidiu vir ao mundo horas antes.
O menino venâncio-airense foi um dos três bebês ‘apressados’ do Rio Grande do Sul que nasceram no fim de semana. Além dele, outro menino que nasceu dentro de um supermercado em Viamão, e uma menina, nascida em casa, no município de Cachoeirinha.
O PARTO
O domingo de manhã era o dia de catequese na Comunidade São Caetano. De lá, Isabela Cristina Xavier, 30 anos, a filha mais velha Rayssa, 13 anos, e as comadres Roseli e Fátima voltavam para casa, pouco antes das 10h.
Acostumada a fazer o trajeto de pouco mais de dois quilômetros entre sua casa e a comunidade, Isabela demorou mais do que o costume. Com 36 semanas de gestão do terceiro filho, a recicladora, conhecedora do próprio corpo e das condições físicas, dava passos curtos, fazia paradas e puxava o ar com mais de dificuldade. “Senti vontade de fazer xixi”, resume, ao descrever as primeiras sensações. Quando chegou em casa, foi direto para o banheiro.
– Mãe, tu tá bem? – a pergunta veio da filha Rayssa.
– Filha, acho que liga pro pai, que o nenê vai nascer – respondeu Isabela.
A recicladora começou a sentir cólicas e as dores também a deixaram ‘com calor’, por isso tirou a roupa e foi para debaixo do chuveiro, onde ficou de cócoras. Ouvindo os pedidos de “abre a porta” vindos de filha e das amigas, Isabela abriu a porta e voltou para o ‘banho fora de hora’. Quando se agachou novamente, sentiu uma contração. “Só deu tempo de puxar a toalha do meu filho [Ramon, 6 anos] e colocar no piso. Daí peguei ele no colo e fiquei ali.”
Renan veio ao mundo assim, de forma inusitada, no banheiro de casa. Nasceu saudável, com 2,85 quilos e 46 centímetros, mais de três semanas antes do previsto.
CASA CHEIA
Isabela conta que, ao presenciarem a cena inusitada, a madrinha de Renan, Juliete, a vizinha Lúcia e a sogra Edith “ficaram apavoradas”. No improviso, a ‘mulherada’ começou a cobrir mãe e filho, que chorava, com toalhas de banho e buscaram um banquinho de madeira para Isabela sentar.
“Começou a aparecer gente de todo lado. Minha mãe Vera, convidadas do chá, vizinhos. Nunca vi a casa tão cheia”, conta, entre risos, Isabela. Nisso, o marido Elisidoro Batista da Luz, 34 anos, voltou de Rio Pardo, para onde tinha ido naquela manhã.
Mãe e filho ficaram no banheiro, à espera do atendimento médico. O sargento da BM, Josué Padilha, foi o primeiro a chegar e avisou o Samu. Só quando a equipe médica apareceu, que Isabela e Renan foram ‘separados’, com o corte do cordão umbilical.
Do susto, à tranquilidade
Isabela e o marido Elisidoro atenderam à reportagem da Folha do Mate nesta segunda-feira, 17. Em um dos quartos da maternidade do Hospital São Sebastião Mártir, pais e o filho estavam só à espera da alta. “Foi um susto, mas agora está tudo bem”, comemora a mãe do Renan. Sem maiores problemas, a única tarefa dela no hospital e amamentar e trocar as fraldas. Da mesma forma, Renan também está bem, saudável e dorme a maior parte do tempo.
Questionada sobre o que pode ter causado o parto imprevisto, Isabela diz que na sexta-feira, 14, quando fecharam as 36 semanas de gestão, ela ficou ainda mais atenta. “Acho que ele só tava com bastante pressa e resolveu vir mais cedo. Não esperava que pudesse ser assim, tão rápido, mas no fim até facilitou tudo, né?”
LUA?
A madrugada desta segunda-feira, 17, marcou a troca da fase da lua crescente para a cheia. Dizem, entre as crenças populares e mesmo em discussões teóricas, que isso poderia ter alguma influência sobre as gestantes e ‘apressar’ partos. A tentativa de explicação é de que a mudança tem a ver com a força que a lua faz sobre as águas, influenciando também, os líquidos corporais. Mas não há comprovação científica para o caso.
CASOS
1 A história do ‘apressado’ Renan é semelhante a outra situação registrada em Venâncio Aires recentemente. No último dia 8, uma mulher deu à luz dentro do carro, antes de chegar ao Hospital São Sebastião Mártir. A criança nasceu no cruzamento das ruas Tiradentes e 15 de Novembro.
2 Mas, além de partos em locais inusitados para os dias de hoje, há casos curiosos registrados no hospital de Venâncio. Segundo a gerente de apoio assistencial, Susan Artus Dettenborn, há cerca de quatro anos uma mulher, suspeitando de dores nos rins foi até o hospital. “Se queixava de dor nas costas e quando foi no banheiro, nasceu a criança. Disse que não tinha sintomas da gravidez.”
3 Susan também relata outro caso incomum. Uma adolescente, de 16 anos, foi consultar para investigar dores na região do baixo ventre. Quando foi dar entrada, a criança nasceu.
4 Mesmo que o Renan não tenha nascido no hospital, ele entra para as estatísticas da casa de saúde, já que houve posterior atendimento. Por falar em números, entre janeiro e maio deste ano (meses já computados), são 392 registros de novos venâncio-airenses.