O sorriso é marca registrada da coordenadora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. Comunicativa e alegre, Alice Theis, 64 anos, deixou muitos vínculos nos mais de 40 anos dedicados à educação.
Moradora do bairro União há mais de 50 anos, é mãe de Gustavo, 39, e Mateus, 32, e veio para a cidade com a família na infância. Após um incêndio que atingiu os fornos de tabaco e a residência da família em Linha 17 de Junho, ela precisou vir com os pais e irmãos para a cidade recomeçar a vida.
Foi quando ainda menina Alice e os irmãos Márcio e Síria (já falecidos), Arcênio e Flávio, começaram a trabalhar para ajudar a pagar as despesas. “Nunca esqueço que eu era muito pequena então sentava numa lata para ajudar a embalar balas, eles pagavam por quilo”, recorda.
Aos 12 anos, foi trabalhar em um armazém, mas nunca deixou de estudar. A professora fez o primário na Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas e concluiu o ginásio no Colégio Nossa Senhora Aparecida, onde também cursou o Magistério.
A relação de Alice com o Colégio Nossa Senhora Aparecida começou ainda quando era estudante, mas após concluir os estudos começou a lecionar na escola, onde ficou por 25 anos. No educandário atuou como professora, orientadora educacional e coordenadora pedagógica. “Tenho muita gratidão àquela escola, pois foi lá que adquiri minha formação prática. Aprendi muito lá”, destaca.
DE VOLTA ÀS ORIGENS
No ano de 1982 Alice fez um concurso para a rede estadual e voltou às origens. Começou a atuar na Escola Estadual de Ensino Fundamental Léo João Fröhlich, em Linha 17 de junho, como orientadora, onde ficou até 1994. Depois disso, foi para a Escola Cônego Albino Juchem (CAJ), onde foi supervisora por nove anos e vice-diretora do turno da noite por oito anos. Concomitantemente à atuação na rede estadual de ensino, Alice continuava no Aparecida.
No ano de 2000 passou a atuar na Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Leontina, onde se aposentou como diretora em 2008. Desde então, trabalha com assessoria educacional para escolas e também secretarias municipais como Mato Leitão, Passo do Sobrado e Doutor Ricardo. Em 2009, assumiu como coordenadora pedagógica do município, onde permaneceu até 2014.
Depois disso, foi para o Colégio Professor José de Oliveira Castilhos, onde ficou até 2016, quando retornou para o cargo na Secretaria de Educação e permanece até hoje. “Eu participo também de palestras e assessorias tanto para professores quanto para pais”, diz.
ENSINO SUPERIOR
Alice é formada em Pedagogia e tem pós-graduação em Educação Psicomotora pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Durante um período também foi tutora do curso de Pedagogia da Faculdade Dom Alberto, em Santa Cruz do Sul, e professora dos cursos de pós-graduação em supervisão e educação especial.
Durante a trajetória, Alice trabalhou muito com adolescenes e nunca diretamente com a educação infantil. Lecionou disciplinas como História, Geografia, Ensino Religioso, Psicologia e Sociologia para alunos maiores. “Eu sempre gostei de trabalhar com adolescentes, hoje aqui atendo mais professores e família, o que também é muito importante”.
Atualmente, além da Secretaria Municipal de Educação, também presta assessoria para a Escola de Educação Infantil Reino Encantado. “Esse trabalho me enriquece muito também, tenho contato direto com os professores”, afirma.
VIAGENS
Nas horas vagas, o grande ‘hobby’ de Alice é viajar. Devido a rotina de muitas vezes três turnos de trabalho diariamente, não conseguiu conhecer os tantos lugares que tem vontade, mas tenta sempre passear quando pode. Aprecia muito ficar em casa com a família, ler e curtir o neto, Valentim, de sete meses. “Já passei por muitos momentos difíceis, mas sempre busquei ser feliz”, finaliza.
Os estudantes mudaram e professores precisam se adaptar
“Nem melhor, nem pior. São diferentes”. Alice fala sobre o quanto o perfil dos alunos mudou com o passar dos anos. Ela destaca como um ponto positivo é agora os estudantes se expressarem mais, dão suas opiniões sobre diferentes assuntos.
A educadora ressalta que os professores devem saber acompanhar as mudanças dos alunos, para agir da melhor forma e não se frustrar com a profissão. “A sociedade é outra, a família é outra e com isso o aluno é outro também. Não adianta o professor ficar com o saudosismo e não se atualizar”, reforça.
Alice diz ser fundamental o papel da educação para o desenvolvimento do indivíduo. Para muitos dos estudantes é somente na escola que eles se sentem reconhecidos, que sentem segurança para poder se expressar. “O professor e a escola fazem a diferença e o apoio da família é muito importante”.
35 anos como catequista
A professora se orgulha do tempo que dedicou como catequista. Foram 35 anos dedicados ao trabalho voluntário. No início, saia do bairro União onde morava e ia a pé até a Escola Leontina para passar seus conhecimentos. Também participou por cerca de três décadas da equipe de liturgia do bairro União, antes mesmo de ser criada formalmente a Comunidade Católica Santa Cecília. “Eu dava aulas de catequese na escola Odila Rosa Scherer e as missas também eram feitas lá até ser construída a capela”, lembra.
HOMENAGEM
A ONG Alphorria escolheu Alice Theis para receber o Troféu Mulher Ativista em Destaque. A entidade justifica a escolha por a educadora acreditar na seriedade do trabalho da ONG, prestigiar as ações e auxiliar na caminhada. Eles destacam também o posicionamento de justiça de Alice quando o assunto é igualdade de oportunidades.
Ela diz que ficou surpresa e lisonjeada com a homenagem. “Eu sou muito grata e fiquei realmente emocionada, foi um reconhecimento de um trabalho de muitos anos”.
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