Quando a sirene toca, o coração começa a bater mais forte. Chega o momento da equipe da 2ª Companhia do Corpo de Bombeiros de Venâncio Aires entrar em ação. A roupa de aproximação e os equipamentos que serão utilizados na ocorrência já ficam separados no dia anterior para facilitar na agilidade do serviço. Nesta hora, todos sabem que o tempo é precioso e cada minuto pode ser o bastante para salvar uma vida.
Para o sargento Erasmo Pinto Robalo, 50 anos, esta realidade já faz parte da rotina há 28 anos – ele é um dos profissionais que atua mais tempo no Corpo de Bombeiros de Venâncio Aires, que atua desde dezembro de 1987. Das quase três décadas na corporação, de todas as ocorrências, a primeira foi a mais marcante. “Quando a gente se forma, quer logo entrar em ação para saber como tudo funciona”, afirma Robalo.
Ao ser escalado, ele jamais imaginava o que iria encontrar pelo caminho. O primeiro atendimento de Robalo foi em um acidente na RSC-287, próximo da ponte do Rio Taquari. A ocorrência foi durante a noite e a pista ainda estava molhada em decorrência da chuva. O carro, que ia em direção a Porto Alegre, saiu da pista e capotou. Duas pessoas envolvidas no acidente faleceram na hora. “Tivemos muita dificuldade para retirá-los das ferragens”, recorda com tristeza.
Outra ocorrência que marcou Robalo, foi durante um incêndio na Rubra Refrigeração, onde hoje está instalado o Supermercado Lenz, da Tiradentes. Era madrugada e Robalo estava em casa quando ouviu a sirene dos bombeiros.
Assim que percebeu a movimentação do segundo veículo, logo se deslocou para a sede dos bombeiros. “O procedimento é este: quando dois veículos se deslocam até o local, já sabemos que a ocorrência é relevante. Neste caso, os plantonistas são acionados para dar apoio”, explica. “Desta vez, trabalhamos durante horas para conter o fogo e tivemos que chamar apoio da equipe de Santa Cruz do Sul”, conta.
O incêndio em um dos pavilhões da Venax também foi algo marcante. Segundo ele, as empresas também têm um plano de auxílio e, em situações mais graves, a maioria se mobiliza para ajudar. “Quando ocorreu o incêndio na Venax, a Alliance One armou uma linha de mangueiras, para chegar até lá, para conter o fogo”, comenta.
O bombeiro ressalta que o trabalho em equipe é fundamental na profissão. Em alguns casos, os militares precisam fazer um revezamento, até que a situação seja resolvida. “Há um tempo, queimou um pavilhão de fumo na Dimon do Brasil, onde hoje está localizada a Alliance One. O incêndio aconteceu durante a madrugada e tivemos que revezar entre os colegas para conter as chamas”, salienta.
INCÊNDIOS E ACIDENTES
O sargento Lisonir da Silva, 52 anos, bombeiro desde 1989, esteve ao lado Robalo na maioria das ocorrências. Uma das mais marcantes em que os dois militares trabalhavam em equipe foi durante um acidente de trânsito na RSC-287, envolvendo um micro-ônibus e um caminhão.
“Foi um verdadeiro cenário de guerra. Lembro que o micro-ônibus ia de Sobradinho a Porto Alegre para levar pacientes para uma consulta médica. Foram registrados oito óbitos no local e, em média, 15 pessoas ficaram feridas com gravidade”, recorda Silva.
De acordo com ele, os bombeiros trabalharam no resgate das 6h até o meio-dia. “Este acidente marcou muito para nós, pela característica e número de óbitos”, destaca. “Os incêndios com vítimas a gente sempre lembra, principalmente envolvendo crianças carbonizadas ou envolvidas em acidentes de trânsito”, complementa Robalo.
Uma das situações mais graves de incêndio lembradas por Silva ocorreu no bairro União. “Fomos acionados para conter o fogo na casa. Lembro que mãe e filha se trancaram no banheiro para se proteger do fogo e, infelizmente as duas faleceram. Uma delas, apresentou sérias queimaduras pelo corpo”, relembra Silva.

Equipamentos melhores, equipe reduzida: as mudanças em 30 anos
Nas últimas três décadas, muitas coisas mudaram na corporação. Logo que assumiu o cargo, o sargento Erasmo Pinto Robalo recorda que, na época, se utilizava moto esmeril, cunha hidráulica e alavancas para fazer o resgate.
Já o sargento Lisonir da Silva observa que, no início, os bombeiros não usavam roupas de aproximação (uniforme) adequadas. “Usávamos uma capa, que se parecia com tecido de lona, feita de material sem proteção contra o fogo.”
Eles recordam que, os equipamentos também eram bem pesados. “Até hoje, os equipamentos possuem um peso considerável, que equivale à metade do nosso peso”, afirma Robalo. De acordo com ele, para equipar um bombeiro com o básico, por exemplo, com calça, capa, capacete e luva se gasta em torno de R$ 10 mil. “Somando os equipamentos de cilindro de ar comprimido e máscara, a farda completa de um bombeiro atinge cerca de R$ 20 mil”, comenta.
Em relação à frota, inicialmente, a corporação contava com apenas um caminhão para realizar as ocorrências – utilizado até hoje pelos bombeiros. Atualmente, a 2ª Companhia dos Bombeiros conta com três viaturas de combate à incêndio, uma viatura de resgate, duas viaturas administrativas e uma caminhonete para atividades de Defesa Civil.
Em contrapartida, o quadro de efetivo era maior, antigamente. “Estima-se que na época o Corpo de Bombeiros contava com cerca de 40 militares, que faziam parte da Seção de Combate a Incêndio. Hoje, 24 compõem o quadro efetivo da 2ª Companhia de Bombeiros, sendo duas mulheres”, comenta Robalo. O número foi reduzido devido à reformulação do Corpo de Bombeiros e questões financeiras. Em contrapartida, no decorrer dos anos, o Corpo de Bombeiros evoluiu de pelotão – Seção de Combate a Incêndio – à 2ª Companhia de Bombeiros.
O prédio
– A sede do Corpo de Bombeiros foi inaugurada em 30 de dezembro de 1987 e permanece no mesmo local, na rua Jacob Becker, na esquina com a Emílio Selbach.
– Encabeçada pelo jornalista Wilson Weschenfelder, a construção do prédio do Corpo de Bombeiros mobilizou entidades e a comunidade venâncio-airense, na década de 1980. O prédio possibilitou a instalação dos bombeiros no município, já que, até então, a cidade era atendida por corporações de outros municípios.
– Em 2006, ocorreu a primeira reforma e ampliação de 80 metros quadrados. No ano passado, foi realizada mais uma reforma e ampliação de mais 80 metros quadrados.

