Para quem já leu o livro Poliana, o título desta matéria é bastante familiar. O jogo do contente é uma estratégia que a personagem principal, Poliana, utiliza para encarar os desafios e extrair o que há de melhor no dia a dia.
Assim como o livro atravessa gerações – afinal, foi escrito em 1913, por Eleanor H. Porter -, o jogo do contente da Poliana também segue fazendo sucesso e ajuda a ter uma visão mais positiva. Nesta edição, mostramos o quanto ver o lado bom das coisas pode ajudar na nossa relação com as outras pessoas e nos motivar a seguir em frente. Para isso, destacamos um exemplo superlegal: o projeto do jogo do contente desenvolvido pela galera do 6º ano da Escola Estadual de Ensino Médio Frida Reckziegel, de Vila Palanque. Boa leitura!
Tchau, reclamação
Quando a professora Évelin Siebeneichler, 29 anos, percebeu que pequenas coisas eram motivo de reclamação para os alunos, resolveu propor para a turma do 6º ano da Escola Estadual de Ensino Médio Frida Reckziegel, de Vila Palanque, a leitura do livro Poliana. Toda sexta-feira, um período da aula de Língua Portuguesa é dedicado para a leitura em grupo.
Mais do que acompanhar as histórias de uma adolescente com a idade parecida com a deles e treinar a leitura, os estudantes conhecerem uma nova forma de ver as coisas: o jogo do contente. Por meio dele, Poliana busca encarar de forma positiva todas as situações. Mesmo em meio aos momentos mais tristes, ela identifica sempre algum motivo para ficar alegre.
A partir disso, Évelin estimulou os alunos para que criassem jogos do contente – jogos ‘de verdade’ para brincar com os amigos. O formato e os materiais utilizados foram definidos pelos próprios estudantes, que colocaram a criatividade em ação para confeccionar jogos de tabuleiro. A única regra obrigatória é que não se pode reclamar.
“O jogo é um símbolo para que eles possam praticar isso na vida. Muitas vezes, reclamar acaba sendo um hábito. É preciso buscar o otimismo nas pequenas coisas, ver o lado bom, para não pensar em desistir”, destaca a professora.
Jonathan Saldanha da Rosa, 13 anos, e Pietro da Silva Stenffens, 11 anos, criaram um tabuleiro de papelão, no qual o jogador avança as casas conforme o número do dado. Até alcançar a linha de chegada, o jogador passa por mensagens positivas e negativas, que fazem referência a situações do dia a dia: ‘Você ajudou sua mãe’, ande cinco casas; ‘Você acordou reclamando’, volte duas casas; ‘Você está com saúde’, ande quatro casas. “O jogo é bem legal porque a gente ajuda as pessoas a pensar em coisas boas”, afirma Jonathan.
Criatividade
Outro grupo que também usou a criatividade para elaborar o jogo foi o das colegas Karine Quadros, 12 anos, Amanda Medeiros, 11 anos, Gabrielly Santos Ayres, 12 anos, e Laura Grasiela Alves, 12 anos, cuja foto está na capa desta edição. Em vez das peças, elas criaram bonequinhas com os nomes de cada personagem do livro. A tabela e as peças do jogo foram feitas em ‘papelão’.
“Naturalmente, é comum reclamar, mas é preciso ver o lado positivo das coisas, ser otimista, para não desistir.”
Évelin Siebeneichler – Professora
“Às vezes, temos que andar para trás, mas não ficamos triste quando a gente não consegue ganhar”, afirma Karine. Amanda também gosta muito da brincadeira. “A gente se diverte e conversa com os amigos”, comenta.
Sai pra lá, baixo astral!
Reclamar de tudo e pensar negativo pode ser desconfortável tanto para quem vive aquela situação quanto para aqueles que estão ao redor. Segundo a neuropsicopedagoga Ana Silvia Hickmann da Rosa, o outro não tem culpa se você não está bem. “É preciso trabalhar a emoção para se reeducar. Todas as situações tem um lado legal, a dica é fazer do limão uma limonada”, comenta.
De acordo com a profissional, no momento que você trata as pessoas com bom humor, o universo conspira a seu favor. “A alegria gera tranquilidade, resiliência e paciência, e vai fazer com que a vida se torne mais leve”, orienta.
“A face carregada atrai o negativismo. Já a harmonia deixa a aura mais alegre e com mais cor.”
Ana Silvia Hickmann da Rosa – Neuropsicopedagoga
Para atingir o equilíbrio emocional é preciso repensar as próprias ações. Ana Silvia, que trabalha diretamente na área comportamental, afirma que os “jogos de emoções” são muito importantes neste aspecto. Segundo ela, se colocar no lugar do outro e perceber que os problemas da outra pessoa são ainda piores é muito importante para o autoconhecimento.
A profissional explica que, independentemente do jogo, ele é uma forma de aprendizagem: os jovens se deparam com problemas e aprendem a reverter a situação. “Eles aprendem a ganhar e a perder, a cooperar e não só a competir”, considera.