Salão Liebstein: um local para diversão e renovação da fé

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“Passando pelo bairro Santa Tecla, vemos o velho Salão Liebstein agonizando, como alguém que pede carinho. E imaginar que tanta vida, ao longo de gerações, pulsou em seu interior. Bandinhas ali animaram as suas festas e aproximaram pessoas. Namorados ali se encontraram e noivos festejaram o seu casamento. Sociedades se perfilaram e empunharam suas bandeiras. Valsas e dobrados animaram os dançarinos e, por muitos anos, a vida no bairro gravitou ao seu redor. Foi ponto de encontro, foi ponto de dispersão. E até uma Comunidade Evangélica dele se serviu para se encontrar e celebrar a sua fé. Quem o conheceu, quem o frequentou, certamente vai guardá-lo com carinho em seu coração.”

É assim que o pastor Lair Hessel, da Comunidade Evangélica de Venâncio Aires, lembra do antigo Salão Liebstein, na rua Fernando Manoel Schwingel. O prédio que, mais recentemente abrigou o Salão do Beiçudo, foi um local tradicional pelas festas. Além disso, por pelo menos 30 anos, a Comunidade Evangélica sediou cultos no local.

De acordo com Hessel, o salão era de mantido por Frieda Liebstein, conhecida como Mutti, e, mais tarde, pela filha Silla Liebstein, ambas já falecidas. Entre os momentos marcantes realizados no local, ele cita o aniversário de Mutti Liebstein, comemorado em outubro. A festa era sempre em um domingo e começava com um culto de gratidão à Deus. “Tradicional era a foto com os vários filhos. Eram pessoas fortes, robustas – mas extremamente emotivas. Bastava eu falar as primeiras palavras e todos desandavam em choro compulsivo – ainda mais, como era o desejo da já idosa senhora, se eu falasse algumas palavras em alemão”, recorda.

Outro momento importante no salão era o culto da colheita, realizado em um sábado à tarde, no mês de junho ou julho. “Os membros da Comunidade Evangélica, moradores no bairro Santa Tecla, traziam as suas dádivas ao salão e as depositavam junto ao altar para agradecer a Deus pela colheita, pela vida, pela saúde, pelo trabalho realizado: frutas, verduras, rapaduras, trabalhos manuais, mel, guloseimas e belas flores, frutas e verduras também ornamentavam o altar”. Depois do culto as peças eram leiloadas.

O terceiro momento celebrativo importante ao longo do ano, citado pelo pastor, era o culto de Natal, quando, junto ao altar, era montado um pinheirinho e o presépio. Durante o culto, as crianças apresentavam pequenas peças natalinas e recitavam poesias esperando pelo Papai Noel, que trazia presentes e, para algumas crianças, além do presente, uma vara.

RECORDAÇÕES

O Salão Liebstein também sediou muitos encontros do grupo de Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase). O grupo foi formado em 1971 pelo pastor Huberto Kirchheim e esposa Marlene com o objetivo de encurtar distância e envolver de forma mais intensa as mulheres daquele bairro. “No dia do encontro da Oase, os homens que, costumeiramente, vinham jogar cartas no salão, tinham que fazê-lo do lado de fora, debaixo das árvores”, lembra Hessel.

Hilda Freese mora em frente ao antigo Salão Liebstein há mais de 60 anos (Foto: Cassiane Rodrigues/Folha do Mate)

Esses encontros também estão na memória de Hilda Freese, 94 anos, que mora na rua Fernando Manoel Schwingel, em frente ao Salão Liebstein, há cerca de 60 anos. Ela vivia com a família em Linha Arroio Grande e veio para a cidade para que os cinco filhos pudessem estudar.

Segundo Hilda, onde hoje há uma estrada de asfalto, na época era apenas um trilho, não tinha nem rua. Hilda recorda com carinho dos encontros da Oase, cultos e reuniões dançantes no Salão Liebstein. “O pastor Lair vinha, fazíamos chá da Oase e era muito bom.”

SALÃO DO BEIÇUDO

O empresário Juarez Becker, o Beiçudo, organizou festas por 7 anos no antigo salão Liebstein. No ‘Salão do Beiçudo’, toda semana tinha domingueira das 20h até a meia-noite. Devido ao Corpo de Bombeiros não liberar mais o Plano de Prevenção e Combate à Incêndio (PPCI), um ano e meio atrás ele precisou fechar a casa de festas.

Becker conta que chegava a lotar o salão com 400 pessoas. “O lugar tinha tradição de festas há mais de 50 anos”, diz. Beiçudo trocou de endereço, mas continuou na mesma rua. Em março deste ano, inaugurou o Clube Imperial, que fica na General Osório, do outro lado da rua do Posto Fórmula. “O público e o dia da festa mudou, mas estamos trabalhando a todo vapor conseguindo trazer muitas bandas boas”, afirma. Na nova casa, as festas são realizadas às sextas-feiras.

Bons tempos de Salão Liebstein

“Mutti e a filha Silla cuidavam com muito zelo do velho salão, como se fosse um filho delas. Mantinham tudo em ordem para que nada atrapalhasse quando a Comunidade Evangélica se reunia para celebrar. Na hora do culto, não se atendia ao balcão e também não se permitiam conversas laterais, nem no lado de fora e nem algazarra de criança. “Ordnung muss sein!”, dizia a Mutti, “ordem tem que ter!”. No local para venda de bebidas, Silla mantinha uma placa da Polar onde costumava escrever uma frase inspiradora. Por muito tempo deixou ali escrito, quem sabe, como inspiração para a sua própria vida: “Não digas para Deus que tens um grande problema. Mas diga para o teu problema que tens um grande Deus”. Assim, do seu jeito, Silla dava testemunho do Evangelho no seu salão.” (Por Pastor Lair Hessel)



Cassiane Rodrigues

Cassiane Rodrigues

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), atua com foco nas editorias de geral, conteúdos publicitários e cadernos especiais. Locutora da Rádio Terra FM, tem participação nos programas Terra Bom Dia, Folha 105 1° edição e Terra em Uma Hora.

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