Para achá-lo, não tem erro. Basta começar contando do princípio e achar a casa ‘01’, na rua Voluntários da Pátria, em frente à escola Dois Irmãos. A numeração, aliás, não é por acaso. Ela foi, de fato, a primeira a ser construída na região do então Campo da Aviação (que merece uma história à parte), da rua Carlos Wagner ‘para cima’, ainda na década de 1970.
Ou também dá para perguntar pelo ‘Lasier Martins do bairro Aviação’. É provável que muitos conheçam Astor Normélio Frantz, 70 anos, por esse apelido. “Dizem que eu pareço”, comenta, gargalhando e ergue a boina para mostrar, segundo ele, “o que ainda resta de cabelo.”
A alcunha em comparação ao atual senador foi dada quando este ainda era comentarista político na RBS TV de Porto Alegre. Frantz lembra que quem começou a chamá-lo assim foi o amigo, já falecido, Erni Pitsch. O aposentado conta que até teve oportunidade de conversar com Martins há alguns anos e ele próprio brincou com a semelhança e o convidou para ir à capital e na TV decidirem ‘quem se parecia mais’.
Mas, para quem conhece Astor Frantz, sabe que sua fama vai além de uma possível semelhança física com o senador. O aposentado é muito conhecido por sua participação ativa no bairro onde mora há mais de 40 anos, onde viu tudo se formar e se erguer.
DOIS IRMÃOS
Entre as edificações que viu está a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dois Irmãos, da qual é vizinho de portão e onde os filhos estudaram. Não só presenciou, como ajudou. “Botei a mão nas primeiras pedras de alicerce.” Isso foi em 1978, no mesmo ano que ele foi morar na região. O carinho pela escola segue até hoje, onde faz de tudo, menos mexer na água e na luz.
Sua relação com a Dois Irmãos também está na origem do nome da escola. Astor Frantz conheceu muito bem os irmãos Alceu (já falecido) e Oly Costa, os doadores do terreno para a construção do colégio. “Vou seguido visitar o Oly, que segue firme, com mais de 90 anos. Sou eu quem pinta a casa dele”, revela.
A escolha certa depois da visita de um ‘jipão’
Foi em 16 de junho de 1978, poucos dias antes de a Argentina ser campeã do mundo disputando uma Copa em casa, que Astor Frantz, a esposa Marlene e suas três crianças se mudaram de São Martinho, no interior de Santa Cruz do Sul, para Venâncio Aires.
Com 29 anos, Astor vinha arriscar a vida em uma região ainda remota. “Era tudo campo e campo”, recorda o aposentado. Mas a mudança poderia ter acontecido ainda há mais tempo, em 1969.
Há 50 anos, representantes de uma imobiliária venâncio-airense tinham ido até São Martinho e passaram pela propriedade dos Frantz, oferecendo terrenos em Venâncio. “Eu e o pai na lavoura, daqui a pouco apareceu aquele jipão e a cachorrada latindo um monte.” A visita dos desconhecidos, num carro desconhecido, rendeu negócio e o patriarca dos Frantz, Fridolino, comprou oito terrenos ‘nos campos onde tinham aviões’ do município vizinho ao seu.
Passados 41 anos da mudança, Astor diz que foi a escolha certa. “Deus me colocou aqui e não troco por nada. Arrisco que 90% dos moradores da Aviação vieram do interior, como eu, e ajudaram a construir o bairro. Tudo gente boa. Tenho muito orgulho daqui.” A família segue perto e três irmãos dele moram próximo.

FAMÍLIA
1 Astor Frantz casou com Marlene, também hoje com 70 anos, em 1969. Isso quer dizer que em setembro próximo tem Bodas de Ouro. O casal morou em São Martinho, cultivando tabaco até 1978, quando ocorreu a mudança para Venâncio.
2 Com seis dias de nova morada, ele começou a trabalhar na Venax. Também passou pelo Curtume Closs e Móveis Projeto. Nesses anos todos, a esposa Marlene sempre ajudou, trabalhando de faxineira e costureira, profissão na qual atua até hoje. “Todas as decisões sempre tivemos juntos.” E juntos eles mantêm seu lazer: viajar para a praia todo ano e outros passeios com amigos.
3 Além dos filhos Gerson, Solange e Vanderlei, o casal tem quatro netos: Jonatas (pintor como o avô, ‘profissão’ de Astor desde que se aposentou, em 1996), Vanessa, Ismael e Mateus. Todos em belos porta-retratos na sala dos Frantz, com destaque para a bisneta Amanda, de dois anos e meio.

Música
Antes de ser o ‘Lasier Martins’ ou ficar conhecido no Aviação, Astor Frantz foi famoso nos palcos. Músico na juventude, integrou diversos grupos, entre eles Os Liderais, de Santa Cruz, como saxofonista. A carreira musical o fez viajar muito para Porto Alegre, Rolante, Taquara e Campo Bom, onde realizavam a maior parte dos shows. Às vezes ficavam três dias fora.
Hoje, olhando para a família, a música, talvez, esteja no sangue. Astor revelou que, tempos atrás, a bisneta Amanda já brincava com uma bateria. Mas ele prefere não arriscar. “Se ela vai puxar o bisavô? Não sei…”